Camané - Infinito presente (2015)


Infinito Presente (2015)

1.- Os Dois Horizontes / 2.- Chega-Se A Este Ponto / 3.- Conta E Tempo / 4.- Paraíso / 5.- Medalha Da Senhora Das Dores / 6.- Passaste Por Mim / 7.- Ao Correr Da Pena / 8.- Quando O Fado Acontece / 9.- Quatro Facas / 10.- Lume / 11.- Ai Miriam / 12.- Desastre / 13.- IV Acto / 14.- A Correr / 15.- Aqui Está-Se Sossegado / 16.- Infinito Presente / 17.- Triste Sorte

Os Dois Horizontes

Um horizonte, a saudade / Do que não há de voltar / Outro horizonte, a esperança / Dos tempos que hão de chegar / O gozo do amor, sonhado / Num olhar profundo e ardente / Tal é na hora presente / O horizonte do passado / Ou ambição de grandeza / Que no espírito calou / Desejo de amor sincero / Que o coração não gozou / Ou um viver calmo e puro / À alma convalescente / Tal é na hora presente / O horizonte do futuro / Na avidez do bem sonhado / Ao nosso espírito ardente / Nunca o presente é passado / Nunca o futuro é presente

Los dos horizontes

Un horizonte, la saudade / De lo que no ha de volver / Otro horizonte, la esperanza / De los tiempos que han de llegar / El gozo del amor, soñado / En un mirar profundo y ardiente / Es tal en la hora presente / El horizonte del pasado / O ambición de grandeza / Que en el espíritu caló / Deseo de amor sincero / Que el corazón no gozó / O un vivir calmo y puro / Al alma convaleciente / Es tal en la hora presente / El horizonte del futuro / En la avidez del bien soñado / A nuestro espíritu ardiente / Nunca el presente es pasado / Nunca el futuro es presente

Chega-se A Este Ponto

Chega-se a este ponto em que se fica à espera / Em que apetece um ombro, o pano de um teatro / Um passeio de noite, a sós, de bicicleta / O riso que ninguém reteve num retrato / Folheia-se num bar o horário da morte / Encomenda-se um gin enquanto ela não chega / Loucura foi não ter incendiado o bosque / Já não em que mês se deu aquela cena / Já não sei em que mês / Chega-se a este ponto em que se fica à espera / Chega-se a este ponto a arrepiar caminho / Soletrar no passado a imagem do futuro / Abrir uma janela, acender o cachimbo / Para deixar no mundo uma herança de fumo / Rola nais um trovão, chega-se a este ponto / Em que apetece um ombro e nos pedem um sabre / Em que a rota do sol è a roda do sono / Chega-se a este ponto em que a gente não sabe

Se llega a ese punto 

Se llega a ese punto en que se está a la espera / En que apetece un hombro, el telón de un teatro / Un paseo de noche, a solas, en bicicleta / La risa que nadie retuvo en un retrato / Se hojea en un bar el horario de la muerte / Se pide una ginebra mientras ella no llega / Locura fue no haber incendiado el bosque / Ya no sé en qué mes se produjo esa escena / Ya no sé en qué mes / Se llega a ese punto en que se está a la espera / Se llega a ese punto en que se da la vuelta / Se deletrea en el pasado la imagen del futuro / Abrir una ventana, encender la pipar / Para dejar en el mundo una herencia de humo / Rueda un trueno más, se llega a ese punto / En que apetece un hombro y nos piden un sable / En que la ruta del sol es la ruta del sueño / Se llega a ese punto en que la gente no sabe...

Conta E Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo / E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta / Mas, como dar, sem tempo, tanta conta / Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo? / Para dar minha conta feita a tempo / O tempo me foi dado, e não fiz conta / Não quis, sobrando tempo, fazer conta / Hoje, quero acertar conta, e não há tempo / Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta / Não gasteis o vosso tempo em passatempo / Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta! / Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo / Quando o tempo chegar, de prestar conta / Chorarão, como eu, o não ter tempo

Cuenta y tiempo

Dios pide estricta cuentas de mi tiempo / Y yo voy de mi tiempo, a darle cuentas / Pero, ¿cómo dar, sin tiempo, tanta cuentas / Yo, que gasté, sin cuentas, tanto tiempo? / Para dar mis cuentas hechas a tiempo / El tiempo me fue dado, y no hice cuentas / No quise, sobrándome el tiempo, hacer cuentas / Hoy quiero ajustar cuentas, y no hay tiempo / Ay, vosotros que tenéis tiempo sin tener cuentas / No gastéis vuestro tiempo en pasatiempos / ¡Cuidad, mientras haya tiempo, vuestras cuentas! / Pues, aquellos que, sin cuenta, gastan tiempo / Cuando llegue el tiempo de presentar cuentas / Llorarán como yo el no tener tiempo.

