Ana Moura - Para além da saudade (2007)
Para além da saudade (2007)
1. Os Búzios / 2. E
Viemos Nascidos Do Mar / 3. A
Voz Que Conta A Nossa História / 4. Águas Do Sul / 5. O
Fado Da Procura / 6.
Rosa Cor De Rosa / 7.
Primeira Vez / 8. Não
Fui Eu / 9. Mapa Do Coração / 10. Aguarda-te Ao Chegar / 11. Até Ao Fim Do Fim / 12. Fado Das Horas Incertas / 13. Vaga, No Azul Amplo
Solta / 14. Velho Anjo / 15. A Sós Com A Noite /
Os búzios
Havia a solidão da prece no olhar triste / Como
se os seus olhos fossem as portas do pranto / Sinal da cruz que persiste, os
dedos contra o quebranto / E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto
/ À espreita está um grande amor mas guarda segredo / Vazio tens o teu coração
na ponta do medo / Vê como os búzios caíram virados p'ra norte / Pois eu vou
mexer o destino, vou mudar-te a sorte / Havia um desespero intenso na sua voz /
O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós / A velha agitava o lenço,
dobrou-o, deu-lhe dois nós / E o seu padre santo falou usando-lhe a voz
Las caracolas
Había soledad de súplica en la mirada triste / Como si sus ojos fuesen las puertas del llanto / Señal de cruz que persiste, los dedos contra el quebranto / Y las caracolas que la vieja lanzaba sobre un viejo manto / A la espera está un gran amor, pero guarda el secreto / Vacío tienes tu corazón al límite del miedo / Mira como las caracolas cayeron vueltas hacia el norte / Pues voy a intervenir en tu destino, voy a cambiarte la suerte / Había una desesperación intensa en su voz / El cuarto olía a incienso, pero puso otros cuantos / La vieja agitaba el pañuelo, lo dobló, hizo dos nudos / Y a su padre santo habló usando su voz
E viemos nascidos do mar
E muito se espantam da nossa brancura entretanto / E muito pasmavam de olhar olhos claros assim / Palpavam as mãos e os braços e outras partes, portanto / Esfregavam de cuspo minha pele para ver se era enfim / Uma tinta ou se era de estampa uma carne tão branca / Vendo assim que era branco o meu corpo e a brancura de então / Extasiam e muito se pasmam de tudo em admiração / E eram os brancos da sombra nascidos do mar pelas naus / Guiados pelos ventos do céu e pelo voo das aves / Eles escondem as suas vergonhas cobertas de estopas / E eram grandes e gordos e baços e enxutos, os pretos / Pelas ventosidades confundem traseiros e bocas / E tapam estes e estas cobram calafetos / E os mais pardos lá vão quase nús, vão ao léu, gabirus / E de tetas até à cintura há mulheres crepitantes / Tão desnudas meneiam na dança o seu corpo dançante / E eram os brancos da sombra nascidos do mar pelas naus / Guiados pelos ventos do céu e pelo voo das aves / E muito se espantam da nossa brancura entretanto
Y procedemos del mar
Y se espantan mucho de nuestra blancura entretanto / Y se pasmaban mucho de mirar ojos claros así / Palpaban las manos y los brazos y otras partes por lo tanto / Frotaban con saliva mi piel para ver si era, en fin / Una tinta o si era de estampa una carne tan blanca / Viendo así que era blanco mi cuerpo y la blancura de entonces / Se extasían y se pasman mucho de todo en admiración / Y eran los blancos de la sombra nacidos del mar por las naves / Guiados por el viento del cielo y por el vuelo de las aves / Ellos esconden sus vergüenzas cubiertos de estopa / Y había grandes y gordos y mates y enjutos, los negros / Por las ventosidades confunden traseros y bocas / Y tapan estos y estas cubriéndose con calafate / Y los más pardos van allí casi desnudos, van sin sombrero, gallardos / Y de las tetas hasta las cinturas hay mujeres crepitantes / Menean tan desnudas en la danza su cuerpo danzante / Y eran los blancos de la sombra nacidos del mar por las naves / Guiados por el viento del cielo y por el vuelo de las aves / Y se espantan mucho de nuestra blancura entretanto
A voz que conta a nossa história
Amiga no meu peito, as horas dormem / Num compassar dolente e sossegado / Seduz a minha alma uma voz de homem / Que ao longe entoa triste um triste fado / Como se aquela voz entristecida / Contasse a nossa história a toda a gente / Cada quadra parece ser escolhida / Do amor que quer doer lentamente / E enquanto eu não reclamo a dor dos dias / Em que me afundo a sós nesta memória / O frio das noites frias e vazias / Só cabe a voz que conta a nossa história
