Aldina Duarte - Quando se ama loucamente (2017)
Quando se ama loucamente (2017)
1. Conto de fadas / 2. Uma graça antiga / 3. Fora do mundo / 4. Quem me vê / 5. Beijo enganador / 6. Senhora dos meus passos / 7. Anjo azul / 8. Terra prometida / 9. Casa do esquecimento / 10. Refúgio / 11. No amor do teu nome / 12. Quando se ama loucamente / 13 Maria Gabriela Llansol (por João Barrento)
Conto De Fadas
Uma veste de marfim / Perfumada de jasmim / E debruada de renda / Uma fada sem voar / Passa as horas a sonhar / Perdida na sua lenda / Um fato de arlequim / Em vários tons de carmim / Com um chapéu engraçado / Um duende sem querer / A cantar para esquecer / A tristeza do seu fado / Na descida do telhado / A visão do elfo amado / Faz tremer a sua asa / Cai nos braços amparada / Ele sorri de mão beijada / No jardim da velha casa / Voavam juntos p'la serra / No rio, no mar e na terra / Enquanto a luar brilhava / Até que um dia esquecidos / Pelas flores adormecidos / A morte os dois separava
Cuento de hadas
Un ropaje de marfil / Perfumada de jazmín / Y velada con tules / Un hada sin volar / Pasa las horas soñando / Perdida en su leyenda / Un traje de arlequín / En varios tonos carmín / Con un gracioso tocado / Un duende sin querer / Que canta para olvidar / La tristeza de su fado / En la bajada del tejado / La visión del elfo amado / Hace que tiemble su ala / Cae en los brazos amparada / Ella sonríe cuando besan su mano / En el jardín de la vieja casa / Volaban juntos por la sierra / En el río, en el mar, en la tierra / Mientras la luz de la luna brillaba / Hasta que un día olvidados / Adormecidos por las flores / La muerte los separaba
Uma Graça Antiga
Aquela voz bem timbrada / Naquele olhar magoado /
Podia não ser mais nada / Mas tudo aquilo era fado / Caminhava distraído / Como
quem anda no céu / E quando havia um sentido / O seu destino era eu / Dançámos
com as estrelas / Andei descalça contigo / Cantámos pelas vielas / As rimas dum
fado antigo / A vida às vezes diz sim / Aos sonhos de quem não espera / Aquele
teu beijo sem fim / Foi a minha primavera
Una gracia antigua
Aquella voz bien timbrada / En aquel mirar herido /
Podía no ser nada más / Pero todo aquello era fado / Caminaba distraído / Como
quien anda por el cielo / Y cuando encontraba un sentido / Su destino era yo /
Danzamos con las estrellas / Anduve descalza contigo / Cantamos por callejuelas
/ Las rimas de un fado antiguo / A veces la vida dice sí / A los sueños de
quien no espera / Aquel beso tuyo sin fin / Fue mi primavera
Fora do Mundo
De manhã quando te oiço / Mais depressa me levanto
/ Atravesso o corredor / Que aproxima o nosso amor / Como o sol em cada canto /
Tardes inteiras contigo / Sinto-me fora do mundo / Tu e eu é fogo-posto / A
queimar todo o desgosto / No desejo mais profundo / Mil e uma noites sem ti /
Tantas vidas por viver / É tão falsa a despedida / Como a alça descaída / Que
endireitas sem querer / Nada disto tem retorno / Dizes tu sem aflição / Somos
dos na mesma dança / Enlaçados na lembrança / Perdidos no coração
Fuera del mundo
Por la mañana cuando te oigo / Me levanto más
deprisa / Atravieso el pasillo / Que aproxima nuestro amor / Como el sol en
cada esquina / Tardes enteras contigo / Me siento fuera del mundo / Tu y yo
somos fuego encendido / Para quemar todo disgusto / En el deseo más profundo /
Mil y una noches sin ti / Tantas vidas por vivir / Es tan falsa la despedida /
Como el tirante caído / Que levantas sin querer / Nada de esto tiene retorno /
Dices tú sin aflicción / Somos dos en la misma danza / Enlazados al recuerdo /
Perdidos en el corazón
Quem Me Vê
"Quem me vê é quem me tem" / Diz no libro que me
deste / Pelas páginas marcadas / As palabras sublinhadas / São promesas que
esqueceste / Entretanto na poesia / Sigo os passos do destino / Quem sabe se
qualquer dia / Noutra vida por magia / Eu te encontro ainda menino / Se de ti
me vou lembrando / Entre os versos quando canto / Não me importo que te cales /
Eu em mim sei o que vales / No enredo de meu espanto / Num presságio muito
antigo / Na fogueira arde o fogo / Se é verdade que me viste / Se o amor ainda
existe / Que o adeus seja até logo
Quien me ve
"Quién me ve y quién me tiene" / Pone en el libro que me diste / Por las páginas marcadas / Por las palabras subrayadas / Son promesas que olvidaste / Mientras tanto en la poesía / Sigo los pasos del destino / Quién sabe si cualquier día / En otra vida por magia / Yo te encuentre aún de niño / Si de ti me voy acordando / Entre los versos cuando canto / No me importa que te cales / Dentro de mí sé lo que vales / En el enredo de mi espanto / En un presagio muy antiguo / En la hoguera arde el fuego / Si es verdad que me viste / Si el amor aún existe / Que el adiós sea un hasta luego
Beijo Enganador
Desde sempre tu soubeste / Que eu não era a tua vida / Porque me foste beijar? / Nesse beijo que me deste, / Eu não vi a despedida, / Só o direito a sonhar. / Por isso, fiquei à espera, / Incapaz de acreditar / Que nunca mais voltarias. / Mas marchou a Primavera, / O Verão tardou a pasar, / Fizeram-se as noites frias. / E só então entendí / Que há quem escolha a sua sorte / E quem não possa escolher. / E foi já longe de ti / Que dessa espécie de morte / Tirei força para viver. / Foi pena que me beijasses, / Porque a ferida ainda arde, / Na boca e no coração. / E, mesmo que tu voltasses, / Um beijo dado mais tarde / Não apaga a solidão.
