António Zambujo - Por meu cante (2006)


Por Meu Cante (2004)


1. Pra onde quer que me volte / 2. Janela virada p´ro mar / 3. Sra da Nazaré / 4. Uma vez que seja / 5. Sino da minha aldeia / 6. Noite Cheia De Estrelas / 7. Noite Apressada / 8. Verão / 9. Cravo de São João / 10. Rapaz da camisola verde / 11. Que inveja tens tu das rosas

PRA ONDE QUER QUE ME VOLTE

Por muito que me revolte / Seres somente uma miragem / Pra onde quer que me volte / Vejo sempre a tua imagem / Imagem que me enlouquece / Como um louco no deserto / Que do nada me aparece / E tão distante és tão perto / Vejo-te envolta em poeira / Ou transparente cristal / E a loucura é mais inteira / O sonho quase real / Por muito que me revolte / Seres somente uma miragem / Pra onde quer que me volte / Vejo sempre a tua imagen

PARA DONDE QUIERA QUE MIRE

Por mucho que me revele / Que sólo seas un espejismo / Hacia donde quiera que mire / Veo siempre tu imagen / Imagen que me enloquece / Como a un loco en el desierto / Que de la nada me aparece / Y tan distante estás tan cerca / Te veo envuelta en polvareda / O cristal transparente / Y la locura es más entera / El sueño casi real / Por mucho que me revele / Que sólo seas un espejismo / Hacia donde quiera que mire / Veo siempre tu imagen

JANELA VIRADA P´RO MAR

Cem anos que eu viva, não posso esquecer-me / Daquele navio que eu vi naufragar / Na boca da barra tentando perder-me / Daquela janela virada p´ro mar / Sei lá quantas vezes matei o desejo / E fui pelo mar fora com a alma a sangrar / Levando na ideia uns lábios que invejo / E aquela janela virada p´ro mar / Marinheiro do mar alto olha as ondas, uma a uma / Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma / Por mais que elas bailem numa louca orgia / Não trazem desejos de me torturar / Como aquela doida que eu deixei um dia / Naquela janela virada p´ro mar... / Se mais ainda houvesse, mais portos correra / Lembrando-me em noites de meigo luar / Duns olhos gaiatos que trago à espera / Naquela janela virada p´ro mar / Mas quis o destino que o meu mastodonte / Já velho e cansado, viesse encalhar / Na boca da barra, e mesmo de fronte / Daquela janela virada p´ro mar...

VENTANA ORIENTADA HACIA EL MAR

Aunque viva cien años, no podré olvidar / De aquel navío que vi naufragar / Intentado a perderme por la bocana / De aquella ventana orientada hacia el mar / No sé cuántas veces maté el deseo / Me fui por el mar con el alma sangrando / Llevando la idea de unos labios que envidio / Y aquella ventana orientada hacia el mar / Marinero de altamar, mira las ondas, de una en una / Preparando un abordaje entre montes de blanca espuma / Por más que ellas bailen en una loca orgía / No traen deseos de torturarme / Como aquella loca a la que dejé un día / En aquella ventana orientada al mar... / Si aún hubiese más, recorrería más puertos / Recordando en noches de suave luna / Dos ojos traviesos que tengo esperando / En aquella ventana orientada al mar / Pero quiso el destino que mi mastodonte / Ya viejo y cansado viniese para encallar / En la bocana, y justo enfrente / De aquella ventana orientada al mar...

SRA DA NAZARÉ

Senhora da Nazaré, rogai por mim / Também sou um pescador que anda no mar / Ao largo da vida aproei nas vagas sem fim / Vi o meu barquito de sonhos sempre a naufragar / As minhas redes lancei com confiança / Colhi só desilusões num mar ruim / Perdi o leme da esperança / Eu não sei remar assim / Senhora da Nazaré, rogai por mim.

