Camané - Esta coisa da alma (2000)


Esta coisa da alma (2000)

1.- Maria II / 2.- Quadras / 3.- Dor Repartida / 4.- Por um Acaso / 5.- Memórias de um Chapéu / 6.- Escadas sem Um Corrimão / 7. Se ao Menos Houvesse um Dia / 8.- Quem à Janela / 9.- Fado da Recaida / 10.- Balada / 11.- Canção / 12.- Não Posso / 13.- Sopra Demais o Vento / 14.- A Luz de Lisboa (Claridade)

Maria II

Nova luz, que me rasga dentro da alma / Dum desejo melhor me veste a vida / Outra fada celeste agora leva / Minha débil ventura adormecida / Não sei que novos horizontes vejo / Que pura e grande luz inunda a esfera / Quem, nuvens deste inverno, nesse espaço / Em flores vos mudou de primavera? / Se as noites nos enviam mais segredos / Ao sacudir seus vaporosos mantos / Se desprendem do seio mais suspiros / É que dizem teu nome nos seus cantos / Nem eu sei se houve amor até este dia / Nem eu sei se dormi até esta hora / Mas, quando me roçou o teu vestido / Abri o meu olhar: acordo agora!

Maria II 

Nueva luz que me rasga dentro del alma / De un deseo mejor me viste la vida / Otra hada celeste ahora me lleva / Mi débil ventura adormecida / No sé qué nuevos horizontes veo / Que pura y gran luz inunda la esfera / ¿Quién, nubes de este invierno, en ese espacio / En flores os mudo de primavera? / Si las noches nos envían más secretos / Al sacudir sus vaporosos mantos / Si desprenden del seno más suspiros / Es que dicen tus nombres en sus cantos / Ni yo sé si hubo amor hasta este día / Ni yo sé si dormí hasta esta hora / Pero, cuando me rozó tu vestido / Abri mi mirada: ¡Despierta ahora!

Quadras

O amor, quando se revela / Não se sabe revelar / Sabe bem olhar pra ela / Mas não lhe sabe falar / Quem quer dizer o que sente / Não sabe o que há-de dizer / Fala: parece que mente / Cala: parece esquecer / Ah, mas se ela adivinhasse / Se pudesse ouvir o olhar / E se um olhar lhe bastasse / Pra saber que a estão a amar! / Mas quem sente muito, cala / Quem quer dizer quanto sente / Fica sem alma nem fala / Fica só, inteiramente!

Cuartetas

El amor, cuando se revela / No se sabe revelar / Sabe bien mirar hacia ella / Pero no le sabe hablar / Quien quiere decir lo que siente / No sabe lo que ha de decir / Habla: parece que miente / Calla: parece olvidar / Ay, pero si ella adivinase / Si pudiese oír la mirada / Y si una mirada le bastase / ¡Para saber que la están amando! / Pero quien siente mucho, calla / Quien quiere decir cuanto siente / Se queda sin alma y no habla / Se queda solo, ¡enteramente!

Dor repartida

Cinzento porque chovia / Todo o céu que me cobria / Comigo chorava tanto / Mas ali à minha frente / Afastado e tão presente / O rio secou o meu pranto / No fundo das suas águas / Adormeceu minhas mágoas / E acordei menos triste / A dor ao mar entregava / Enquanto às margens contava / A razão porque partiste / Sem ti seguirei viagem / Como o rio que larga a margem / E continua sozinho / Com a força da corrente / Que se reparte entre a gente / Hei-de encontrar o caminho / É na força da corrente / Que se reparte entre a gente / Que eu encontro o meu caminho

Dolor repartido

Ceniciento porque llovía / Todo el cielo que me cubría / Conmigo lloraba tanto / Pero allí, frente a mí / Alejado y tan presente / El río secó mi llanto / En el fondo de sus aguas / Se adormecieron mis amarguras / Y me desperté menos triste / El dolor entregaba al mar / En cuanto a las orillas contaba / La razón por qué partiste / Sin ti seguiré el viaje / Como el río que abandona su orilla / Y continúa solo / Es con la fuerza de la corriente / Que se reparte entre la gente / Que yo encuentro mi camino

