Carminho - Fado (2009)


Carminho - Fado (2009)

1. Escrevi teu nome no vento / 2. A Bia da Mouraria / 3. Meu amor marinheiro / 4. Palavras dadas / 5. Espelho quebrado / 6. Marcha de Alfama / 7. O Tejo corre no Tejo / 8. A voz / 9. Voltar a ser / 10. Carta a Lisboa / 11. Carta a Leslie Burke / 12. Uma vida noutra vida / 13. Nunca é silêncio vão / 14. Senhora da Nazaré /  

Escrevi teu nome no vento 

Escrevi teu nome no vento / Convencida que o escrevia / Na folha do esquecimento / Que no vento se perdia / E ao vê-lo seguir envolto / Na poeira do caminho / Julguei meu coração solto / Dos elos do teu carinho / Pobre de mim nem pensava / Que tal e qual como eu / O vento se apaixonava / Por esse nome que é teu / E enquanto o vento se agita / Agita-se o meu tormento / Quero esquecer-te, acredita / Mas cada vez há mais vento

Escribí tu nombre en el viento 

Escribí tu nombre en el viento / Convencida de que lo escribía / En la hoja del olvido / Que en el viento se perdía / Y al verlo seguir envuelto / En la polvareda del camino / Juzgué mi corazón suelto / De los eslabones de tu cariño / Pobre mí, no pensaba / Que tal y cual como yo / El viento se apasionaba / Por ese nombre que es tuyo / Y en cuanto el viento se agita / Se agita mi tormento / Quiero olvidarte, créeme / Pero cada vez hay más viento / 

A Bia da Mouraria

Lá vai a Bia que arranjou um par jeitoso, / É vendedor como ela ali para o Bem Formoso. / São dois amores, duas vidas tão singelas, / Enquanto ela vende flores o Chico vende cautelas. / Na Mouraria só falam do namorico / A Bia namora o Chico, as conversas são iguais. / Ai qualquer dia, Deus queira que isto não mude / Que a Senhora da Saúde vai ser pequena demais / O casamento já tem a data marcada / Embora qualquer dos noivos tenha pouco mais que nada. / Vai ter a Bia, a festa que ela deseja, / Irá toda a Mouraria ver o casório na igreja.

Bia de Mouraria

Por ahí va Bia, que consiguió una pareja graciosa / Es vendedor como ella allí por Bem Formoso. / Son dos amores, dos vidas tan sencillas / Mientras ella vende flores, Chico vende lotería. / En Mouraria sólo hablan del amorío / Bia enamora a Chico, las conversaciones son iguales / Ay, cualquier día, Dios quiera que esto no cambie / Que la Señora de la Salud va a quedarse pequeña / La boda ya tiene la fecha señalada / Aunque cualquiera de los novios tenga poco más que nada / Va a tener Bia la fiesta que ella desea, / Irá toda Mouraria a ver la boda en la iglesia.

Meu amor marinheiro 

Tenho ciúme das verdes ondas do mar / Que teimam em querer beijar / Teu corpo erguido às marés. / Tenho ciúme do vento que me atraiçoa, / Que vem beijar-te na proa / E morre pelo convés. / Tenho ciúme do luar da lua cheia / Que no teu corpo se enleia / Para contigo ir bailar./ Tenho ciúme das ondas que se levantam / E das sereias que cantam, / Que cantam p'ra te encantar. / Oh meu amor marinheiro, / Oh dono dos meus anelos, /Não deixes que á noite a lua / Roube a cor aos teus cabelos. / Não olhes para as estrelas /Porque elas podem roubar /O verde que há nos teus olhos / Teus olhos da cor do mar.

Mi amor marinero  

Tengo celos de las verdes olas del mar / Que se empeñan en querer besar / Tu cuerpo erguido a las mareas / Tengo celos del viento que me traiciona, / Que viene a besarte en la proa / Y muere en cubierta. Tengo celos de la luz de la luna llena / Que en tu cuerpo se entrelaza / Para ir contigo a bailar. / Tengo celos de las olas que se levanta / Y de las sirenas que cantan, / Que cantan para encantarte. / Oh, mi amor marinero, / Oh dueño de mis anhelos, / No dejes que de noche la luna / Robe color a tu cabello. / No mires a las estrellas / Porque ellas quieren robar / El verde que hay en tus ojos / Tus ojos del color del mar.

Palavras dadas 

Não digas palavras dadas / Que não sabes, que não sentes, / Pois elas trazem as mágoas / Que só vêm porque mentes. / Não consegues entender / Que nesse vazio poeta / Podes as palavras ter / Mas nunca a palavra certa. / Se não mentisses seria / O amor que tanto espero, / O da verdade mais fria, / O da verdade que quero. / Pois é esse frio do amor / Que nos prende de ansiedade. / Também há calor na dor, / A dor que traz a saudade.