Beso engañador
Desde siempre tú supiste / Que yo no era tu vida / ¿Por qué me fuiste a besar? / En ese beso que me diste, / Yo no vi la despedida, / Sólo el derecho a soñar. / Por eso me quedé a la espera, / Incapaz de creer / Que nuca más volverías. / Pero se fue la primavera, / El verano tardó en pasar, / Las noches se hicieron frías. / Y sólo entonces comprendí / Que hay quien escoge su suerte / Y quien no la puede escoger. / Y me fui lejos de ti / Que de esa especie de muerte / Saqué fuerzas para vivir. / Fue una pena que me besases, / Porque la herida aún arde, en la boca y el corazón. / Y, aunque tú volvieses, / Un beso dado demasiado tarde / No apaga la soledad.
Senhora
Dos Meus Passos
Quem me
dera ser aquilo que não velho / Donde nascem as palabras prometidas / E ver um
anjo caído / Por ter esquecido / Vidas vencidas / Rasgo o manto das certezas /
Entre as coisas proibidas / Caminho pela estrada fora / Sem rumo nem perdição /
Apenas num instante / O meu amor errante / Traçado na tua mão / Eu aceito a minha
dor a quem não quer / Sangrar um coração em morte lenta / Eu poderia mentir / E
até fingir / Quem se lamenta / Na procura da verdade / Só o destino atormenta /
Caminho pela estrada fora / Sem rumo nem perdição / Apenas quero ser / Um corpo
sem querer / Feliz sem ter razão
Señora de mis pasos
Ojalá pudiera ser aquello que no veo / Donde nacen
las palabras prometidas / Y ver un ángel caído / Por haber olvidado / Vidas
vencidas / Rasgo el manto de las certezas / Entre las cosas prohibidas / Camino
fuera por la calle / Sin rumor ni perdición / Apenas en un instante / Mi amor
errante / Trazado en tu mano / Yo acepto
mi dolor a quien no quiere / Sangrar un corazón en muerte lenta / Yo podría
mentir / Y hasta fingir / Quien se lamenta / En busca de la verdad / Sólo el
destino atormenta / Camino fuera por la calle / Sin rumor ni perdición / Apenas
quiero ser / Un cuerpo sin querer / Feliz sin tener razón
Anjo Azul
Se a
mentira não nos vence / Nada nela nos conforta / É uma pedra que arrefece / No
degrau da nossa porta / Fizeste a sós o teu luto / Na sombra do nevoeiro /
Secaste a boca e o fruto / No teu rumor domingueiro / Traz o pão tal como
outrora / Abre o vino sobre a mesa / Um amor que também chora / Não se perde na
tristeza
Ángel azul
Si la mentira no nos vence / Nada en ella nos
conforta / Es una piedra que se enfría / En el escalón de nuestra puerta /
Llevaste a solas tu luto / En la sombra de la niebla / Secaste la boca y el
fruto / En tu rumor de domingo / Trae el pan tal como entonces / Abre el vino
sobre la mesa / Un amor que también llora / No se pierde en la tristeza
Terra
Prometida
Porque
enganas a tristeza / Quando a idade te pesa / E a culpa reaparece / No teu
olhar transparente / A verdade é indiferente / Ao teu corpo que envelhece /
Recusamos a mudança / Ao contrario da criança / Que insiste na descoberta /
Somos filhos do segredo / Criados para ter medo / De viver a vida incerta / Na
suprema servidão / Negaremos a paixão / E o amor é sacrificio / Quem nos vale à
nossa beira / Para encontrar a maneira / De voltar todo ao início / No silêncio
há mais vida / Que na terra prometida / A quem parece ter sorte / Há memorias
que se apagam / E outras que se alimentam / No esquecimento da morte
Tierra prometida
Porque engañas a la tristeza / Cuando la edad te
pesa / Y la culpa reaparece / En tu mirada transparente / La verdad es