Por um acaso

Entendi que era verdade / Toda aquela claridade / A entrar pela janela / Vi teus olhos a brilhar / Duma cor que vem do mar / E de todas a mais bela / Foi o encanto desse olhar / Que me fez acreditar / Na repentina verdade / Corri para porta da rua / E a vontade nua e crua / Era agora realidade / Eu por ti então tirei / As cortinas que fechei / Noutro tempo que vivi / Entre crenças nublosas / Tuas súplicas teimosas / Me juntaram mais a ti / Lembro esse dia distante / Em que só por um instante / Esqueci a cortina aberta / Afinal um esquecimento / Revelou num só momento / Toda a luz da descoberta

Por casualidad 

Entendí que era verdad / Toda aquella claridad / Que entraba por la ventana / Vi tus ojos brillando / Con un color que viene del mar / Y de todos el más bello / Fue el encanto de ese mirar / Que me hizo creer / En la repentina verdad / Corrí a la puerta de la calle / Y el deseo desnudo y crudo / Era ahora realidad / Yo por ti entonces corrí / Las cortinas que abrí / En otro tiempo que viví / Entre creencias nubladas / Tus súplicas obstinadas / Me unieron más a ti / Recuerdo ese día distante / En que sólo por un instante / Olvidé la cortina abierta / Al final un olvido / Reveló en un solo momento / Toda la luz descubierta

Memórias de um chapéu

Quisera então saber toda a verdade / De um chapéu na rua encontrado / Trazendo a esse dia uma saudade / De algum segredo antigo e apagado / Sentado junto à porta desse encontro / Ficando sem saber a quem falar / Parado sem saber qual era o ponto / Em que devia então eu começar / Parada na varanda estava ela a meditar / Quem sabe se na chuva, no sol, no vento ou mar / E eu ali parado perdi-me a delirar / Se aquela beleza era meu segredo a desvendar / Porém apagou-se a incerteza / Eram traços de beleza os seus olhos a brilhar / E vendo que outro olhar em frente havia / Só não via quem não queria da paixão ouvir falar / Um dia entre a memória e o esquecimento / Colhi aquele chapéu envelhecido / Soltei o pó antigo entregue ao vento / Lembrando aquele sorriso prometido / As abas tinham vincos mal traçados / Marcados pelas penas ressequidas / As curvas eram restos enfeitados / De um corte de paixões então vividas

Memorias de un sombrero

Quisiera entonces saber toda la verdad / De un sombrero encontrado en la calle / Trayendo a ese día una saudade / De algún secreto antiguo y apagado / Sentado junto a la puerta de ese encuentro / Quedándome sin saber a quién hablar / Parado sin saber cuál era el punto / En que yo debía entonces comenzar / Parada en la baranda ella estaba meditando / Quién sabe si en la lluvia, en el sol, en el viento o el mar / Y yo parado allí me perdí a delirar / Si aquella belleza era mi secreto a desvelar / Sin embargo se apagó la duda / Eran trazos de belleza sus ojos brillando / Y viendo que enfrente había otra mirada / Sólo no veía quien no quería oír hablar de pasión / Un día entre la memoria y el olvido / Cogí aquel sombrero envejecido / Le quité el polvo antiguo y lo entregué al viento / Recordando aquella sonrisa prometida / Las alas tenían dobleces mal trazadas / Marcadas por las penas resecas / Las curvas eran restos adornados / De un corte de pasiones mal vividas

Escadas sem corrimão

É uma escada em caracol / E que não tem corrimão / Vai a caminho do Sol / Mas nunca passa do chão / Os degraus, quanto mais altos / Mais estragados estão / Nem sustos nem sobressaltos / Servem sequer de lição / Quem tem medo não a sobe / Quem tem sonhos também não / Há quem chegue a deitar fora / O lastro do coração / Sobe-se numa corrida / Corre-se perigos em vão / Adivinhaste: é a vida / A escada sem corrimão

