Ana Moura - Desfado (2012)
Desfado (2012)
1. Desfado / 2. Amor afoito / 3. Até ao verão / 4. Despiu a saudade / 5. A case of you / 6. E tu gostavas de mim / 7. Havemos de acordar (featuring Tim Ries) / 8. A fadista / 9. Se acaso um anjo viesse / 10. Fado alado / 11. A minha estrela / 12. Thank You / 13. Como nunca mais / 14. Com a cabeça nas nuvens / 15. O espelho de Alice / 16. Dream of Fire(featuring Herbie Hancock) / 17. Quando o sol espreitar de novo
Desfado
Quer o destino que eu não creia no destino / E o meu fado é
nem ter fado nenhum / Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido / Senti-lo como
ninguém, mas não ter sentido algum / Ai que tristeza, esta minha alegria / Ai
que alegria, esta tão grande tristeza / Esperar que um dia eu não espere mais
um dia / Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente / Ai que saudade /
Que eu tenho de ter saudade / Saudades de ter alguém / Que aqui está e não
existe / Sentir-me triste / Só por me sentir tão bem / E alegre sentir-me bem /
Só por eu andar tão triste / Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu
pudesse" / E lamentasse não ter mais nenhum lamento / Talvez ouvisse no
silêncio que fizesse / Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro / Ai que
desgraça esta sorte que me assiste / Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada /
Na incerteza que nada mais certo existe / Além da grande incerteza de não estar
certa de nada
Desfado
Quiere el destino que yo no crea en el destino / Y mi fado es no tener fado ninguno / Cantarlo bien sin siquiera haberlo sentido / Sentirlo como nadie, pero sin tener sentido alguno / Ay, qué tristeza esta gran alegría mía / Ay, qué alegría de esta tristeza tan grande / Esperar que un día yo no espere más un día / Por aquel que nunca viene y que aquí estuvo presente / Ay, qué saudade / Que tengo de tener saudade / Saudade de tener a alguien / Que está aquí pero no existe / Sentirme triste / Sólo por sentirme tan bien / Y alegre sentirme bien / Sólo por estar tan triste / Ay, si yo pudiese no cantar: "ay, si yo pudiese" / Y lamentase no tener ningún lamento más / Tal vez escuchase en el silencio que se hiciese / Una voz que fuese mía cantando a alguien aquí dentro / Ay, qué desgracia, esta suerte que me asiste / Ay, más que suerte que yo viva tan desgraciada / En la incerteza de que nada más cierto existe / Más allá de la incerteza de no estar segura de nada
Amor afoito
Dou-te o meu amor / Se mo souberes pedir, tonto / Não me venhas com truques, pára / Já te conheço bem demais / Dou-te o meu amor / Sem qualquer condição, por ora / Mas terás que provar que vales / Mais que o que já mostraste ser / Se me souberes cuidar / Já sei teu destino / Li ontem a sina / A sorte nos rirá, amor / Se quiseres arriscar / Não temas a vida / Amor, este fogo / Não devemos temer / Dou-te o meu amor / Em troca desse olhar doce / Não resisto e tu tão bem sabes / Tenho raiva de assim ser / Tudo em mim amor / É teu, podes tocar, não mordo / Sabes bem que não minto, tonto / Meu mal é ter verdade a mais
Amor afoito
Te doy mi amor / Si me lo supieras pedir, tonto / No me vengas con triquiñuelas, detente / Ya te conozco demasiado bien / Te doy mi amor / Sin ninguna condición, por ahora / Pero tendrás que demostrar qué vales/ Más de lo que ya mostraste ser / Si me supieras cuidar / Ya sé tu sino / Leí ayer el destino / La suerte nos sonreirá, amor / Si te quisieras arriesgar / No temas a la vida / Amor, este fuego / No debemos temerlo / Te doy mi amor / A cambio de esa mirada dulce / No me resisto y tú lo sabes tan bien / Tengo rabia de ser así / Todo en mí, amor / Es tuyo, puedes tocar, no muerdo / Sabes que no miento, tonto / Mi mal es tener verdad de sobra
