António Zambujo - O mesmo fado (2002)

O mesmo fado
01 O mesmo fado / 02 Senhora do Livramento / 03 Beijos de fogo / 04 Guitarra triste / 05 Jogo de sedução / 06 Arraial / 07 Trago Alentejo na voz / 08 Triste fado / 09 Noite despida / 10 Fado alcantarado / 11 Terra da minha gente / 12 Minguante das luas
O MESMO FADO
Disseste, vem ver a lua / Eu debrucei-me à janela / Confesso na minha rua / Nunca vi coisa mais bela / Ganhámos a madrugada / Como um barco ganha ao mar / Somos por tudo e por nada / Esta forma de gostar / Quando o sol rasga a manhã / E trás na boca um sorriso / Nós sabemos que amanhã / Nada mais nos é preciso / Ao fim da tarde o poente / Num compromisso calado / Diz que somos outra gente / Mas somos o mesmo fado
EL MISMO FADO
Dijiste, ven a ver la luna / Yo me asomé a la ventana / Confieso que en mi calle / Nunca vi cosa más bella / Ganamos la madrugada / Como un barco gana el mar / Somos, por todo y por nada / Esta forma de gustar / Cuando el sol rasga la mañana / Y hay tras la boca una sonrisa / Nosotros sabemos que mañana / Nada más nos será necesario / Al fin de la tarde el ocaso / En un compromiso callado / Dice que somos otra gente / Pero somos el mismo fado
SENHORA DO LIVRAMENTO
Senhora
do Livramento / Livrai-me deste tormento / De a não ver há tantos dias / Partiu
zangada comigo / Deixou-me um retrato antigo / Que me aquece as noites frias /
Senhora que o pensamento / Corre veloz como o vento / Rumando estradas ao céu /
Fazei crescer os meus dedos / Pra desvendar os segredos / Dum céu que não é só
meu / Senhora do céu das dores / Infernos, prantos, amores / A castigar tanto o
norte / Porque é que partiste um dia / Sofrendo a minha agonia / E não me
roubaste a morte
SEÑORA DE LA LIBERACIÓN
Señora de la Liberación / Líbrame de este tormento / De no verla hace tantos días / Se fue enfadada conmigo / Me dejó un retrato antiguo / Que caldea mis noches frías / Señora, que el pensamiento / Corre veloz como el viento / Poniendo rumbo hacia el cielo / Hace crecer mis dedos / Para desvelar los secretos / De un cielo que no es sólo cielo / Señora del cielo de los dolores / Infiernos, llantos y amores / Castigando tanto el rumbo / Por qué partiste un día / Sufriendo mi agonía / Y no me robaste la muerte
BEIJOS DE FOGO
Silencio,
nem uma pena / Quero a minha alma serena / Sem soluços na cidade / Sequei meus
olhos chorados / Pus no peito cadeados / Para não entrar a saudade / Numa
atitude mais louca / Pousei sobre a minha boca / Rosas, fogo de quem ama / Pra
se me vencer a fome / De querer gritar teu nome / Meus lábios fiquem em chama /
Mas a noite é um segredo / Confesso que tenho medo / E ao mesmo tempo desejos /
De ouvir silêncios rasgados / De quebrar os cadeados / De te queimar com os
meus dedos
BESOS DE FUEGO
Silencio, ni una pena / Quiero mi alma serena / Sin susurros en la ciudad / Sequé mis ojos llorados / Puse en el pecho candados / Para que no entrase la saudade / En una actitud más loca / Puse sobre mi boca / Rosas, fuego de quien ama / Para, si me vence el hambre / De querer gritar tu nombre / Mis labios ardan en llamas / Pero la noche es un secreto / Confieso que tengo miedo / Y al mismo tiempo deseos / De oír silencios rasgados / De romper los candados / De quemarte con mis dedos