Escaleras sin pasamanos 

Hay una escalera de caracol / Que no tiene pasamanos / Va hacia el camino del sol / pero nunca pasa del suelo / Los escalones, cuanto más altos / Más gastados están / Ni sustos ni sobresaltos / Sirven siquiera de lección / Quien tiene miedo no la sube / Quien tiene sueños tampoco / Hay quien llega a dejar fuera / El lastre del corazón / Si se sube de una carrera / Se corren peligros en vano / Adivinaste: es la vida / La escalera sin pasamanos

Se ao menos houvesse um dia

Se ao menos houvesse um dia / Luas de prata gentia / Nas asas de uma gazela / E depois, do seu cansaço / Procurasse o teu regaço / No vão da tua janela / Se ao menos houvesse um dia / Versos de flor tão macia / Nos ramos com as cerejas / E depois, do seu outono / Se dessem ao abandono / Nos lábios, quando me beijas / Se ao menos o mar trouxesse / O que dizer e me esquece / Nas crinas da tempestade / As palavras litorais / As razões iniciais / Tudo o que não tem idade / Se ao menos o teu olhar / Desse por mim ao passar / Como um barco sem amarra / Deste fado onde me deito / Subia até ao teu peito / Nas veias de uma guitarra

Si al menos hubiese un día 

Si al menos hubiese un día / Lunas de plata salvaje / En las alas de una gacela / Y después de su cansancio / Buscase tu regazo / En el vano de tu ventana / Si al menos hubiese un día / Versos de flor tan suave / En ramos como cerezas / Y después de su otoño / Se diesen al abandono / En los labios, cuando me besas / Si al menos el mar trajese / Lo que se me olvida decir / En las crines de la tempestad / Las palabras litorales / Las razones iniciales / Todo lo que no tiene edad / Si al menos tu mirada / Reparase en mí al pasar / Como un barco sin amarras / De este fado donde me acuesto / Subiría hasta tu pecho / En las velas de mi guitarra

Quem à janela

Ninguém sabe por que fados / Os ventos sopram sozinhos / Às janelas da saudade / Arrastando tempestades / Que nos fustigam as carnes / Desfazendo com uivados / O que foi a nossa imagem / Resto de nós, quase aragem / À janela / À janela / À janela / E haverá um lugar / Onde toda esta colheita / De razões mais que maduras / Fermente enfim descansada / Desfazendo até ao osso / Este esboço de pureza / Desfeito em água mirada / Que está aonde e é o quê / À janela / À janela / À janela / Bato ao postigo, à vidraça / Responde o eco, batendo / Não sei se lá está alguém / Ou não quer, não pode ouvir-me / Quisera eu estar lá dentro / E fora também, batendo / Quisera eu ser alívio / Pra nosso alívio encontrar 

Quien a la ventana

Nadie sabe por qué fados / Los vientos soplan solos / A las ventanas de la saudade / Arrastrando tempestades / Que nos fustigan las carnes / Deshaciendo con aullidos / Lo que fue nuestra imagen / Resto de nosotros, casi una brisa / A la ventana / A la ventana / A la ventana / Y habrá un lugar / Donde toda esta recolecta / De razones más que maduras / Fermente al fin descansada / deshaciendo hasta el hueso / Este esbozo de pureza / Deshecho en agua mirada / Que está donde y es lo que es / A la ventana / A la ventana / A la ventana / Golpeo el postigo, el ventanal / Responde el eco, batiendo / No se si ahí hay alguien / O no quiere o no puede oírme / Yo quisiera estar ahí dentro / Y fuera también, golpeando / Para encontrar nuestro alivio