Palabras dadas

No digas palabras dadas / Que no sabes, que no sientes / Pues ellas traen amarguras / Que vienen sólo porque mientes / No consigues entender / Que en ese vacío poeta / Puedes tener las palabras / Pero nunca la palabra cierta / Si no mintieses sería / El amor que tanto espero, / El de la verdad más fría / El de la verdad que quiero / Pues es ese frío de amor / Que nos ata a la ansiedad / También hay color en el dolor / El dolor que trae la saudade.

Espelho quebrado 

Com o seu chicote, o vento / Quebra o espelho do lago. / Em mim foi mais violento / O estrago / Porque o vento ao passar / Murmurou o teu nome / Depois de o murmurar, / Deixou-me. / Tão rápido passou / Nem soube destruir-me / Nas magoas em que sou / Tão firme. / Mas a sua passagem / Em vidro recortava / No lago a minha imagem / De escrava. / Ò liquido cristal / Dos meus olhos sem ti, / Em vão um vendaval, / Pedi, / Para que se quebrasse / O espelho que me enluta / E me ficasse a face / Enxuta. / Para que se quebrasse / O espelho que que me enluta / Em mim foi mais violento / O vento. 

Espejo roto

Con su látigo, el viento / Quiebra el espejo del lago. / En mí fue más violento / El estrago. / Porque el viento al pasar / Murmuró tu nombre / Después de murmurarlo, / Me dejó. / Tan rápido pasó / Ni supo destruirme / Las amarguras en que estoy / Tan firme. / Pero a su paso / En vidrio recortaba / En el lago mi imagen / De esclava / Oh, líquido cristal / De mis ojos sin ti, / En vano un vendaval, / Pedí. / Para que se quebrase / El espejo que me enluta / Y me dejase el rostro / Enjuto. / Para que se quebrase / El espejo que me enluta / En mí fue más violento / El viento. 

Marcha de Alfama

Alfama não envelhece / E hoje parece / Mais nova ainda / Iluminou as janelas / Reparem nelas / Como está linda./ Vestiu a blusa clarinha / Que é da vizinha / É mais modesta /E pôs a saia garrida / Que só é vestida / Em dias de festa / Becos escadinhas ruas estreitinhas / Onde em cada esquina há uma bailarico / Trovas p'las vielas e em todas elas / Perfume de manjerico / Risos, gargalhadas, fados desgarradas, / Hoje em Alfama é um demónio / E em cada canto um suave encanto / De um trono de Santo António. / Já se não ouvem cantigas / E as raparigas / De olhos cansados / Ainda aproveitam o ensejo / De mais um beijo / Dos namorados /Já se ouvem sinos tocando / Galos cantando / Á desgarrada / E mesmo assim dona Alfama / Só volta p'rá cama / Quando é madrugada.

Marcha de Alfama

Alfama no envejece / Y hoy parece / Aún más joven / Iluminó las ventanas / Reparen en ellas / Como está de linda / Vistió la blusa clarita / Que es de la vecina / Es más modesta / Y se puso la falda elegante / Que sólo se viste / En días de fiesta / Callejones, escaleras, calles estrechitas / Donde hay un baile en cada esquina / Cantos por las ventanas y en todas ellas / Perfume de albahaca / Risas, carcajadas, fados a la desgarrada, / Hoy en Alfama hay un demonio / Y en cada canto un suave encanto / De un altar de San Antonio / Ya no se escuchan cánticos / Y las muchachas / De ojos cansados / Aún aprovechan la ocasión / De un beso más / De sus enamorados / Ya se oyen campanas tocando / A la desgarrada / Y así mismo doña Alfama / Vuelve a la cama / Cuando es de madrugada.

O Tejo corre no Tejo

Tu que passas por mim tão indiferente / No teu correr vazio de sentido, / Na memória que sobes lentamente, / Do mar para a nascente, / És o curso do tempo já vivido. / Por isso, à tua beira se demora / Aquele que a saudade ainda trespassa, / Repetindo a lição, que não decora, / De ser, aqui e agora, / Só um homem a olhar para o que passa. / Não, Tejo, / Não és tu que em mim te vês, / Sou eu que em ti me vejo! / Tejo desta canção, que o teu correr / Não seja o meu pretexto de saudade. / Saudades tenho sim, mas de perder, / Sem as poder deter, /As águas vivas da realidade! / Não, Tejo, / Não és tu que em mim te vês, / Sou eu que em ti me vejo!