Até o verão
Deixei na primavera o cheiro a cravo / Rosa e quimera que
me encravam na memória / Que inventei /
E andei como quem espera / Pelo fracasso contra mazela em corpo de aço / Nas
ruelas do desdém / E a mim que importa se é bem ou mal / Se me falha a cor da
chama a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou não / Que me calhe a
vida / Insane e vossa em boda / Até ao verão / Deixei na primavera o som do
encanto / Riça promessa e sono santo / Já não sei o que é dormir bem / E andei
pelas favelas / Do que eu faço / Ora tropeço em erros crassos / Ora esqueço
onde errei / E a mim que importa / Se é bem ou mal / Se me falha a cor da chama
a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou não / Que me calhe a vida
insane e vossa em boda / Até ao verão / E a mim que importa / Se é bem ou mal /
Se me falha a cor da chama a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou
não / Que me calhe a vida insane e vossa em boda / Até ao verão / Deixei na
primavera o som do encanto
Hasta el verano
Dejé en la primavera el aroma a clavel / Rosa y quimera que se me clava en la memoria / Que inventé / Y anduve como quien espera / El fracaso contra la herida en un cuerpo de acero / En las callejuelas del desdén / Y a mí qué me importa si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Hasta el verano / Dejé en la primavera el sonido del encanto / Áspera promesa y sueño santo / Ya no sé lo que es dormir bien / Y anduve por las favelas / De lo que hago / Ahora tropiezo en errores macilentos / Ahora me olvido de en qué erré / Y a mí qué me importa / Si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Hasta el verano / Y a mí qué me importa / Si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Dejé en la primavera el sonido del encanto
Despiu a saudade
Despiu a saudade depois do jantar / Num prato já frio de tanto esperar / Aquele que bebe nos tascos da vida / Rodadas de amantes de tara perdida / E chega tão cheio de nada p'ra dar / Sacudiu o pó desse amor primeiro / Num canto guardado do seu coração / Aquele retrato parado no tempo / Que morde por fora, magoa por dentro / Num corpo vazio de tanta ilusão / Mas de repente como um sol depois da chuva / Surgiu a noite transformada em alvorada / Vai p'ró espelho, faz-se bonita / Lábios vermelhos, corpo de chita / Vestido na pressa de quem sai já atrasada / Brilho nos olhos, ar de menina / Livre e rainha, de tresloucada / Saltou p'rá lua, na minha rua na madrugada / Trago o coração à flor da boca / E a sina escrita na palma da mão / Foram tantos anos sem imaginar / O dia sonhado da noite mais louca / Nas ruas da vida com ela a dançar / Despiu a saudade / Sacudiu o pó
Desnudó la saudade
Desnudó la saudade después de comer / En un plato ya frío de tanto esperar / Aquel que bebe en las tabernas de la vida / Rodadas de amantes de peso perdido / Y llega tan lleno de nada para entregar / Sacudió el polvo de ese primer amor / En un rincón guardado de su corazón / Aquel retrato parado en el tiempo / Que muerde por fuera, que hiere por dentro / En un cuerpo vacío de tanta ilusión / Pero de repente, como un sol después de la lluvia / Surgió la noche transformada en amanecer / Va hacia el espejo, se pone bonita / Labios rojos, cuerpo de seda / Vestido con la prisa de quien sale ya con retraso / Brillo en los ojos, aire de niña / Libre y reina, desvariada / Saltó hacia la luna, en mi calle de madrugada / Traigo el corazón a flor de boca / Y el destino escrito en la palma de la mano / Fueron tantos años sin imaginar / El día soñado en la noche más loca / En las calles de la vida en que ella danza / Desnudó la saudade / Sacudió el polvo