Fado da recaída

Lembrei-me de ti sem querer / Entrei num bar e bebi / Paguei a conta de dois / Não consigo perceber / Porque me lembrei de ti / Todo este tempo depois / Fui à rua onde vivias / Vi a tua luz acesa / Apeteceu-me beber / Fui ao bar onde tu ias / E sentado à mesma mesa / Lembrei-me de ti sem querer / Perguntei sem reparar / Com quem vivias agora / Se alguém sabia de ti / Mas antes de alguém falar / Levantei-me, fui-me embora / Entrei num bar e bebi / Que feitiço ou que loucura / Voltar a sentir ciúme / Todo este tempo depois / Andar à tua procura / E nos sítios do costume / Pagar a conta de dois / Rua em rua, bar em bar / Já não sei se te esqueci / Se não te quero esquecer / O que procuro encontrar / Para me perder de ti / Não consigo perceber / Lá em cima continua / A tua janela acesa / Como quando te perdi / E no bar da tua rua / Há dois copos sobre a mesa / Porque me lembrei de ti / Em tantas noites iguais / Perdoei o que tardaste / Quando vivemos os dois / Não te perdoo nunca mais / A noite que me estragaste / Todo este tempo depois

Fado da recaída

Me acordé de ti sin querer / Entré en un bar y bebí / Pagué la cuenta de dos / No consigo percibir / Porque me acordé / Todo este tiempo después / Fui a la calle en que vivías / Vi tu luz encendida / Me apeteció beber / Fui al bar donde tú ibas / Y sentado en la misma mesa / Me acordé de ti sin querer / Pregunté sin darme cuenta / Con quién vivías ahora / Si alguien sabía de ti / Pero antes de que alguien hablase / Me levanté, me fui fuera / Entré en un bar y bebí / Qué hechizo o qué locura / Volver a sentir celos / Después de todo este tiempo / Andar buscándote / En los sitios de costumbre / Pagar la cuenta de dos / De calle en calle, de bar en bar / Ya no sé si te olvidé / Si no te quiero olvidar / Lo que busco encontrar / Para olvidarme de ti / No consigo darme cuenta / Allí arriba continúa / Tu ventana encendida / Como cuando te perdí / Y en el bar de tu calle / Hay dos cuerpos sobre la mesa / Porque me acordé de ti / En tantas noches iguales / Perdoné o que tardaste / Cuando vivimos los dos / No te perdono nunca más / La noche que me dañaste / Todo este tiempo después

Balada

Na rua da solidão / Sem alegrias nem dores / Habita o meu coração / À espera dos seus amores / Meus amores onde estão? / Uns partiram sem querer / Andam perdidos alguns / Outros são meus sem os ter / Como se fossem nenhuns / Quando e como os posso ver? / Há castelos, há inimigos / Que não os deixam passar / Mas sei que não temem perigos / E sei que me ouvem chamar / Quero meus os seus castigos! / Da rua da solidão / Onde o sol mal chega às flores / Parte, vai, meu coração / Em busca dos teus amores / Meus amores vencerão

Balada 

En la calle de la soledad / Sin alegrías ni dolores / Habita mi corazón / A la espera de sus amores / ¿Mis amores dónde están? / Unos partieron sin querer / Andan perdidos algunos / Otros son míos sin tenerlos / Como si fuesen ninguno / ¿Cuándo y cómo los puedo ver? / Hay castillos, hay enemigos / Que no los dejan pasar / Pero sé que no temen peligros / Y sé que me oyen llamar / ¡Quiero míos sus castigos! / De la calle de la soledad / Donde el sol apenas llega a las flores / Parte, se va mi corazón / En busca de tus amores / Mis amores vencerán

Canção

Não te deites coração / À sombra dos teus amores / Não durmas, olha por eles / Com alegrias e dores / Não tenhas medo. O calor / Que vem das serras ao mar / Erguendo incêndios, não queima / O que não é de queimar / Agradece ao vento frio / Que traz chuva miudinha / É neve que se aproxima / Tormenta que se avizinha... / Nos incêndios naturais / Queimo ramos de saudades / E faz a tua canção / Do grito das tempestades