SEÑORA DE NAZARÉ 

Señora de Nazaré, rogad por mí / También soy un pescador que está en el mar / A lo largo de la vida puse mi proa a olas sin fin / Vi mi barquito de sueños siempre naufragar / Mis redes las lancé con confianza / Cogí sólo desilusiones en un mar ruin / Perdí el timón de la esperanza / Yo no sé remar así / Señora de Nazaré, rogad por mí.

UMA VEZ QUE SEJA

Tu que navegas ao sabor do vento / Sem outra rota que o que se deseja / Tu que tens por mapa o firmamento / Vem descobrir-me uma vez que seja / E diz-me das viagens que eu não faço / Dos mundos cintilantes que antevejo / E traz-me mares de mel no teu abraço / Poeira de ouro velho no teu beijo / De ti não espero amarras nem promessas / É livre que te quero neste cais / Até que um dia em mim não amanheças / E te faças ao mar uma vez mais / E mesmo nesta hora de perder-te / Sabendo que a magia se desfez / Terá valido a pena conhecer-te / E deslumbrar-me ao menos uma vez!

AUNQUE SEA UNA VEZ

Tú que navegas al sabor del viento / Sin más ruta que lo que se desea / Tú que tienes por mapa el firmamento / Ven a descubrirme, aunque sea una vez / Y háblame de los viajes que no hago / De los mundos deslumbrantes que intuyo / Y tráeme mares de miel en tu abrazo / Polvaredas de oro viejo en tu beso / De ti no espero amarras ni promesas / Es libre como te quiero en este puerto / Hasta que un día no amanezcas en mí / Y te hagas al mar una vez más / E incluso en esa hora de perderte / Sabiendo que la magia se deshace / Habrá valido la pena conocerte / Y deslumbrarme al menos por una vez

SINO DA MINHA ALDEIA

Oh sino da minha aldeia / Dolente na tarde calma / Cada tua badalada / Soa dentro da minha alma / E é tão lento o teu soar / Tão como triste da vida / Que já a primeira pancada / Tem o som de repetida / Por mais que me tanjas perto / Quando passo sempre errante / És para mim como um sonho / Soas-me na alma distante / A cada pancada tua / Vibrante no céu aberto / Sinto mais longe o passado / Sinto a saudade mais perto

CAMPANA DE MI ALDEA

Oh campana de mi aldea / Doliente en la tarde calma / Cada campanada tuya / Suena dentro de mi alma / Y es tan lento tu sonar / Como tan triste la vida / Que ya la primera tonada / Suena como repetida / Por más que me tañas cerca / Cuando paso, siempre errante / Eres para mí como un sueño / Me suenas en el alma distante / A cada tonada tuya / Vibrante en el cielo abierto / Más lejos siento el pasado / La saudade más cerca siento

NOITE CHEIA DE ESTRELAS

Noite alta, céu risonho / A quietude é quase um sonho / O luar cai sobre a mata / Qual uma chuva de prata / De raríssimo esplendor / Só tu dormes, não escutas / O teu cantor revelando a lua airosa / A história dolorosa / Deste amor / Lua, manda a tua luz prateada / Despertar a minha amada / Quero matar meus desejos / Sufocá-la com os meus beijos / Canto e a mulher que eu amo tanto / Não escuta, está dormindo / Canto e por fim / Nem a lua tem pena de mim / Pois ao ver que quem te chama sou eu / Entre a neblina se escondeu / Lá no alto a lua esquiva / Está no céu tão pensativa / As estrelas tão serenas / Qual dilúvio de falenas / Andam tontas ao luar / Todo astral ficou silente / Para escutar / O teu nome entre as endeixas / As dolorosas queixas ao luar