Paraíso

Deixa ficar comigo a madrugada / Para que a luz do Sol me não constranja / Numa taça de sombra estilhaçada / Deita sumo de lua e de laranja / Arranja uma pianola, um disco, um posto / Onde eu ouça o estertor de uma gaivota / Crepite, em derredor, o mar de Agosto / E o outro cheiro, o teu, à minha volta! / Depois, podes partir. Só te aconselho / Que acendas, para tudo ser perfeito / À cabeceira a luz do teu joelho / Entre os lençóis o lume do teu peito / Podes partir / De nada mais preciso / Para a minha ilusão do Paraíso

Paraíso

Deja quedarse conmigo la madrugada / Para que la luz del sol no me ahogue / En una copa de sombra hecha trizas / Echa zumo de luna y de naranja / Consigue una pianola, un disco, un sitio / Donde yo escuche el estertor de una gaviota / Crepite alrededor el mar de agosto / Y el otro olor, el tuyo, a mí regreso / Después, puedes marcharte. Sólo te aconsejo / Que enciendas, para que todo sea perfecto / En el cabecero la luz de tu rodilla / Entre las sábanas la lumbre de tu pecho / Puedes partir / Nada más necesito / Para mi ilusión del Paraíso

Medalha Da Senhora Das Dores

Não desvies os teus olhos dos meus / Quando passo à tua porta / Trago sempre no meu peito / A medalhinha inocente / Que me ofereceste ao escurecer / Naquele domingo tão triste / Só luzia a chama morna, fraquinha / Dum candeeiro de loiça pintada / Quando atiraste o cabelo p'ra trás / E da tua garganta firme, certeira / Soltou-se o fado / Ai tão amarga, dolorosa despedida / A santa tem sete espadas cravadas / Num coração com espinhos d'oiro na coroa / Lá se me foi o amor / A sangrar lágrimas puras e tristes / Foi-se o amor eu fiquei só / Tu em esplendor / Estamos quites

Medalla de la Señora de los Dolores

No desvíes tus ojos de los míos / Cuando paso por tu puerta / Traigo siempre en mi pecho / La medallita inocente / Que me ofreciste al oscurecer / Aquel domingo tan triste / Sólo lucía la llama mortecina, débil / De un quinqué de loza pintada / Cuando te echaste el cabello hacia atrás / Y de tu garganta firme, segura / Se soltó un fado / Ay, tan amarga y dolorosa despedida / La santa tiene siete espadas clavadas / En un corazón con espinas de oro en la corona / Se me marchó el amor / Sangrando lágrimas puras y tristes / Se fue el amor y me quedé solo / Tú en un fulgor / Estamos separados

Passaste Por Mim

Já a tarde ia no fim / Quando passaste por mim / Sem que eu tenha reparado / Depois do que já passei / Foi mais um passo que dei / Para esquecer o passado / Nem reparei, acredita / Como tu ias bonita / No vestido que eu te dei / Nem que levavas contigo / O nosso disco preferido / E o livro que te emprestei / Passou-me pela cabeça / Talvez já não te conheça / E passo tão bem assim / Mas seja lá p'lo que for / Passaria bem melhor / Se não passasses por mim / Tudo isto há-de passar / E eu hei-de acreditar / Que passaste e eu não te vi / Até lá, que queres que eu faça / Se esta saudade não passa / E eu não passo sem ti

Pasaste junto a mí 

Ya la tarde tocaba a su fin / Cuando pasaste junto a mí / Sin que yo me diese cuenta / Fue un paso más que di / Para olvidar el pasado / Ni me di cuenta, créelo / De lo hermosa que ibas / Con el vestido que te regalé / No que llevabas contigo / Nuestro disco preferido / Y el libro que te presté / Se me pasó por la cabeza / Que tal vez ya no te conozca / Y estoy tan bien así / Pero sea por lo que sea / Sería mucho mejor / Si no pasases junto a mí / Todo esto ha de pasar / Y yo he de creer / Que pasaste y no te vi / Hasta entonces, qué quieres que haga / Si esta saudade no pasa / Y yo no paso sin ti