E tu gostavas de mim
Aviões no céu a mil / Banda larga em Arganil / Argonautas,
foguetões / Fogos fátuos e neutrões / Nitro super combustão / Consta em Santa
Comba Dão / Dão-se destas situações / Milagres, aparições / Dava-se outro acaso
assim / E tu gostavas de mim / Pode um rebento em Belém / Ser filho mas só da
mãe / Multiplicação do pão / O Boavista campeão / Automóveis sem motor /
Motociclos a vapor / Se não tem divina mão / E acontece tudo em vão / Dava-se
outro acaso assim / E tu gostavas de mim / Lei e ordem no Brasil / Ciberespaço
em Contumil / Cães em naves espaciais / Microchips em cães normais /
Microsondas em Plutão / Dentro da televisão / Situações paranormais / Para nós
mais que banais / Não era pedir de mais / E tu gostavas de mim
Yo te gustaba
Aviones a mil en el cielo / Banda ancha en Argenil / Argonautas, cohetes / Fuegos fatuos y neutrones / Nitro súper combustión / Costa en Santa Comba Dão / Se dan estas situaciones / Milagros, apariciones / Se daría otro caso así / Que yo te gustase / Puede un retoño en Belén / Ser hijo sólo de la madre / Multiplicación del pan / El Boavista campeón / Automóviles sin motor / Motocicletas a vapor / Si no tiene mano divina / Y todo sucede en vano / Se daría otro caso así / Que yo te gustase / Ley y orden en Brasil / Ciberespacio en Contumil / Perros en naves espaciales / Microchips en perros normales / Microsondas en Plutón / Dentro de la televisión / Situaciones paranormales / Para nosotros más que banales / No sería pedir de más / Que yo te gustase
Havemos de acordar
Canto o fado pela noite dentro, ele trabalha todo o dia fora
/ Corre tão veloz o tempo e chega apressada a hora / Ele suspira, sonolento: ó
meu amor não vás embora / Feho os olhos pela noite fora, ele dorme pela noite
dentro / De manhã não se demora, veste um casaco e sai correndo / E ouve a
minha voz que implora: ó meu amor fica mais tempo / Eu hei-de inventar um fado,
um fado novo / Um fado que me embale a voz e me adormeça a cantar / Eu hei-de
ir nesse fado ao teu sonho / No meu sonho, e por fim sós, nele havemos de
acordar / Vou sonhando pelo dia fora, ele trabalha pelo dia dentro / Não sei o
que faz agora, mas ele talvez nese momento / Entre por aquela porta: ó meu amor
fica mais tempo / Canto o fado pela noite dentro, ele trabalha todo o dia fora
/ Já o sinto nos meus dedos como um eterno agora / Será esse o nosso tempo: ó
meu amor não vás embora
Tenemos que despertar
Canto el fado dentro de la noche, el trabaja fuera todo el día / Corre tan veloz el tiempo y llega apresurada la hora / Él suspira, somnoliento: ay, amor mía, no te marches / Cerro los ojos fuera de la noche, el duerme en el interior de la noche / Por la mañana no se retrasa, se pone una chaqueta y sale corriendo / Y escucha mi voz que implora: ay, amor mío, quédate más tiempo / Yo debo inventar un fado, un fado nuevo / Un fado que me acune la voz y me adormezca al cantar / Yo debo ir en ese fado a tu sueño / En mi sueño, y por fin solos, en él debemos despertarnos / Voy soñando fuera del día, él trabaja dentro del día / No sé qué hace ahora, pero él tal vez, en este momento / Entre por aquella puerta: ay, mi amor, quédate más tiempo / Canto el fado dentro de la noche, el trabaja fuera todo el día / Ya lo siento en mis dedos como un eterno ahora / Será ese nuestro tiempo: mi amor no te vayas lejos
A fadista