NOCHE LLENA DE ESTRELLAS 

Noche alta, cielo risueño / La quietud es casi un sueño / La luz de la luna cae sobre el bosque / Como una lluvia de plata / De rarísimo esplendor / Sólo tú duermes, no escuchas / Tu cantor revela la luna airosa / La historia dolorosa / De este amor / Luna, manda tu luz plateada / A despertar a mi amada / Quiero matar mis deseos / Ahógala con mis besos / Canto y la mujer que tanto amo / No escucha, está durmiendo / Canto y por fin / Ni la luna se compadece de mí / Pues al ver que quien te llama soy yo / Entre la neblina se escondió / Allá en lo alto la luna esquiva / Está en el cielo tan pensativa / Las estrellas tan serenas / Como diluvio de falenas / Andan atontadas a la luz de la luna / Todo astro quedó en silencio / Para escuchar / Tu nombre entre las endechas / Las dolorosas quejas a la luz lunar

NOITE APRESSADA

Era uma noite apressada / Depois de um dia tão lento. / Era uma rosa encarnada / Aberta nesse momento / Era uma boca fechada / Sob a mordaça de um lenço / Era afinal quase nada / E tudo parecia imenso! / Imensa a casa perdida / No meio do vendaval / Imensa a linha da vida / No seu desenho mortal / Imensa na despedida / A certeza do final / Era uma haste inclinada / Sob o capricho do vento / Era minh´ alma, dobrada / Dentro do teu pensamento / Era uma igreja assaltada / Mas que cheirava a incenso / Era afinal quase nada / E tudo parecia imenso / Imensa, a luz proibida / No centro da catedral / Imensa, a voz diluída / Além do bem e do mal / Imensa por toda a vida / Uma descrença total

NOCHE APRESURADA 

Era una noche apresurada / Después de un día tan lento / Era una rosa encarnada / Abierta en ese momento / Era una boca cerrada / Bajo la mordaza de un lienzo / Era al final casi nada / ¡Y todo parecía inmenso! / Inmensa la casa perdida / En medio del vendaval / Inmensa la línea de la vida / En su dibujo mortal / Inmensa en la despedida / La certeza del final / Era un mástil inclinado / Bajo el capricho del viento / Era mi alma, doblada / Dentro de tu pensamiento / Era una iglesia asaltada / Aunque oliera a incienso / Era al final casi nada / ¡Y todo parecía inmenso! / Inmensa la luz prohibida / En el centro de la catedral / Inmensa la voz diluida / Más allá del bien y el mal / Inmensa por toda la vida / Una incredulidad total

VERÃO

No verão / A brasa dourada e celeste / Queima este solo agreste / Doirando mais as espigas / Ceifeiros corpos curvados / Ceifando e atando em molhos / A benção loira da vida / Meu Alentejo / Enquanto isto se processa / O sol ferindo, sem pressa / Queima mais a tez bronzeada / O suor rasga a camisa / O homem queimado mais fica / E a vida é feita de brasa / O calor castiga os corpos / Os ceifeiros vão ceifando / Sem parar o seu labor / O seu cantar é dolente / É certo que é boa gente / Tem verdade, e tem mais cor!

VERANO 

En verano / La brasa dorada y celeste / Quema este suelo agreste / Dorando más las espigas / Segadores cuerpos curvados / Segando y atando en haces / La bendición rubia de la vida / Mi Alentejo / Mientras esto se realiza / El sol herido, sin prisa / Quema más la tez bronceada / El sudor rasga la camisa / El hombre queda más quemado / Y la vida está hecha de brasas / El calor castiga los cuerpos / Los céfiros van segando / Sin detener su labor / Su cantar es doliente / Es cierto que es buena gente / Tiene verdad, ¡tiene más color