Ao Correr Da Pena

Não fora tanta porta que se fecha / De cada vez que te abro o coração / Não fora tu só teres razões de queixa / E eu ter de te dar sempre a razão / Não fora tanta porta que se fecha / De cada vez que te abro o coração / Não fora este silêncio como um fardo / Que pesa sobre nós a toda hora / E tu não entenderes que quando tardo / É só p'ra não te ouvir mandares-me embora / Não fora este silêncio como um fardo / Que pesa sobre nós a toda hora / Não fora tu dizeres que não partiste / Apenas porque tens pena de mim / E eu acreditar, ao ver-te triste / Que mesmo sendo pena, é mesmo assim / Não fora tu dizeres que não partiste / Apenas porque tens pena de mim / Não fora tanta história que não presta / Pesar demais no livro da memória / E ao correr da pena que nos resta / Escrivíamos de novo a nossa história / E ao correr da pena que nos resta / Escrivíamos de novo a nossa história

Al correr de la pena

Si no hubiera tanta puerta que se cierra / Cada vez que te abro el corazón / Si no fuera que tú sólo tienes razones de queja / Y yo tengo que darte siempre la razón / Si no hubiera tanta puerta que se cierra / Cada vez que te abro el corazón / Si no fuera este silencio como un fardo / Que pesa sobre nosotros a todas horas / Y tú no entendieses que cuando llego tarde / Es sólo para no escuchar cómo me echas / Si no fuera este silencio como un fardo / Que pesa sobre nosotros a todas horas / Si no fuera porque decías que no partiste / Apenas porque tenías pena de mí / Y yo creyendo, al verte triste / Que incluso siendo por pena, era así / Si no fuera porque decías que no partiste / Apenas porque tenías pena de mí / Si no existiera tanta historia que no se presta / A pesar de más en el libro de la memoria / Y al correr de la pena que nos queda / Escribiéramos de nuevo nuestra historia / Y al correr de la pena que nos queda / Escribiéramos de nuevo nuestra historia

Quando O Fado Acontece

Quando uma voz se levanta / Veemente como uma prece / Quando è a alma que canta / È quando o fado acontece / È a saudade de alguém / È riso, melancolia / Desespero, fantasia / Uma razão que se tem / E já não se sabe bem / O que alegra ou entristece / Mas tudo em volta emudece / Quando uma verdade è tanta / Quando uma voz se levanta / Veemente como uma prece / É uma pausa, um cansaço / Uma aposta desmedida / Tão inútil como a vida / Uma pedra ou um estilhaço / Ou apenas mais un passo / P'ra saber que canto è esse / Que ao ouvi-lo mais parece / Que já não vem da garganta; / Quando è a alma que canta / È quando o fado acontece

Cuando el fado sucede

Cuando una voz se levanta / Vehemente como una súplica / Cuando es el alma quien canta / Es cuando el fado sucede / Es la saudade de alguien / Es risa, melancolía / Desesperación, fantasía / Una razón que no se tiene / Y ya no se sabe bien / Lo que alegra o entristece / Pero todo alrededor enmudece / Cuando una verdad es tanta / Cuando una voz se levanta / Vehemente como una súplica / Es una pausa, un cansancio / Una apuesta desmedida / Tan inútil como la vida / Una piedra o una astilla / O apenas un paso más / Para saber qué canto es ese / que al oírlo más parece / Que ya no viene de la garganta; / Cuando es el alma quien canta / Es cuando el fado sucede

Quatro Facas

Quatro letras nos matam quatro facas / que no corpo me gravam o teu nome. / Quatro facas amor com que me matas / sem que eu mate esta sede e esta fome. / Este amor é de guerra. (De arma branca). / Amando ataco amando contra-atacas / este amor é de sangue que não estanca. / Quatro letras nos matam quatro facas. / Armado estou de amor. E desarmado. / Morro assaltando morro se me assaltas. / E em cada assalto sou assassinado. / Quatro letras amor com que me matas. / E as facas ferem mais quando me faltas. / Quatro letras nos matam quatro facas.