indiferente / A tu cuerpo que envejece / Rechazamos el cambio / Al contrario
que los niños / Que insisten en descubrir / Somos hijos del secreto / Criados
para tener miedo / De vivir una vida incierta / En la suprema servidumbre /
Negaremos la pasión / Y el amor es sacrificio / Quien nos vale a nuestro lado /
Para encontrar la manera / De volver todo a su inicio / En el silencio hay más
vida / Que en la tierra prometida / A quien parece tener suerte / Hay memorias
que se apagan / Y otras que se alimentan / En el olvido de la muerte
Casa Do Esquecimento
Amei-te
com os laços da virtude / Prendi-me nos teus braços que beijei / Bebi no teu
olhar a juventude / À pele da tua boca murmurei / Impossível cantar a realidade
/ Do dia em que me disseste o que não digo / Matei dentro de mim toda a saudade
/ E tudo o que era teu ficou contigo / Um quarto, um agasalho, uma mesa / Os
restos pela casa do esquecimento / Num canto o desenho da tristeza / Lembranças
duma vida feita ao vento
Casa del olvido
Te amé con los lazos de la virtud / Me prendí a tus brazos que besé / Bebí en tu mirada la juventud / A la piel de tu boca murmuré / Imposible cantar la realidad / Del día en que me dijiste lo que no digo / Maté dentro de mí toda la saudade / Y todo lo que era tuyo se quedó contigo / Un cuarto, un abrigo, una mesa / Los restos por la casa del olvido / En un rincón el dibujo de la tristeza / Recuerdos de una vida hecha al viento
Refúgio
Passa-se
o tempo a correr / Enquanto a vida deixar / Esperamos como sempre / Que alguém
nos venha a salvar / Numa casa abandonada / Ronda a morte sem chorar / Do que
foi não ficou nada / Para quem parte e quer ficar / Não há ninguém / Na solidão
dos meus passos / E pouco a pouco os abraços / São a cruz do dia escuro / Virá
alguém / Matar de vez estas mágoas / Caminhando sobre as águas / Sem pasado e
sem futuro / Que o mar da nossa incerteza / Seja a força que nos cega / Quando
a terra nos despreza / E o céu nega a nossa entrega / No embalo da canoa /
Adormecem desvalidos / No som das ondas à toa / A voz dos corpos vencidos
Refugio
Pasa el tiempo corriendo / Cuando la vida le deja /
Esperamos como siempre / Que alguien venga a salvar / En una casa abandonada / Ronda
la muerte sin llorar / De lo que fue no quedó nada / Para quien parte y quiere
quedarse / No hay nadie / En la soledad de mis pasos / Y poco a poco los
abrazos / Son la cruz del día oscuro / Vendrá alguien / A matar de una vez
estas amarguras / Caminando sobre las aguas / Sin pasado y sin futuro / Que el
mar de nuestra incerteza / Sea la fuerza que nos ciega / Cuando la tierra nos
desprecia / Y el cielo niega nuestra entrega / En el mecer de la canoa /
Adormecen desvalidos / En el sonido de las ondas sin medida / La voz de los
cuerpos vencidos
No Amor
Do Teu Nome
Em nome da alegría as rosas não morreram / No muro arruinado à beira da estação / São elas neste dia as vozes que trouxeram / O nosso amor deitado aos pés do coração / À luz da nossa infancia contámos as estrelas / Na serra onde o luar aquece a flor-de-lis / Resistem na distancia as histórias mais belas / Ninguém há-de apagar um amor que foi feliz / Na árvore dos segredos os versos desfolhados / No principio do fim o som da despedida / Fantasmas e enredos pelos bosques cercados / No teu nome rompi as margens do pasado. Laudantium totam rem aperiam eaque ipsa quae ab illo inventore.