Canción

No te acuestes corazón / A la sombra de tus amores / No duermas, mira por ellos / Con alegrías y dolores / No tengas miedo. El calor / Que viene de las sierras al mar / Irguiendo incendios, no quema / Lo que no debe quemar / Agradece al viento frío / Que trae lluvia pequeñita / Y nieve que se aproxima / Tormenta que se avecina... En los incendios naturales / Quemo ramos de saudades / Y haz tu canción / Del grito de las tempestades

Não posso

Pedes-me um canto, anjo? / Ai não, não sei cantar-te / Hinos para elevar-te / Não sabe a minha voz / Os grandes sentimentos / As majestosas cenas / Sentimo-las apenas / Que mais podemos nós? / Nas praias do oceano / Ao som dos seus bramidos / Enlevam-se os sentidos / Escuta o coração / Ai não me peças cantos! / O sentimento é mudo / Diga o silêncio tudo / Quanto eu não sei cantar / Mas, se amas ... se no peito / Intima voz te fala / Tudo o que a lira cala / Lerás no meu olhar

No puedo

¿Me pides un canto, ángel? / Ay, no, no sé contarte / Himnos para elevarte / No sabe mi voz / Los grandes sentimientos / Las majestuosas escenas / Las sentimos apenas / ¿Qué más podemos nosotros? / En las playas del océano / Al son de sus bramidos / Se extasían los sentidos / Escucha el corazón / ¡Ay, no me pidas cantos! / El sentimiento es mudo / Diga todo el silencio / Cuanto yo no sé cantar / Pero, si amas... si en el pecho / Intima voz te habla / Todo lo que la lira calla / Leerás en mi mirar

Sopra demais o vento

Sopra demais o vento / Para eu poder descansar / Há no meu pensamento / Qualquer coisa que vai parar / Talvez esta coisa da alma / Que acha real a vida / Talvez esta coisa calma / Que me faz a alma vivida / Sopra um vento excessivo / Tenho medo de pensar / O meu mistério eu avivo / Se me perco a meditar / Vento que passa e esquece / Poeira que se ergue e cai / Ai de mim se eu pudesse / Saber o que em mim vai!

Sopla de más el viento 

Sopla de más el viento / Para que yo pueda descansar / Hay en mi pensamiento / Cualquier cosa que va a parar / Tal vez esta cosa del alma / Que encuentra real la vida / Tal vez esta cosa calma / Que me hace el alma vivida / Sopla un viento excesivo / Tengo miedo de pensar / Mi misterio yo lo avivo / Si me pierdo en meditar / Viento que pasa y olvida / Polvareda que se yergue y cae / ¡Ay de mí, si yo pudiese / Saber lo que va en mí!

A luz de Lisboa (Claridade)

Quando Lisboa escurece / E devagar adormece / Acorda a luz que me guia / Olho a cidade e parece / Que é de tarde que amanhece / Que em Lisboa é sempre dia / Cidade sobrevivente / De um futuro sempre ausente / De um passado agreste e mudo / Quanto mais te enches de gente / Mais te tornas transparente / Mais te redimes de tudo / Acordas-me adormecendo / E dos sonhos que vais tendo / Faço a minha realidade / E é de noite que eu acendo / A luz do dia que aprendo / Com a tua claridade

La luz de Lisboa (Claridad) 

Cuando Lisboa oscurece / Y despacio adormece / Despierta la luz que me guía / Miro la ciudad y parece / Que es de tarde que amanece / Que en Lisboa es siempre de día / Ciudad superviviente / De un futuro siempre ausente / De un pasado agreste y mudo / Cuanto más te llenas de gente / Más transparente te vuelves / Más te redimes de todo / Me despiertas adormeciendo / Y de los sueños que vas teniendo / Hago mi realidad / Y es por la noche que enciendo / La luz del día que aprendo / Con tu claridad

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