Cuato dagas

Cuatro letras nos matan cuatro dagas / que en el cuerpo me graban tu nombre. / Cuatro dagas amor con que me matas / sin que yo mate esta sed y este hambre. / Este amor es de guerra. (De arma blanca). / Amando ataco amando contraatacas / este amor es de sangre que no para. / Cuatro letras nos matan cuatro dagas. / Armado estoy de amor. Y desarmado. / Muero asaltando muero si me asaltas. / Y en cada asalto soy asesinado. / Cuatro letras amor con que me matas. / Y las dagas hieren más cuando me faltas. / Cuatros letras nos matan cuatro dagas.

Lume

Foi assim, era costume / Tu vinhas pedir-me lume / Ao balcão daquele bar / Eu disse que não, primeiro / Depois, comprei um isqueiro / E até voltei a fumar / As noites que nós passamos / Quantos cigarros fumámos / Tanto lume que eu te dei / Um dia acordei com frio / Estava o cinzeiro vazio / E nunca mais te encontrei / Mas ontem, naquele bar / De repente, vi-te entrar / Foste direita ao balcão / Como era o teu costume / Vieste pedir-me lume / Mas eu disse-te que não / Se quando te foste embora / Deitei o isqueiro fora / Que lume te posso eu dar? / Pede a outro que te ajude / P'ra bem da minha saúde / Eu já deixei de fumar / Sem dormir de madrugada / Ouvi teus passos na escada / Vi da janela, o teu carro / Debaixo do travesseiro / Encontraste o meu isqueiro / E acendeste-me o cigarro

Lumbre

Fue así, era la costumbre / Tú venías a pedirme lumbre / A la barra de aquel bar / Yo dije que no, primero / Después, compré un mechero / Y hasta volví a fumar / Las noches que nosotros pasamos / Cuántos cigarros fumamos / Tanta lumbre yo te di / Un día desperté con frío / Estaba el cenicero vacío / Y nunca más te encontré / Pero ayer, en aquel bar / De repente, te vi entrar / Te fuiste derecha al balcón / Como era tu costumbre / Viniste a pedirme lumbre / Pero yo te dije que no / Si cuando te fuiste lejos / Dejé fuera mi mechero / ¿Qué lumbre te puedo dar? / Pide a otro que te ayude / Por el bien de mi salud / Yo ya dejé de fumar / Sin dormir de madrugada / Oí tus pasos en la escalera / Vi por la ventana tu coche / Debajo de la almohada / Encontrarse mi mechero / Y me encendiste el cigarro

Ai Miriam

Quem te visse aprumadinha / Camisa, calça de ganga / Colarzinho de missanga / E quase sempre sozinha / Mas chegando a madrugada / Montavas a bicicleta / De t-shirt e calça preta / E grande capa doirada / Uma argola na orelha / E uma mochila vermelha / Quem havia de dizer / O que andavas a fazer / Ai Miriam... quem te visse / A passear no Chiado / Com o teu ar aprumado / De repente tão reguila / E o que era mais estranho / É que essa tua mochila / Parecia sem tamanho / Lá cabia o que tiravas / De toda a parte onde andavas / Sem que ninguém te apanhasse / E sem que ninguém te visse / Qual Robin que se inspirasse / Nas aventuras de Alice / Quem havia de dizer / O que tu ias trazer / Ai Miriam... quem te visse / De dia, uma boa menina / E à noite, super heroína / Vejam só as coisas que ela trazia: / «Um grande queijo da serra / Um dicionário, um colchão / Um bom pedaço de terra / Um combóio, um avião / Uma fábrica, um lagar / Uma viagem p'lo mar / A pomada e a aspirina / A cirurgia, a consulta / Estacionamento sem multa / Um posto de gasolina / Um bilhete pró teatro / Umas férias em Berlim / Uma casa e um jardim / Um alvará e um contrato / Um bife, uma sopa quente / Uma visita a Foz Côa / Uns patins, uma meloa / O expresso do Oriente / Uma sara de trigo / Um livro de ilustrações / E um outro muito antigo / Um parque de diversões / Um presunto, uma braguesa / Uma praia tropical / Um carnaval em Veneza / Uma ceia de natal / Os discos do violinista / Os Dvds da fadista / Um trabalho criativo / Um bom canal de tv / E os Stones ao vivo / Ida e volta a São Tomé / Um piano e um trator / Um pão, um computador / Uma pescada, um balet / Uma sessão de cinema / Um brinquedo e um poema / Uns ténis, uma aguarela / Uma toalha de linho / Uma bola, uma traineira / Um curso, um barco à vela / Um rebanho, uma lareira / Um Porto, um verde fresquinho» / E muito mais, muito mais / As coisas essenciais / P' ra se poder escolher / A vida que se quer ter / E de toda a parte vinham / Os que nunca nada tinham / Fazer um grande festim / Com tudo o que tu trazias / Como se todos os dias / Tudo fosse sempre assim / Quem è que pode saber / O que vai acontecer / Ai Miriam... quem te seguisse / Se muitos fossem capazes / De fazer o que tu fazes / Entretanto nestas bandas / Já pergunta toda a malta / Ai Miriam... onde è que andas / Tu não és a solução / Mas fazes cá muita falta