Vestido negro cingido / Cabelo negro comprido / E negro
xaile bordado / Subindo à noite a Avenida / Quem passa julga-a perdida / Mulher
de vício e pecado / E vai sendo confundida / Insultada e perseguida / P'lo
convite costumado / Entra no café cantante / Seguida em tom provocante / P'los
que querem comprá-la / Uma guitarra a trinar / Uma sombra devagar / Avança para
o meio da sala / Ela começa a cantar / E os que a queriam comprar / Sentam-se à
mesa a olhá-la / Canto antigo e tão profundo / Que vindo do fim do mundo / É
prece, pranto ou pregão / E todos os que a ouviam / À luz das velas pareciam /
Devotos em oração / E os que há pouco a ofendiam / De olhos fechado ouviam /
Como a pedir-lhe perdão / Vestido negro cingido / Cabelo negro comprido / E
negro xaile traçado / Cantando pra aquela mesa / Ela dá-lhes a certeza / De já
lhes ter perdoado / E em frente dela na mesa / Como em prece a uma deusa / Em
silêncio ouve-se o fado
La fadista
Vestido negro ceñido / Cabello negro largo / Y negro chal bordado / Subiendo por la noche la Avenida / Quien pasa la juzga perdida / Mujer de vicio y pecado / Y va siendo confundida / Insultada y perseguida / Por la clientela habitual / Entra en el café cantante / Seguida por el aire provocador / Por los que quieren comprarla / Una guitarra que trina / Una sombra lentamente / Avanza por el medio de la sala / Ella comienza a cantar / Y los que la querían comprar / Se sientan a la mesa a mirarla / Canto antiguo y tan profundo / Que venido del fin del mundo / Es súplica, llanto o pregón / Y todos los que la oían / A la luz de las velas parecían / Devotos en oración / Y los que hace poco la ofendían / Con los ojos cerrados escuchaban / Como pidiéndole perdón / Vestido negro ceñido / Cabello negro largo / Y negro chal gastado / Cantando hacia aquella mesa / Ella les da la seguridad / De haberles ya perdonado / Y enfrente de ella en la mesa / Como en súplica a una diosa / En silencio se oye fado
Se acaso um anjo viesse
O amor que nunca quis / Anda a ver se me convence / Que só
pode ser feliz / Quem a vida lhe pertence / Entreguei ao meu destino / Aquilo
que não conheço / Um sorriso pequenino / E uma lágrima num lenço / Se acaso um
anjo viesse / Baloiçar na minha cruz / Talvez ainda pudesse / Ficar aos pés de
Jesus / Mas a fé não tem medida / Nem o fado uma razão / Toda a vida que é
vivida / Dá mais vida ao coração
Si acaso viniese un ángel
El amor que nunca quise / Está viendo si me convence / De que sólo puede ser feliz / Quien a la vida pertenece / Entregué a mi destino / Aquello que no conozco / Una sonrisa pequeñita / Y una lágrima en un pañuelo / Si acaso viniese un ángel / A balancear mi cruz / Tal vez yo aún pudiese / Quedarme a los pies de Jesús / Pero la fe no tiene medida / Ni el fado una razón / Toda la vida que es vivida / Da más vida al corazón
Fado alado
Vou de Lisboa a São Bento / Trago o teu mundo por dentro /
No lenço que tu me deste / Vou do Algarve ao Nordeste / Trago o teu beijo
bordado / Sou um comboio de fado / Levo um amor encantado / Sou um comboio de
gente / Sou o chão do Alentejo / De ferro é o meu beijo / Tão quente como a
liberdade / E se não trago saudade / É porque vives deitado / Num amor que não
está parado / Sou um comboio de fado / Sou um comboio de gente / Não há amor
com mais tamanho / Que este amor por ti eu tenho / Voo de pássaro redondo / Que
não aporta no beiral / Não há amor que mais me leve / Que aquele em que se
escreve / Ai... lume brando, paz e fogo / E a luz final / Desço do Porto ao
Rossio / Levo o abraço do rio / Douro, amante do Tejo / Nos ecos dum realejo /