El Tajo corre en el Tajo 

Tú que pasas por mí tan indiferente / En tu correr vacío de sentido / En la memoria que elevas lentamente / Desde el mar al naciente / Eres el curso del tiempo ya vivido / Por eso a tu orilla se demora / Aquel a quien la saudade aún atraviesa / Repitiendo la lección que no embellece / De ser aquí y ahora / Sólo un hombre mirando lo que pasa / No, Tajo / No eres tú quien en mí te ves / ¡Soy yo quien en ti me veo! / Tajo de esta canción que tu correr / No sea mi pretexto de saudade / Saudades tengo, sí, pero de perder / Sin poder detenerlas / Las aguas vivas de la realidad / No, Tajo / No eres tú quien en mí te ves / ¡Soy yo quien en ti me veo!

A voz 

Às vezes há uma voz que se levanta /Mais alta do que o Mundo e do que nós / E faz chover-me os olhos, quando canta / Num pranto que emudece a minha voz / Afunda-me os sentidos e o tempo / Ao ponto mais distante do que sou / E abraça aquele lugar que, tão cinzento, / Se esconde sob a névoa que ficou / E grita-me no peito quando sente / Chegar a face triste de um amor / Mais alta do que o mundo e do que a gente / A voz já não é voz chama-se dor. 

La voz  

A veces hay una voz que se levanta / Más alta que el mundo y que nosotros / Y hace que me lluevan los ojos cuando canta / En un llanto que enmudece mi voz / Me ahonda los sentidos y el tiempo / Al punto más distante de lo que soy / Y abraza aquel lugar que, tan ceniciento / Se esconde bajo la nieve que quedó / Y me grita en el pecho cuanto siente / Llegar al rostro triste de un amor / Mas alta que el mundo y que la gente / La voz ya no es voz, se llama dolor.

Voltar a ser 

Eu vou / Voltar a ser / Tudo o que eu já fui um dia / Tudo o que eu já queria ser / Antes de te querer / Eu vou / Voltar a ver /O lado bom das pessoas / As suas coisas boas / Antes de entristecer / Mais vale somar paixão / Somar desilusão / Até tudo nos doer /Porque eu vou / Voltar a ser / Tudo o que eu já fui um dia / Tudo o que eu já queria ser / Antes de te querer / Eu sei / Que vou voltar / Ao coração por um fio / Porque é do meu feitio / Nem sei como mudar / Mais vale somar paixão / Somar desilusão / Até tudo nos doer / Porque eu vou / Voltar a ser / Tudo o que eu já fui um dia / Tudo o que eu já queria ser / Antes de te querer / Porque eu vou / Voltar a ser / Tudo o que eu já fui um dia / Tudo o que eu já queria ser / Antes de te perder.

Volver a ser 

Yo quiero / Volver a ser / Todo lo que ya fui un día / Todo lo que ya quería ser / Antes de quererte / Yo voy / A volver a ver / El lado bueno de las personas / Sus cosas buenas / Antes de entristecer / Más vale sumar pasión / Sumar desilusión / Hasta que todo nos duela / Porque yo voy / A volver a ser / Todo lo que ya fui un día / Todo lo que ya quería ser / Antes de quererte / Yo sé / Que voy a volver / Al corazón en un tris / Porque de mi carácter / No sé qué cambiar / Más vale sumar pasión / Sumar desilusión / Hasta que todo nos duela / Porque yo quiero / Volver a ser / Todo lo que ya fui un día / Todo lo que ya quería ser / Antes de quererte / Porque yo quiero / Volver a ser / Todo lo que ya fui un día / Todo lo que ya quería ser / Antes de perderte.

Carta a Lisboa

Tal qual o velho Tejo e as águas p'ra depois, / Aqui me tens na espera de quem partiu de mim. / Em ti Lisboa eu vejo as horas de nós dois / E sei não ser quem era num tempo antes do fim./ Como eu, barcos parados cansados deste mar, / Ocultam liberdades na frágil luz das velas / Que às mãos doutros recados que o vento quis roubar / Perderam-se as saudades, fecharam-se as janelas. / Assim vivo comigo num rio de mim p'ra mim. / Maiores os dias de hoje são menos que outros dias / Talvez por ser abrigo dalguém que antes do fim / Me chega e que me foge deixando as mãos vazias. / E há tanto por dizer nas linhas desta dor / Que a voz do que magoa confunde-me o desejo / Aqui espero por ter o rio do meu amor / Correndo em ti Lisboa tal qual o velho Tejo.