La voz que cuenta nuestra história
Amiga, en mi pecho, las horas se duermen / En un acompasarse doliente y sosegado / Seduce mi alma una voz de hombre / Que de lejos entona triste un triste fado / Como si aquella voz entristecida / Contase nuestra historia a toda la gente / Cada párrafo parece ser escogido / Del amor que quiere doler lentamente / Y como yo no reclamo el dolor de los días / En que me sumerjo a solas en esta memoria / El frío de las noches frías y vacías / Sólo cabe la voz que cuenta nuestra historia
Águas do sul
Escurece o azul / Está negro o céu / Águas do sul / Nunca assim choveu / Passar a ponte / Noite serrada / Água da fonte, turva enlameada / Rosário triste nas mãos do crente / Deus guarde a sorte da gente / Esquiva-se a luz dos meus faróis / Passa-me a cruz, vida quanto dóis / Velho sinal curva apertada / Vê-se tão mal, na estrada molhada / Sorriso triste, ai de quem não mente / Deus guarde a sorte, da gente / Cedi aos medos fugi à dor / Por entre os dedos fugiste-me amor / Leve embaraço não fere ninguém / Fundo cansaço reduz o prazer / Que noite triste, penso de repente / Deus guarde a sorte da gente / Deus guarde a sorte da gente / Deus guarde a sorte a sorte da gente
Aguas del sur
Oscurece el azul / Está negro el cielo / Aguas del sur / Nunca llovió así / Pasar el puente / Noche cerrada / Agua de la fuente, turbia enlodada / Rosario triste en las manos del creyente / Dios guarde la suerte de la gente / Huye la luz de mis faroles / Me pasa la cruz, vida, cuánto dueles / Vieja señal, curva cerrada / Se ve tan mal en la carretera mojada / Sonrisa triste, ay de quien no miente / Dios guarde la suerte de la gente / Cedí a los miedos, huí del dolor / Por entre los dedos huiste, mi amor / Leve obstáculo no hiere a nadie / Hondo cansancio reduce el placer / Qué noche triste, pienso de repente / Dios guarde la suerte de la gente / Dios guarde la suerte, la suerte de la gente
Fado da procura
Mas porque é que a gente não se encontra? / No largo da Bica fui te procurar / Campo de Cebolas e eu sei te encontrar / Eu fui mesmo até à casa de fado / Mas tu não estavas em nenhum lado / Mas porque é que a gente não se encontra? / Mas porque é que a gente não se encontra? / Já estou sem saber o que hei de fazer / Se seguir em frente, ai madre de Deus / Se voltar a trás, ai Chiados meus / E o rio diz: que tarde infeliz / Mas porque é que a gente não se encontra? / Mas porque é que a gente não se encontra? / Já estou farta disto, farta de verdade / Vou beber a bica, sentar e pensar / Ver se esta saudade, ai fica ou não fica / E talvez sem quer, não querem lá ver / Sem te procurar te veja passar / Sem te procurar te veja passar
Fado da procura
Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / En el Largo da Bica te fui a buscar / En el Campo de Cebolas te voy a encontrar / Yo fui hasta la casa de fado / Pero tú no estabas en ningún lado / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Ya estoy sin saber lo que debo hacer / Si seguir de frente, ay, Madre de Dios / Si volver atrás, ay Chiados míos / Y el río dice: ¡Qué tarde infeliz! / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Ya estoy harta de esto, harta de verdad / Voy a beber al caño, sentarme a pensar / Ver si esta saudade se queda o no se queda / Y tal vez sin querer, no quieran verla allí / Y sin buscarte te vea pasar / Sin buscarte te vea pasar
Rosa cor de rosa
Rosa, rosa cor-de-rosa flor / A florir os meus cuidados / Sobra-me a dor, sobra-te a cor / P'ra cumprir meus fados / Sobra-me a dor, sobra-te a cor / P'ra cumprir meus tristes fados / Rosa, rosa cor-de-rosa traz / A saudade apetecida / Fico-me a trás, roubo-te a paz / Se te roubar a vida / Fico-me a trás, roubo-te a paz / Se te roubo um dia a vida / Rosa, rosa cor-de-rosa enfim / Quando a cor se desvanece / Eu sei de ti, sabes de mim / Quando amor acontece / Eu sei de ti, sabes de mim / Quando amor nos acontece / Rosa, rosa cor-de-rosa tens / No teu pé a sede de água / Não sei que tens, nem de onde vens / Cuida a minha mágoa / Não sei que tens, nem de onde vens / Cuida bem a minha mágoa