GUITARRA TRISTE
Ninguém consegue / Por muito forte que seja / Alcançar o que deseja / Seja qual for a ambição / Se não tiver / Dando forma ao seu valor / Uma promessa de amor / Que alimenta uma ilusão / Uma mulher é como uma guitarra / Não é qualquer que a abraça e faz vibrar / Mas quem souber o modo como a agarra / Prende-lhe a alma, às mãos que a sabem tocar / Por tal razão se engana facilmente / Um coração que queria ser feliz / Guitarra triste que busca um confidente / Não mãos de quem não sente / O pranto que ela diz / Não há ninguém / Que não peça à própria vida / A felicidade merecida / Para que um dia nasceu / Mas de tal forma / A vida sabe mentir / E a gente chega a sentir / O bem que ela não nos deu
GUITARRA TRISTE
Nadie
consigue / Por muy fuerte que sea / Alcanzar lo que desea / Sea cual sea la
ambición / Si no tuviera / Dando forma a su valor / Una promesa de amor / Que
alimenta una ilusión / Una mujer es como una guitarra / No la puede hacer
vibrar cualquiera que la abrace / Pero quien sepa el modo de agarrarla / Le
atrapa el alma en las manos que la saben tocar / Por tal razón se engaña
fácilmente / Un corazón que quería ser feliz / Guitarra triste que busca un confidente
/ No manos de quien no siente / El llanto que ella dice / No hay nadie / Que no
pida a la propia vida / La felicidad merecida / Para la que un día nació / Pero
de tal forma / La vida sabe mentir / Y la gente llega a sentir / El bien que
ella no nos dio
JOGO DE SEDUÇÃO
Naquele
tempo nós dois / Tínhamos manhãs de sois / Dias tristes eram poucos / Nessa era
adolescente / Éramos 'dez reis' de gente / Mas completamente loucos / Enquanto
no céu bailavam / Andorinhas que chegavam / Antecedendo o verão / Nós descuidados
brincando / Sem querer íamos jogando / Um jogo de sedução / Entre beijos
escondidos / E desejos proibidos / Como fosse fogo posto / Pelas minhas graças
mais tolas / Ramalhetes de papoilas / Vinham pousar em teu rosto / Que memoria,
que loucura / Me transporta hoje à lonjura / De verdes campos, lençóis /
Deixai-me sombras de infância / Contar a esta distancia / Naquele tempo, nós
dois...
JUEGO DE SEDUCCIÓN
En aquel tiempo nosotros dos / Teníamos mañanas de soles / Los días tristes eran pocos / En esa edad adolescente / Éramos "diez reyes" entre la gente / Pero completamente locos / Mientras en el cielo bailaban / Golondrinas que llegaban / Antecediendo al verano / Nosotros, descuidados, saltando / Sin querer íbamos jugando / Un juego de seducción / Entre besos escondidos / Y deseos prohibidos / Como si fuese fuego vivo / Por mis gracias más tontas / Ramilletes de amapolas / Venían a posarse en tu rostro / Qué memoria, qué locura / Me lleva hoy a la lejanía / De verdes campos, sábanas / Me deja sombras de infancia / Contando a esta distancia / En aquel tiempo, nosotros dos...