Ay, Miriam

Quien te viese con tu aplomo / Camisa, pantalón vaquero / Collarcito de cuentas / Y casi siempre sola / Pero al llegar la madrugada / Montabas en tu bicicleta / Con camiseta y pantalón ajustado / Y una gran capa dorada / Una argolla en una oreja / Y una mochila colorada / Quién podría decir / Lo que ibas a hacer / Ay, Miriam... quien te viese /Paseando por el Chiado / Con tu aire seguro / De repente tan traviesa / Y lo que era más extraño / Es que esa mochila tuya / No parecía tener tamaño / Allí cabía lo que cogías / Por todas partes por donde ibas / Sin que nadie te atrapase / Y sin que nadie te viese / Como un Robin que se inspirase / En las aventuras de Alicia / Quién podría decir / Lo que ibas a hacer / Ay, Miriam... quien te viese / De día, una buena chica / Y de noche, súper-heroína / Vean sólo las cosas que ella traía: / «Un gran queso de la sierra / Un diccionario, un colchón /Un buen pedazo de tierra / Un tren, un avión / Una fábrica, una bodega / Un viaje por el mar / La pomada y la aspirina / La cirugía y la consulta / Estacionamiento sin multa / Un puesto de gasolina / Un billete para el teatro / Vacaciones en Berlín / Una casa y un jardín / Un albarán y un contrato / Un filete y una sopa caliente / Una visita a Foz Côa / Unos patines, un melón / El expreso de Oriente / Una saca de trigo / Un libro de ilustraciones / Y otro muy antiguo / Un parque de atracciones / Un jamón, una boina / Una playa tropical / Un carnaval de Venecia / Una cena de Navidad / Los discos del violinista / Los Dvds de la fadista / Un trabajo creativo / Un buen canal de tv / Y los Stones en vivo / Ida y vuelta a San Tomé / Un piano y un tractor / Un pan, un ordenador / Una pescadilla, un ballet / Una sesión de cine / Un juguete y un poema / Unos tenis, una acuarela / Una toalla de lino / Una pelota, una barca / Un curso, un barco a vela / Un rebaño, una chimenea / Un Oporto, un verde fresquito» / Y mucho más, mucho más / Las cosas esenciales / Para poder escoger / La vida que se quiere tener / Y de todas partes venían / Los que nunca tenían nada / Para hacer una gran fiesta / Con todo lo que tú traías / Como si todos los días / Fuese todo siempre así / Quién es quien puede saber / Lo que va a suceder / Ay, Miriam, quién te imitase / Si muchos fuesen capaces / De hacer lo que tú haces / Mientras tanto por esta parte / Ya se pregunta toda la gente / Ay, Miriam... ¿por dónde andas? / Tú no eres la solución / Pero aquí haces mucha falta

Desastre

A pedra bateu na fachada / A casa ruiu / A onda varreu a amurada / Perdeu-se o navio / O lápis sujou-se na lama / Estragou o desenho / A jovem matou-se na cama / Ao lado de um estranho / O homem saltou p'la janela / Morreu na calçada / O grito soou na viela / Ninguém deu por nada / A faca apareceu na mão / O corpo caiu / O fogo abateu a prisão / Mas ninguém fugiu / A chave sumiu no tapete / A porta fechou / A sorte saiu no bilhete / Que ninguém comprou / O guarda soltou o ladrão / Prendeu o pedinte / O morto acordou em vão / No dia seguinte / O medo impediu a diferença / O sono não veio / No palco vazio a presença / Que ficou a meio / O sino tocou a rebate / A igreja ardeu / O pai pagou o resgate / O filho morreu / O mar levou muita gente / Ninguém foi ao fundo / O rato matou a serpente / Na selva mundo / São voltas e voltas da vida / A vida è assim / Às voltas nas voltas da vida / Que farei de mim / São voltas e voltas da vida / A vida è assim / Às voltas nas voltas da vida / Que farei de mim