Rosa cor de rosa
Rosa, rosa color de rosa, flor / Floreciendo mis cuidados / Me sobra el dolor, te sobra el color / Para cumplir mis fados / Me sobra el dolor, te sobra el color / Para cumplir mis tristes fados / Rosa, rosa color de rosa trae / La saudade apetecida / Me quedo atrás, te robo la paz / Si te robara la vida / Me quedo atrás, te robo la paz / Si te robo un día la vida / Rosa, rosa color de rosa, finalmente / Cuando el color se desvanece / Cuando el amor nos sucede / Rosa, rosa color de rosa tienes / En tu pie la sed de agua / No sé qué tienes, ni de dónde vienes / Cuida de mi amargura / No sé qué tienes, ni de dónde vienes / Cuida bien de mi amargura
Primeira vez
Primeiro foi um sorriso / Depois quase sem aviso / É que o beijo aconteceu / Nesse infinito segundo / Fora de mim e do mundo / Minha voz emudeceu / Ficaram gestos suspensos / E os desejos imensos / Como poemas calados / Teceram a melodia / Enquanto a lua vestia / Nossos corpos desnudados / Duas estrelas no meu peito / No teu meu anjo perfeito / A voz do búzio escondido / Os lençóis ondas de mar / Onde fomos naufragar / Como dois barcos perdidos
Primera vez
Primero fue una sonrisa / Después casi sin aviso / Se hizo realidad el beso / En ese infinito segundo / Fuera de mí y del mundo / Mi voz enmudeció / Quedaron gestos suspensos / Y los deseos inmensos / Como poemas callados / tejieron la melodía / En cuanto la luz vestía / Nuestros cuerpos desnudados / Dos estrellas en mi pecho / En el tuyo mi ángel perfecto / La voz de la caracola escondida / Las sábanas olas del mar / Donde fuimos a naufragar / Como dos barcos perdidos
Não fui eu
O Cristo inerte preso à cruz / A luz da vela que o reduz / Á sombra triste na parede entrecortada / Dos lábios solta-se indulgente / A pressa inútil do não crente / Entre palavras que por si não dizem nada / Não fui eu, não fui eu / Não deixei a porta aberta / Não fui eu, não fui eu / Ficou-me a casa deserta / Ah como fugidiu rumor / De passos que no corredor / Induzem na minha alma / A dor da esperança vã / Sinais do tempo a humedecer / A voz que teima em enroquecer / E o corpo dorido pela noite no divã / Não fui eu... / Como esta febre me destroí / Perdido amor quanto me doi / Desceste em mim cruel manto de tristeza / Em cada noite morre o amor / Que a solidão faz-se maior / Mal amanhece e volta o medo que anoiteça
No fui yo
El Cristo inerte prendido a la cruz / La luz de la vela que lo reduce / A sombra triste en la pared entrecortada / De los labios se suelta indulgente / La prisa inútil del no creyente / Entre palabras que por sí no dicen nada / No fui yo, no fui yo / No dejé la puerta abierta / No fui yo, no fui yo / Quedó mi casa desierta / Ay, como huyó el rumor / De pasos que en el pasillo / Inducen en mi alma / El dolor de la esperanza vana / Señales de un tiempo que se humedece / La voz que insiste en enronquecer / Y el cuerpo dolorido por la noche en el diván / No fui yo... / Cómo me destruye esta fiebre / Perdido amor, cuánto me duele / Bajaste a mí, cruel manto de tristeza / En cada noche muere el amor / Que la soledad se hace mayor / Y apenas amanece vuelve el miedo a que anochezca
Mapa do coração
Não há vocábulo maior / Nem força do universo / P'ra traduzir esse verso / Que confunde amor e dor / Albergue de quem é triste / Fortuna do condenado / Que vê no espelho do fado / A alma que em si existe / Queria poder dizer / O que essa voz me diz / Estrela de um dia feliz / Ou de um doce entristecer / Fica-me a louca missão / Desejo mais ousado / De puder cantar num fado / O mapa do coração
Mapa del corazón
No hay vocablo mayor / Ni fuerza del universo / Para traducir este verso / Que confunde amor y dolor / Albergue de quien es triste / Fortuna del condenado / Que ve en el espejo del fado / El alma que en sí existe / Quería poder decir / Lo que esa voz me dice / Estrella de un día infeliz / O de un dulce entristecer / Me queda la loca misión / Deseo más osado / De poder cantar en un fado / El mapa del corazón
Aguarda-te ao chegar