Chora minha guitarra / Trazes-me a paz da cigarra / Num desencontro encontrado
/ Sou um comboio de fado / Se for morrer a Coimbra / Traz-me da luz a penumbra
/ Do amor que nunca se fez / Corre-me o sangue de Inês / Mostra-me um soho
acordado / Somos um povo alado / Um povo que vive no fado / A alma de ser
diferente
Fado alado
Voy de Lisboa a São Bento / Traigo tu mundo por dentro / En el pañuelo que me diste / Voy del Algarve al nordeste / Traigo tu beso bordado / Soy un tren de fado / Llevo un amor encantado / Soy un tren de gente / Soy el suelo del Alentejo / De hierro es mi beso / Tan caliente como la libertad / Y si no trago saudade / Es porque vives acostado / En un amor que no está parado / Soy un tren de fado / Soy un tren de gente / No hay amor con mayor tamaño / Que este amor que por ti tengo / Vuelo de pájaro redondo / Que no arriba al voladizo / No hay amor que más me lleve / Que aquel en que se escribe / Ay... lumbre blanda, paz y fuego / Y la luz final / Bajo de Porto a Rossio / Llevo el abrazo del río / Duero, amante del Tajo / En los ecos de un organillo / Llora mi guitarra / Me traes la paz de la cigarra / En un desencuentro encontrado / Soy un tren de fado / Si fuese a morir a Coimbra / Tráeme de la luz la penumbra / Del amor que nunca se hizo / Me corre sangre de Inés / Muéstrame un sueño recordado / Somos un pueblo alado / Un pueblo que vive en el fado / El alma de ser diferente
A minha estrela
No azul silento do céu / Brilha uma estrela sozinha / Com
certeza que é minha / Tão sozinha como eu / Cansada de mendigar / A esmola de
um olhar teu / Foi meus olhos repousar / No azul silento do céu / No firmamento
sem fim / Que a mão de Deus encaminha / Talvez com pena de mim / Brilha uma
estrela sozinha / A sua luz lembra bem / A que dos teus olhos vinha / Mas a
constância que tem / Com certeza que é minha / Passo as noites a revê-la / Na
graça que Deus lhe deu / Ando presa a essa estrela / Tão sozinha como eu
Mi estrella
En el azul silente del cielo / Brilla una estrella solita / Con seguridad es mía / Tan solita como yo / Cansada de mendigar / La limosna de una mirada tuya / Fui a descansar mis ojos / En el azul silente del cielo / En el firmamento sin fin / Que la mano de Dios encamina / tal vez con lástima por mí / Brilla una estrella solita / Su luz recuerda bien / La que de tus ojos venía / Pero la constancia que tiene / Con seguridad es mía / Paso las noches remirándola / En la gracia que Dios le dio / Estoy presa de esa estrella / Tan solita como yo
Como nunca mais
Saudade, vá, entra à vontade / Porque eu já esperava que
fosses voltar / Com esses teus olhos tão verdes / Falando de esperança para me
tentar / Saudade, senta-te à vontade / E dá-me notícias que trazes de alguém /
Passado, porque tudo passa / E até tu, saudade, vais passar também / Não há
dois dias / Nunca iguais / E eu quero viver cada dia / Como nunca mais / É bem
possível que amanhã / Ainda me peças para voltar atrás / Mas ouve, o que
passou, passou / Nada se repete, para mim tanto faz / É bem possível que outro
amor / Cresça em mim em flor da cor do jasmim / O improvável acontece / E até
tu, saudade, vais chegar ao fim
Como nunca mais
Saudade, venga, entra según quieras / Porque yo ya esperaba que ibas a volver / Con esos ojos tuyos tan verdes / Hablando de esperanza para tentarme / Saudade, siéntate a tu antojo / Y dame las noticias que traes de alguien / Pasado, porque todo pasa / Y hasta tú, saudade, vas a pasar también / No hay dos días / Nunca iguales / Y yo quiero vivir cada día / Como nunca más / Es muy posible que mañana / Me pidas aún volver atrás / Pero escucha, lo que pasó, pasó / Nada se repite, para mí tanto da / Es bien posible que otro amor / Crezca en mí en flor del color del jazmín / Lo improbable sucede / Y hasta tú, saudade, vas a llegar al fin