ARRAIAL
Acabou
o arraial / Folhas e bandeiras já sem cor / Tal qual aquele dia em que chegaste
/ Tal qual aquele dia, meu amor / Para quê cantar / Se longe já não ouves / O
nosso canto ainda está na fonte / E o nosso sonho, nas estrelas do horizonte /
Ainda nasce a lua nos moinhos / Ainda nasce o dia sobre os montes / Ainda vejo
a curva do caminho / Ainda o mesmo som, a mesma fonte / Sabes meu amor não
estou sozinho / Pelas salas do silencio em que te escuto / Abro as janelas
ainda cheira a rosmaninho / Vejo-me ao espelho, ainda vejo luto
ROMERÍA
Se acabó la romería / Hojas y banderas ya sin color / Tal como aquel día en que llegaste / Tal como aquel día, mi amor / Para qué cantar / Si desde lejos ya no oyes / Nuestro canto aún está en fuente / Y nuestro sueño, en las estrellas del horizonte / Aún nace la luna en los molinos / Aún nace el día sobre los montes / Aún veo la curva del camino / Aún el mismo sonido, la misma fuente / Sabes, mi amor, no estoy solo / Por las salas de silencio en que te escucho / Abro las ventanas, aún huele a romero / Me miro al espejo, aún veo luto
TRAGO ALENTEJO NA VOZ
Trago
Alentejo na voz / Do cantar da minha gente / Ai rios de todos nós / Que te
perdes na corrente / Ai planícies sonhadas / Ai sentir de olivais / Ai ventos
na madrugada / Que me transcendem demais / Amigos, amigos / Papoilas no trigo /
Só lá eu as tenho / E de braço dado contigo a meu lado / É de lá que eu venho /
E de braço dado / Cantando ao amor / Guardamos o gado, papoilas em flor, / Que
o vento num brado / Refresca o calor / E de braço dado, contigo a meu lado /
Cantamos o amor / Ai rebanhos de saudades / Que deixei naqueles montes / Ai
pastores de ansiedade / Bebendo água nas fontes / Ai sede das tardes quentes /
Ai lembrança que me alcança / Ai terra prenhe de gente / Nos olhos duma criança
TRAIGO ALENTEJO EN LA VOZ
Traigo Alentejo en la voz / Del cantar de mi gente / Ay, río de todos nosotros / Que te pierdes en la corriente / Ay, llanuras soñadas / Ay, sentir de olivares / Ay, vientos en la madrugada / Que me superan demasiado / Amigos, amigos / Amapolas en el trigo / Sólo allí las tengo / Y contigo a mi lado, cogidos del brazo / Es desde allí de donde vengo / Cantando al amor / Guardamos el rebaño, amapolas en flore / Que el viento en un grito / Refresca el calor / Y contigo a mi lado, cogidos del brazo / Cantamos al amor / Ay, rebaños de saudades / Que dejé en aquellos montes / AY, pastores de ansiedad / Bebiendo agua en las fuentes / Ay sed de las tardes calientes / Ay, recuerdo que me alcanza / Ay, tierra llena de gente / En los ojos de un niño
TRISTE FADO
Senhora
desconheço seus cuidados / Mas vejo-lhe no rosto desamores / Tão triste faz
lembrar-me tristes fados / Onde o amor só rima com a dor / Senhora seu
semblante me fascina / Quando olho em seu rosto e me entristeço / Não sei se me
revela ou me domina / Mas sei que é nele que me reconheço / Senhora há algo em
si de tão divino / Que acorde esta emoção a que me dou / No homem que hoje sou
há um menino / Que anseia agradecer-lhe o ser que sou / Senhora amargura-me o
seu pranto / Sem lhe poder dizer culpado sou / Nos olhos que lhe vejo o amor é
tanto / Que fico nesta duvida em que estou / Senhora a quem fui eu ofender /
Porque busquei caminhos não usados / Que sofrimento é vê-la sofrer / Tão
triste, faz lembrar-me tristes fados
TRISTE FADO
Señora, desconozco sus preocupaciones / Pero en el rostro le veo desamores / Tan triste que me hace recordar tristes fados / Donde el amor sólo rima con dolor / Señora, su semblante me fascina / Cuando miro a su rostro y me entristezco / No sé si me revela o me domina / Pero sé que en él me reconozco / Señora hay algo en usted tan divino / Que despierte esta emoción a que me entrego / En el hombre que hoy soy hay un niño / Que ansía agradecerle lo que soy / Señora, me da amargura su llanto / Sin poder decirle que soy culpable / En los ojos a que le miro es tanto el amor / Que me quedo en esta duda en que estoy / Señora a quien yo fui a ofender / Porque busqué caminos no usados / Qué sufrimiento es verla sufrir / Tan triste que me hace recordar tristes fados