Calas-me a voz, voz do olhar / Sinto que o tempo, tarda em chegar / Distante ausente, sinto apertar / O peito ardente por te encontrar / Na minha alma, que anseia urgente / Pelo momento de ter-te presente / Pelo infinito estendo os meus olhos / Num mar de mil desejos, aguarda-te ao chegar / Encho a minha taça vazia com perfumes de poesia / Bebo a saudade amarga e fria e então adormeço ao luar / Calas-me a voz, p'ra lá do tempo / Estrelas que caem por um lamento / Espuma na areia solta no vento / O meu silêncio meu sentimento / Em minha alma que chora vazia / Por um momento se acende a magia / Pelo infinito estende o meu sorriso / Num mar azul de sonhos, acorda-me ao chegar / Encho a minha taça ardente, com incenso doce e quente / Sirvo de beber a alegria que sinto ao ver-te a chegar / Calas-me a voz / Em minha alma que chora vazia / Por um momento se acende a magia / P'lo infinito estende os meus olhos / Um mar de mil desejos aguarda-te ao chegar / Aguarda-te ao cegar
Te espera al llegar
Me callas la voz, voz del mirar / Siento que el tiempo, tarda en llegar / Distante ausente, siento acercar / El pecho ausente para encontrarte / En mi alma, que ansía urgente / Por el momento de tenerte presente / Por el infinito extiendo mis ojos / En un mar de mil deseos, te aguarda al llegar / lleno mi copa vacía con perfumes de poesía / bebo la saudade amarga y fría y entonces me adormezco a la luz de la luna / Me callas la voz, más allá del tiempo / estrellas que caen por un lamento / Espuma en la arena suelta en el viento / Mi silencio es mi sentimiento / En mi alma que llora vacía / Por un momento se enciende la magia / Por el infinito extiendo mi sonrisa / En un mar azul de sueños, despiértame al llegar / Lleno mi copa ardiente con incienso dulce y caliente / Sirvo de beber a la alegría que siento al verte llegar / Me callas la voz / En mi alma que llora vacía / Por un momento se enciende la magia / Por el infinito extiendo mis ojos / un mar de mil deseos te espera al llegar / Te espera al llegar
Até ao fim do fim
Então está tudo dito meu amor / Por favor não penses mais em mim / O que é eterno acabou connosco / E este é o principio do fim / Mas sempre que te vir eu vou sofrer / E sempre que te ouvir eu vou calar / Cada vez que chegares eu vou fugir / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Então está tudo dito meu amor / Acaba aqui o que não tinha fim / P'ra ser eterno tudo o que pensamos / Precisava que pensasses mais em mim / P'ra ti pensar a dois é uma prisão / P'ra mim é a única forma de voar / Precisas de agradar a muita gente / Eu por mim só a ti queria agradar / Mas sempre que te vir eu vou sofrer / E sempre que te ouvir eu vou calar / Cada vez que chegares eu vou fugir / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar
Até ao fim do fim
Entonces está todo dicho, mi amor / Por favor, no pienses más en mí / Lo que es eterno acabó con nosotros / Y este es el principio del fin / Pero siempre que te vea voy a sufrir / Y siempre que te escuche voy a callar / Cada vez que llegues yo voy a huir / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Entonces está todo dicho, mi amor / Acaba aquí lo que no tenía fin / Para que fuera eterno todo lo que pensamos / Necesitaba que pensases más en mí / Para ti pensar en dos es una prisión / Para mí es la única forma de volar / Necesitas agradar a mucha gente / Y por mi parte sólo a ti quería agradar / Pero siempre que te vea voy a sufrir / Y siempre que te escuche voy a callar / Cada vez que llegues yo voy a huir / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar
Fado das horas incertas
Deixo a porta entreaberta / Aos medos onde me afoite / Bate a meia-noite incerta / De ser mesmo o meio da noite / Tão redondas são as horas / Tão inúteis e tão longas / Minh'alma quanto mais choras / Mais as horas tu me alongas / Só a dor trai o sossego / No rodar desta ansiedade / Quando à saudade me nego / Fingindo não ter saudade
Fado das horas incertas
Dejo la puerta entreabierta / A los miedos donde me vuelvo valiente / Golpea la media noche insegura / De ser incluso el medio de la noche / Tan redondas son las horas / Tan inútiles y tan largas / Mi alma, cuanto más lloras / Más las horas tú me alargas / Sólo el dolor trae el sosiego / En el rodar de esta ansiedad / Cuando a la saudade me niego / Fingiendo no tener saudade