CRAVO DO SÃO JOÃO

Quando a vi ela trazia / Bem juntinho ao coração / Como um hino de alegria / Um cravo de são João / Passou por mim apressada / Da primeira vez que a vi / Achei a moça engraçada / E nunca mais a esqueci / Vinha bonita / Com o seu vestido de chita / Tinha uma graça infinita / Tinha um ar bem português / O meu olhar / Pousou nela como um beijo / E fiquei com o desejo / De a encontrar outra vez / Fez-me o destino a vontade / Novamente a encontrei / Mas para falar a verdade / Que diferença eu lhe achei / Elegante no trajar / De luxo e ostentação / E uma orquídea no lugar / Do cravo de são João / Vinha elegante / Num vestido extravagante / E tinha um ar petulante / Que cheirava a perdição / Naquela orquídea / Sua vida se resume / Porque perdeu o perfume / Do cravo de são João

CLAVEL DE SAN JUAN

Cuando la vi ella traía / Bien pegado al corazón / Con un himno de alegría / Un clavel de san Juan / Pasó junto a mí apresurada / La primera vez que la vi / Me pareció una moza graciosa / Y nunca más la olvidé / Venía bonita / Con su vestido estampado / Tenía una gracia infinita / Tenía un aire muy portugués / Mi mirada / Se posó en ella como un beso / Y me quedé con el deseo / De encontrármela otra vez / El destino cumplió mi deseo / Nuevamente la encontré / Pero para decir la verdad / Qué diferencia encontré / Elegante en el vestir / De lujo y ostentación / Y una orquídea en el lugar / Del clavel de san Juan / Venía elegante / Con un vestido extravagante / Y tenía un aire petulante / Que olía a perdición / En aquella orquídea / Su vida se resume / Porque perdió el perfume / Del clavel de san Juan

RAPAZ DA CAMISOLA VERDE

De mãos nos bolsos e de olhar distante / Jeito de marinheiro ou de soldado / Era o rapaz de camisola verde / Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado / Perguntei quem era, ele me disse / Sou do monte senhor, um seu criado / Pobre rapaz de camisola verde / Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado / Porque me assaltam turvos pensamentos / Na minha frente estava um condenado / Vai-te rapaz de camisola verde / Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado / Ouvindo-me quedou-se altivo o moço / Indiferente à raiva do meu brado / E ali ficou de camisola verde / Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado / Soube depois ali que se perdera / Esse que só eu pudera ter salvado / Aí do rapaz de camisola verde / Negra madeixa ao vento, boina maruja ao lado...

EL MUCHACHO DE LA BLUSA VERDE

Con las manos en los bolsillos y la mirada distante / Gesto de marinero o de soldado / Era el muchacho de la blusa verde / Negra coleta al viento, boina marinera al lado / Pregunté quién era, él me dijo / Soy del monte, señor, un criado suyo / Pobre muchacho de la blusa verde / Negra coleta al viento, boina marinera al lado / Porque me asaltan turbos pensamientos /En mi frente estaba un condenado / Ve, rapaz de la blusa verde / Negra coleta al viento, boina marinera al lado / Escuchándome se mostró altivo el mozo / Indiferente a la rabia de mi queja / Y allí se quedó con su blusa verde / Negra coleta al viento, boina marinera al lado / Supe justo después que se perdiera / A ese que sólo yo podría haber salvado / Ay del muchacho de la blusa verde / Negra coleta al viento, boina marinera al lado...

QUE INVEJA TENS TU DAS ROSAS

De noite pelas campinas / Anda o sol atrás da lua / Assim vai a minha sina / Meu amor atrás da tua / Que inveja tens tu das rosas / Se és linda como elas são / A rainha das flores / Tratadas por tuas mãos / Tratadas por tuas mãos / Pelas tuas mão mimosas / Se és linda como elas são / Que inveja tens tu das rosas

QUÉ ENVIDIA TIENES DE LAS ROSAS 

De noche por las campiñas / El anda tras la luna / Va así mi sino / Mi amor detrás del tuyo / Qué envidia tienes de las rosas / Si eres linda como ellas / La reina de las flores / Tratadas por tus manos / Tratadas por tus manos / Por tus manos mimosas / Si eres linda como ellas / Qué envidia tienes de las rosas

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