En el amor de tu nombre
En nombre de la alegría las rosas no murieron / En el
muro arruinado al lado de la estación / Son ellas en este día las voces que nos
trajeron / Nuestro amor acostado a los pies del corazón / A la luz de nuestra
infancia contamos las estrellas / En la sierra donde la luz de la luna caldea
la flor de lis / Resisten en la distancia las historias más bellas / Nadie ha
de borrar un amor que fue feliz / En los árboles de los secretos los versos
deshojados / En el principio del fin el sonido de la despedida / Fantasmas y
enredos por los bosques cercados / En tu nombre rompí las márgenes del pasado
Quando Se Ama Loucamente
Quando
se ama loucamente / Nada existe doutra forma / Tudo no seu peso incerto / Todo
o rasgo de um motivo / De olhos num sorriso aberto / Dando o corpo ao
esquecimento / Como um tronco na corrente / Quando o sangue corre à frente /
Não há corações ao alto / Vivos numa nuvem de éter / Rebolando pela estrada /
Embalados no cansaço / Poros desse espaço aberto / De quem ama loucamente /
Mesmo que o desejo abrande / Nunca se vai apagar / Nunca lhe ganaste o jogo /
Em todo este tempo / Não percas mais tempo a tentar
Cuando se ama locamente
Cuando se ama locamente / Nada existe de otra forma
/ Todo en su peso incierto / Todo el rasgo de un motivo / De los ojos en una
sonrisa abierta / Dándole el cuerpo al olvido / Como un tronco en la corriente
/ Cuando la sangre avanza al frente / No hay corazones en lo alto / Vivos en
una nube de éter / Moviéndose por la calle / Mecidos en el cansancio / Poros de
ese espacio abierto / De quien ama locamente / Aunque el deseo se ablande /
Nunca se va a apagar / Nunca le ganaste el juego / En todo este tiempo / No
pierdas más tiempo intentándolo
MARIA
GABRIELA LLANSOL por JOÃO BARRENTO
Eu nasci em 1931, no decurso silencioso de um poema. Só había tecidos espalhados pelo chão da casa, as crenças ingénuas de mina mãe. Estavam igualmente presentes as páginas que os leitores haveriam de tocar (como a uma pauta de música), apenas com o instrumento da sua voz. Eu fui profundamente desejada. Profundamente mal desejada e com amor.
-A voz está sozinha -disse minha mãe, ainda eu estaba no seu ventre a ler-me poesia.
-Não por muito tempo -responderam àquela que me iniciava na língua. E eu nasci na sequéncia de um ritmo.
Eu nasci para acompañar a sua voz, fazê-la percorrer um camino. De um lado ao outro do percurso, não sei o que existe, o camino caminha, eu deslumbro-me quando o tempo se suspende, e me permite parar a contemplar o espaço sem tempo.
Se vim para acompanhar a voz,
Irei procurá-la em qualquier lugar que fale,
montanha,
campo raso,
praça de cidade,
prega do céu conhecer o Drama-Poesia desta arte. Sentir como bate, num latido, na minha mão fechada. Como ao entardecer, solta tantas vezes um grito súbito: -Poema, que me vens acompanhar, por que me abandonaste?
-Como me pede que não oiça, nem veja, mas me deixe absorver, me deixe evoluir para pobre e me torne, ao seu lado, uma espécie de poema sem-eu.
Em silêncio e cega,
deixo que me dispa da claridade penetrante,
da claridade nova,
da claridade sem falha,
da claridade densa,
da claridade pensada,
me torne um fragmento completo do meu resto
para que
passem a clorofilia e a sombra da árvore.
MARIA
GABRIELA LLANSOL por JOÃO BARRENTO
Yo nací en 1931, en el transcurso silencioso de un poema. Sólo había tejidos esparcidos por el suelo de la casa, las creencias ingenuas de mi madre. Estaban igualmente presentes las páginas que los lectores habrían de tocar (como una partitura de música), apenas con el instrumento de su voz. Yo fui profundamente deseada. Profundamente mal deseada y con amor.
-La voz está sola -dijo mi madre, cuando aún yo estaba en su vientre y me leía poesía.
-No por mucho tiempo -respondieran a aquella que me iniciaba en la lengua. Yo nací en la secuencia de un ritmo.
Yo nací para acompañar su voz, hacerla recorrer un camino. De un lado a otro del recorrido, no sé qué existe, el camino camina, yo me deslumbro cuando el tiempo se suspende, y me permite parar a contemplar el espacio sin tiempo.
Si vine para acompañar la voz,
Iré a buscarla en cualquier lugar que hable,
montaña,
campo llano,
plaza de ciudad,
súplica del cielo conocer el Drama-Poesía de este arte. Sentir como bate, en un latido, en mi mano cerrada. Como al atardecer, suelta tantas veces un grito súbito: -Poema, que me vienes a acompañar, ¿por qué me abandonaste?
-Como me pide que no oiga, ni vea, pero me deje absorber, me deje transformar en pobre y me torne, a su lado, una especie de poema sin yo.
En silencio y ciega
dejo que me desnude de claridad penetrante,
de la claridad nueva,
de la claridad sin defecto,
de la claridad densa,
de la claridad pensada,
me torne un fragmento completo de mi resto
para que pasen la clorofila y la sombra del árbol.