Vaga, no azul amplo solta
Vaga, no azul amplo solta / Vai uma nuvem errando / O meu passado não volta / Não é o que estou chorando / O que choro é diferente / Entra mais na alma da alma / Mas como, no céu sem gente / A nuvem flutua calma / E isto lembra uma tristeza / E a lembrança é que entristece / Dou à saudade a riqueza / De emoção que a hora tece / Mas, em verdade, o que chora / Na minha amarga ansiedade / Mais alto que a nuvem mora / Está para além da saudade / Não sei o que é nem consinto / À alma que o saiba bem / Visto da dor com que minto / Dor que a minha alma tem
Vaga, en el azul amplio suelta
Vaga, en el azul amplio suelta / Va una nube errando / Mi pasado no vuelve / No es lo que estoy llorando / Lo que lloro es diferente / Entra más en el alma del alma / Pero como, en el cielo sin gente / La nube fluctúa calma / Y esto recuerda una tristeza / Y es el recuerdo quien entristece / Doy a la saudade la riqueza / De emoción que la hora teje / Pero, en verdad, lo que llora / En mi amarga ansiedad / Más alto de lo que la nube mora / Está más allá de la saudade / No sé lo que es ni consiento / Al alma que lo sabe bien / Visto del dolor con que miento / Dolor que mi alma tiene
Velho anjo
Entre as plumas de um velho anjo / Roça a sombra na asa ferida / A inocência das mãos no peito e o beijo / Salva-me a vida / Entre os astros d'um céu azul / O cristal de uma voz esquecida / Descuidados os pés virados ao sul / Salvam-me a vida / Não há luz que ilumine / A noite intensa / Da ausência em mim suspensa / Que a existência não flui entre os dedos / Que os meus segredos são os temores da minha alma assustada / Que procura dar-se ao desejo suspenso em ti / Entre as plumas de um velho anjo / Roça a sombra na asa ferida / A inocência das mãos no peito e o beijo / Salva-me a vida / Entre os astros d'um céu azul / O cristal de uma voz esquecida / Descuidados os pés virados ao sul / Salvam-me a vida
Viejo ángel
Entre las plumas de un viejo ángel / Roza la sombra en el ala herida / La inocencia de las manos en el pecho y el beso / Me salva la vida / Entre los astros de un cielo azul / El cristal de una voz olvidada / Descuidados los pies orientados al sur / Me salvan la vida / No hay luz que ilumine / La noche intensa / De ausencia en mí suspensa / Que la existencia no fluye entre los dedos / Que mis secretos son los temores de mi alma asustada / Que intenta darse al deseo suspendido en ti / Entre las plumas de un viejo ángel / Roza la sombra en el ala herida / La inocencia de las manos en el pecho y el beso / Me salva la vida / Entre los astros de un cielo azul / El cristal de una voz olvidada / Descuidados los pies orientados al sur / Me salvan la vida
A sós com a noite
A luz que se arredonda / Alongando uma sombra sozinha / A saudade a bater / Uma dor que ao doer é só minha / Um desvio inquieto / Um olhar indiscreto na esquina / Um rapaz de blusão / Arrastando pela mão a menina / Passa um velho a pedir / Incapaz de sorrir pelos passeios / Um travesti que quer / Assumir-se mulher sem receios / O alarme de um carro / Um cigarro apagado indulgente / Um cheiro inusitado / O semáforo fechado para a gente / Sobe o fado de tom / E o fadista que é bom improvisa / Estão em saldos sapatos / Desce o preço dos fatos de cor lisa / Um eléctrico cheio / Uma voz de permeio vai chover / Bate forte a saudade / Como é grande vontade de te ver
A solas con la noche
La luz se redondea / Alargando una sombra sola / La saudade golpea / Un dolor que al doler es sólo mío / Un desvío inquieto / Una mirada indiscreta en la esquina / un muchacho con un blusón / Arrastrando por la mano a una niña / Pasa un viejo pidiendo / Incapaz de sonreír por los paseos / Un travestí que quiere / Asumirse como mujer sin recelos / El silbato de un carro / Un cigarro apagando indulgente / Un olor inusitado / El semáforo cerrado para la gente / Sobre el fado de tono / El fadista que es bueno improvisa / Hay zapatos de rebajas / Baja el precio de las ropas de color liso / Un tranvía lleno / Una voz en medio va a llover / Golpea fuerte la saudade / Como es grande el deseo de verte