Desastre 

La piedra golpeó en la fachada / La casa se hundió / La ola barrió la defensa / El navío se perdió / El lápiz se ensució en el lodo / Dañando el dibujo / La joven se mató en la cama / Al lado de un extraño / El hombre saltó por la ventana / Murió en la calzada / El grito sonó en la callejuela / Nadie se enteró de nada / La navaja apareció en la mano / El cuerpo cayó / El fuego abatió la prisión / Pero nadie huyó / La llave se escondió en el felpudo / La puerta se cerró / La suerte tocó en el billete / Que nadie compró / El guardia soltó al ladrón / Detuvo al mendigo / El muerto se despertó en vano / Al día siguiente / El miedo impidió la diferencia / El sueño no vino / En el escenario vacío la presencia / Que se quedó en medio / La campana tocó a arrebato / La iglesia ardió / El padre pagó el rescate / El hijo murió / El mar se llevó a mucha gente / Ninguno fue al fondo / El ratón mató a la serpiente / En la selva del mundo / Son vueltas y vueltas de la vida / La vida es así / En las vueltas y vueltas de la vida / Qué será de mí / Son vueltas y vueltas de la vida / La vida es así / En las vueltas y vueltas de la vida / Qué será de mí

IV Acto

Sem memória nem intento / E sempre a recomeçar / Sem mágoa ou ressentimento / Ser apenas alimento / Se eu aprendesse com o mar / Sem rumo nem pensamento / Sem destino nem lugar / Se eu aprendesse com o vento / Ser apenas o momento / Que se contenta em passar / Se eu pudesse, como o vento / Se eu pudesse, como o mar / Ser apenas elemento / Ar e água em movimento / Se eu pudesse descansa; / Ai ser o mar e o vento / Ser apenas o que invento / Se eu pudesse descansar

IV Acto

Sin memoria ni intento / Y siempre recomenzando / Sin amargura o resentimiento / Ser apenas alimento / Si yo aprendiese con el mar / Sin rumbo ni pensamiento / Sin destino ni lugar / Si yo aprendiese con el viento / A ser apenas el momento / Que se contenta en pasar / Si yo pudiese, como el viento / Si yo pudiese, como el mar / Ser apenas elemento / Aire y agua en movimiento / Si yo pudiese descansar / Ay, ser el mar y el viento / Ser apenas lo que invento / Si yo pudiese descansar

A Correr

Corre a gente decidida / Pra ter a vida que quer / Sem repararmos que a vida / Passa por nós a correr / Às vezes até esquecemos / Nessa louca correria / Porque motivo corremos / E para onde se corria / Buscando novos sabores / Corre-s'atrás de petiscos / Quem corre atrás de valores / Corre sempre grandes riscos / E dá pra ser escorraçado / Correr de forma dif'rentre / Há quem seja acorrentado / Por correr contr'a corrente / Num constante corropio / Já nem sequer nos ocorre / Que a correr até o rio / Chegando ao mar também morre / Vou atrás do prejuiso / Vou à frente d'ameaça / Morremos sem ser preciso / E a correr, a vida passa / Percorrendo o seu caminho / Correndo atrás dum sentido / Há quem dance o corridinho / Eu canto o fado corrido / E o que me ocorre agora / Pra não correr qualquer p'rigo / É correr daqui pra fora / Antes que corram comigo / Vou correr daqui pra fora / Antes que corram comigo

A Correr

Corre la gente decidida / para tener la vida que quiere / Sin que reparemos en que la vida / Pasa corriendo por nosotros / A veces incluso olvidamos / En esa loca carrera / Por qué motivo corremos / Y hacia donde se corría / Buscando nuevos sabores / Se corre detrás de caprichos / Quien corre detrás de valores / Corre siempre grandes riesgos / Y se arriesga a ser expulsado / Al correr de forma diferente / Hay quien sea encadenado / por correr contra corriente / En un constante correr / Ya ni siquiera nos ocurre / Que al correr hasta el río llegando al mar también muere / Voy detrás del prejuicio / Voy al frente de la amenaza / Morimos sin ser preciso / Y al correr, la vida pasa / Recorriendo su camino / Cuando detrás de un sentido / Hay quien dance el corridiño / Yo canto fado corrido / Y lo que me ocurre ahora / Para no correr ningún peligro / Es que corro de aquí hacia fuera / Antes que corran conmigo / Voy a correr de aquí hacia fuera / Antes que corran conmigo