Com a cabeça nas nuvens
Com a cabeça nas nuvens / Passo a vida meia tonta / Sempre a
pensar que tu vens / Num jogo de faz-de-conta / Atiro raios, trovejo / Das
nuvens onde me crês / Se cá do alto te vejo / Porque é que tu não me vês? /
Ainda perco o juízo / Solto o olhar, de águas, farto / Ou estilhaço com granizo
/ As vidraças do teu quarto / Então atiro-me ao espaço / Desço pela luz da lua
/ Acordo-te num abraço / Dou-me de corpo e alma nua
Con la cabeza en las nubes
Con la cabeza en las nubes / Paso la vida medio boba / Pensando siempre que tú vienes / En un juego de simulación / Lanzo rayos, trueno / Desde las nubes en que me crees / Si desde aquí alto te veo / ¿Por qué tú no me ves? / Todavía pierdo el juicio / Suelto la mirada, de aguas, harta / O golpeo con granizo / Los ventanales de tu cuarto / Entonces me lanzo al espacio / Bajo por la luz de la luna / Me despierto en un abrazo / Me entrego de cuerpo y alma desnuda
O espelho de Alice
Acordo e olho o espelho: / Percebo um sorriso velho / E um
olhar abandonado / O coração é velhice / E na loucura de Alice / Vejo-me no
outro lado / Da esperança resta-me o medo / A minha vida, um segredo / Que vê o
mundo ao contrário / Todas as coisas são estranhas / Todas as dores são
tamanhas / E eu o seu inventário / Deixei para trás o juízo / Confundo o choro
e o riso / O direito com o avesso / Mas na louca lucidez / Eu sei que esta é a
vez / Em que o fim é recomeço
El espejo de Alicia
Me despierto y miro el espejo: / percibo una sonrisa vieja / Y un mirar abandonado / El corazón es la vejez / Y en la locura de Alicia / me veo en el otro lado / De la esperanza me queda el miedo / Mi vida, un secreto / Que ve el mundo al contrario / Todas las cosas son extrañas / Todos los dolores tamaños / Y yo su inventario / Dejé atrás el juicio / Confundo el llanto y la risa / El derecho con el revés / pero en la loca lucidez / Yo sé que esta es la vez / En que el final es reinicio
Quando o sol espreitar de novo
Quis ser feliz / Eu sei que sempre quis alguma coisa / E
jamais eu fui capaz de perder com o silêncio / Depressa mudo e só depois dou
conta / De arrasto na verdade que me pega / E só passado tempo / Depois de
guerras minhas / Encontro o chão deserto / Não é, não é, não é nada / Sou
apenas eu não entendendo tudo / Meu amor, não é mesmo nada / Não há razão / Um
não já é razão de sobra / E eu nem vou sequer tentar lutar com o desejo /
Depressa o tempo passa e algo muda / Escondido nos segundos mais discretos / E
só chegado o tempo / Depois de coisas minhas / Encontro o céu aberto / Ainda
espero ver-te a meu lado / Quando o sol espreitar de novo
Cuando el sol asome de nuevo
Quise ser feliz / Yo sé que siempre quise alguna cosa / Y jamás fui capaz de perder con el silencio / Cambio deprisa y sólo después me doy cuenta / De la red en la verdad que me retiene / y sólo pasado el tiempo / Después de mis guerras / Encuentro el suelo desierto / No hay, no hay, no hay nada / Apenas existo y no lo entiendo todo / Mi amor, no es igual a nada / No hay razón / Uno ya es razón de sobra / Y yo ni voy siquiera a intentar luchar contra el deseo / Pasa deprisa el tiempo y algo cambia / Escondido en los segundos más discretos / Y sólo pasado el tiempo / Después de mis cosas / Encuentro el cielo abierto / Aún espero a verte a mi lado / Cuando el sol despunte de nuevo