NOITE DESPIDA
Noite
despida sem lua / Na imensidão da cidade / Aonde não me conheço / O silêncio
veste a rua / Anda de ronda a saudade / E eu por ti não adormeço / Noite
despida sem horas / No quarto do abandono / Solidão por almofada / Em que lugar
te demoras / Meu amor tarda-me o sono / E é tão perto a madrugada / Noite
despida de tu / Do tempo mais que parado / A gritar-me à cabeceira / Eu num
choro quase mudo / Hei-de esperar-te acordado / Nem que leve a vida inteira
NOCHE DESNUDA
Noche desnuda sin luna / En la inmensidad de la ciudad / Donde no me conozco / El silencio viste la calle / Anda de ronda la saudade / Y yo por ti no me duermo / Noche desnuda, sin horas / En el cuarto del abandono / Soledad por almohada / En qué lugar te demoras / Mi amor, me tarda el sueño / Y está tan cerca la madrugada / Noche desnuda de ti / De un tiempo más que detenido / Gritando en mi cabecero / Y en un llanto casi mudo / Debo esperarte despierto / Aunque me lleve la vida entera
FADO ALCANTARADO
Fado,
meu veneno desejado / Meu amigo alcantarado / Varanda do meu jardim / Fado meu
universo, meu tudo! / Se te canto fico mudo / Parado dentro de mim... / Fado,
quando te vou procurar / Caminho ruas de mar / Nas praias do teu passado /
Fado, às caravelas erguido / És o mar dos meus sentidos / Meu veneno desejado /
Fado, meu poeta, meu destino / Que dás luz ao meu caminho / Com olhos rasos de
pranto / Fado, rosa dos ventos da vida / Cais de chegada e partida / Senhor dos
poetas que canto
FADO ALCANTARADO
Fado, mi veneno deseado / Mi amigo alcantarado / Baranda de mi jardín / Fado, mi universo, mi todo / Si te canto me quedo mudo / Parado dentro de mí... Fado, cuando te voy a buscar / Camino calles de mar / En las playas de tu pasado / Fado, en carabelas erguido / Eres el mar de mis sentidos / Mi veneno deseado / Fado, mi poeta, mi destino / Que das luz a mi camino / Con ojos llenos de llanto / Fado, rosa de los vientos de la vida / Puerto de llegada y partida / Señor de los poetas que canto
TERRA DA MINHA GENTE
Ai terra da minha gente / Trigueira de solidão / A tua voz tão presente / Grita dos campos do pão / Mas grita como quem canta / Os silêncios do pastor / Quando a alma se agiganta / Morremos quase sem dor / Mas não morremos sozinhos / Nem chegamos a morrer / Que os cheiros dos teus caminhos / Nos obrigam a viver / A viver como quem molha / A boca seca num beijo / Ai terra que se desfolha / Ai pranto chão, Alentejo!
TIERRA DE MI GENTE
Ay, tierra de mi gente / Trigueña de soledad / Tu voz tan presente / Grita a los campos de pan / Pero grita como quien canta / El silencio del pastor / Cuando el alma se agiganta / Morimos casi sin dolor / Pero no morimos solos / Ni llegamos a morir / Que los aromas de tus caminos / Nos obligan a vivir / Vivir como quien moja / La boca seca en un beso / Ay, tierra que se deshoja / Ay, llanto llano, ¡Alentejo!
MINGUANTE DAS LUAS
Entre
a água dos meus olhos / Salgada por te não ver / Ofereço todos os sonhos / Aos
campos do nosso querer / Sobre o rio da minha vida / Entorno saudades tuas /
Andam saudades perdidas / No minguante das luas / Que pranto me lava a cara /
Por quem choro este tormento / Que alma então me rasgara / Tão profundo
sentimento... / Este silencio amarrado / Que grita dentro de mim / Não é
tristeza, nem fado / Mas o principio do fim!
MENGUAR DE LAS LUNAS
Entre el agua de mis ojos / Salada por no verte / Ofrezco todos los sueños / A los campos de nuestro querer / Sobre el río de mi vida / Entorno saudades tuyas / Andan saudades perdidas / En el menguar de las lunas / Que el llanto me lava la cara / Por quien lloro este tormento / Que entonces el alma me rasga / Tan profundo sentimiento... / Este silencio amarrado / Que grita dentro de mí / No es tristeza, ni fado / ¡Pero es el principio del fin!