Aqui Está-Se Sossegado

Aqui está-se sossegado / Longe do mundo e da vida / Cheio de não ter passado / Até o futuro se olvida / Tinha os gestos inocentes / Seus olhos riam no fundo / Mas invisíveis serpentes / Faziam-a ser do mundo / Aqui tudo é paz e mar / Que longe a vista se perde / Na solidão a tornar / Em sombra, o azul que é verde! / Não foi propósito, não / Os seus gestos inocentes / Tocavam no coração / Como invisíveis serpentes / Durmo, desperto e sozinho / Que tem sido a minha vida? / Velas de inútil moinho / Um movimento sem lida... / Nada explica nem consola / Tudo está certo depois / Mas a dor que nos desola / A mágoa de um não ser dois

Aquí se está sosegado 

Aquí se está sosegado / Lejos del mundo y de la vida / Lleno de no tener pasado / Hasta el futuro se olvida / Tenía los gestos inocentes / Sus ojos reían en el fondo / Pero invisibles serpientes / La hacían ser del mundo / Aquí todo es paz y mar / Que lejos la vista se pierde / En la soledad al volver / En sombra el azul que es verde / No fue propósito, no / Sus gestos inocentes / Tocaban el corazón / Como invisibles serpientes / Duermo, despierto y solo / ¿Qué es lo que ha sido mi vida? Velas de inútil molino / Un movimiento sin fruto... Nada explica ni consuela / Todo está bien después / Pero el dolor que nos desuela / La angustia de un no ser dos

Infinito Presente

Irrompe do teu corpo iluminado / toda a luz de que o mundo sente a falta / Não a que mais reluz Só a mais alta / Só a que nos faz ver o outro lado / do bosque onde o Futuro e o Passado / defrontam o Presente que os assalta / num combate indeciso a que nem falta / o sabor de saber-se ilimitado / Irrompe assim a luz entre os extremos / da mesma renovada madrugada / E vibra a cada instante um novo grito / Com essa luz do grito é que nós vemos / que Passado e Futuro não são nada / apenas o Presente é infinito / Passado e Futuro não são nada / apenas o Presente é infinito

Infinito presente

Irrumpe de tu cuerpo iluminado / toda la luz de la que el mundo siente la falta / No la que más reluce Sólo la más alta / Sólo la que nos hace ver el otro lado / del bosque donde el Futuro y el Pasado / se encaran al Presente que los asalta / en un combate indeciso al que no falta / el sabor de saberse ilimitado / Irrumpe así la luz entre los extremos / de la misma renovada madrugada / Y vibra a cada instante un nuevo grito / Con esa luz de grito es con la que nosotros vemos / que Pasado y Futuro no son nada / apenas el Presente es infinito / Pasado y Futuro no son nada / apenas el Presente es infinito

Triste Sorte

Ando na vida à procura / De uma noite menos escura / Que traga luar do céu / De uma noite menos fria / Em que não sinta agonia / De um dia a mais que morreu / Vou cantando amargurado / Vou de um fado a outro fado / Que fale de um fado meu / Meu destino assim cantado / Jamais pode ser mudado / Porque do fado sou eu / Ser fadista é triste sorte / Que nos faz pensar na morte / E em tudo o que em nós morreu / Andar na vida à procura / De uma noite menos escura / Que traga luar do céu

Triste suerte

Ando buscando en la vida / Una noche menos oscura / Que traiga luna del cielo / Una noche menos fría / En que no sienta la agonía / De un día más que murió / Voy cantando afligido / Voy de un fado a otro fado / Que hable de un fado mío / Mi destino así cantado / Jamás puede ser cambiado / Porque del fado soy yo / Ser fadista es triste suerte / Que nos hace pensar en la muerte / Y en todo lo que en nosotros murió / Andar buscando en la vida / Una noche menos oscura / Que traiga luna del cielo

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