Carta a Lisboa 

Tal cual el viejo Tajo y sus aguas para después / Aquí me tienes a la espera de quien partió de mí / En ti Lisboa yo veo las horas de nosotros dos / Y sé no ser quien era en un tiempo anterior al fin / Como yo, barcos parados cansados de este mar, / Ocultan libertades en la frágil luz de las velas / Que en manos de otros recuerdos que el viento quiso robar / Se perdieron las saudades, se cerraron las ventanas / Así vivo conmigo en un río de mí y para mí / Los mayores días de hoy son menos que otros días / Tal vez por ser refugio de alguien antes del fin / Me llega y me huye dejando las manos vacías. / Y hay tanto por decir en las líneas de este dolor / Que la voz de lo que hiere me confunde el deseo / Aquí espero tener el río de mi amor / Corriendo en ti Lisboa tal como el viejo Tajo.

Carta a Leslie Burke

Para além de mim, para além de nós e deste mundo, / Criei um mundo nos meus olhos p'ra te olhar / E por amor refiz o céu e o mar profundo / E se não foi amor que mais pudera eu dar./ Deixei saudades no teu rosto desenhado / Pelo meu jeito infantil de te querer. / Fomos a casa, o sol e o vento apregoado, / Erguendo os braços quando a vida os quis erguer. / Dentro de mim, dentro da infância e deste rio / Deixei o amor ao rio que a alma me prendera / E juro a Deus que fico aqui neste vazio, / P'ra além de mim, p'ra além de nós à tua espera.

Carta a Leslie Burke

Más allá de mí, más allá de nosotros y de este mundo, / Creé un mundo en mis ojos para mirarte / Y por amor rehíce el cielo y el mar profundo / Y si no fue amor ¿qué más pudiera yo dar? / Dejé saudades en tu rostro dibujado / Por mi obsesión infantil de quererte. / Fuimos la casa, el sol y el viento pregonado, / Irguiendo los brazos cuando la vida los quiso erguir. / Dentro de mí, dentro de la infancia y de este río / Dejé el amor al río que el alma me arrebató / Y juro a Dios que me quedo aquí en este vacío, / Más allá de mí, más allá de nosotros a tu espera.

Uma vida noutra vida

Talvez o mesmo caminho / Seja agora mais sombrio, / Talvez por andar sozinho / Corre o sol atrás do frio. / Em silêncio um coração / Acorda a casa vazia, / Não permite a ilusão / Fingir a dor que trazia. / Porem insisto em mostrar / Que o amor desaparece / Numa vida a despertar / Noutra vida que adormece. / Talvez a lua não queira / Dizer nada a quem partiu / Talvez à sua maneira / Diga adeus ao que sentiu

Una vida en otra vida 

Tal vez el mismo camino / Sea ahora más sombrío, / Tal vez por andar solito / Corre el sol detrás del frío. / En silencio un corazón / Se despierta la casa vacía, / No permite la ilusión / Fingir el dolor que traía. / Por eso insisto en mostrar / Que el amor desaparece / En una vida que se despierta / En otra vida que se adormece. / Tal vez la luna no quiera / Decir nada a quien partió / Tal vez a su manera / Diga adiós a lo que sintió.

Nunca é silencio vão 

Nunca é silencio vão / Esse que tenho contigo. / Pensando nós no que for / Só sei que sinto o amor / Quando te calas comigo. / E lá ficamos os dois / De mãos dadas no meu carro. / Consolas-me sempre assim / Calado junto de mim / Vendo as tristezas que varro. / E por mais que explique bem / O que vai no coração, / É do nada que vem tudo, / Nesse teu olhar tão mudo / Nunca há silencio vão.

Nunca es silencio vacío 

Nunca es silencio vacío / Ese que tengo contigo. / Pensando nosotros en lo que sea / Sólo sé que siento el amor / Cuando te callas conmigo. / Y allí nos quedamos los dos / Con las manos en lazadas en mi coche. / Me consuelas siempre así / Callado junto a mí / Viendo las tristezas que olvido. / Y por más que explique bien / Lo que va en el corazón, / Es de nada que todo viene, / En ese mirar tuyo tan mudo / Nunca hay silencio vacío.

Senhora da Nazaré 

Senhora da Nazaré, rogai por mim, / Também sou um pescador que anda no mar./ Ao largo da vida aproei nas vagas sem fim, / Vi o meu barquito de sonhos sempre a naufragar./ As minhas redes lancei com confiança, / Colhi só desilusões num mar ruim. / Perdi o leme da esperança, / Eu não sei remar assim. / Senhora da Nazaré, rogai por mim.

Señora de Nazaré 

Señora de Nazaré, rogad por mí / También soy un pescador que está en el mar. / A lo largo de la vida puse mi proa a olas sin fin, / Vi mi barquito de sueños siempre naufragar. / Mis redes las lancé con confianza, / Cogí sólo desilusiones en un mar ruin. / Perdí el timón de la esperanza / Yo no sé remar así./ Señora de Nazaré, rogad por mí.

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