Dulce Pontes - Caminhos (1996)


Caminhos (1996)


1. O Infante / 2. Mãe preta / 3. Fado português / 4. Gaivota / 5. Catedral de Lisboa / 6. Lela / 7. Meu alentejo / 8. Senhora do Almortão / 9. Verdes anos / 10. Cantiga da terra / 11. Filho azul / 12. Hora de fechar / 13. Ferreiro / 14. A ilha do meu Fado / 15. Porto / 

O infante

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce / Deus quis que a Terra fosse toda uma / Que o mar unisse, já não separasse / Sagrou-te e foste desvendando a espuma / E a orla branca foi / De ilha em continente / Clareou correndo até ao fim do mundo / E viu-se a terra inteira, de repente / Surgir redonda do azul profundo / Quem te sagrou, criou-te português / Do mar e nós em ti nos deu sinal / Cumpriu-se o mar e o império se desfez / Senhor, falta cumprir-se Portugal / E a orla branca foi / De ilha em continente / Clareou correndo até ao fim do mundo / E viu-se a terra inteira, de repente / Surgir redonda do azul profundo

El infante 

Dios quiso, el hombre sueña, la obra nace / Dios quiso que la Tierra fuese toda una / Que el mar uniese, que no separase ya / Te consagró y fuiste desvelando la espuma / Y la ola blanca fue / De isla en continente / Se hizo clara corriendo hasta el fin del mundo / Y se vio la tierra entera, de repente / Surgir redonda desde el azul profundo / Quien te consagró, te hizo portugués / Del mar y nosotros nos dio en ti la señal / Se cumplió el mar y el imperio se deshizo / Señor, falta que se cumpla Portugal / Y la ola blanca fue / De isla en continente / Se hizo clara corriendo hasta el fin del mundo / Y se vio la tierra entera, de repente / Surgir redonda desde el azul profundo

 Mãe preta

Pele encarquilhada carapinha branca / Gandôla de renda caindo na anca / Embalando o berço do filho do sinhô / Que há pouco tempo a sinhá ganhou / Era assim que mãe preta fazia / Criava todo o branco com muita alegria / Porém lá na sanzala o seu pretinho apanhava / Mãe preta mais uma lágrima enxugava / Mãe preta, mãe preta / Enquanto a chibata batia no seu amor / Mãe preta embalava o filho branco do sinhô

Madre negra

Piel arrugada, cabello encrespado blanco / Capa de alquiler cayendo en la cadera / Meciendo la cuna del hijo del señor / Que hace poco tiempo la señora consiguió / Era eso lo que la madre negra hacía / Criaba a todos los blancos con mucha alegría / Mientras en su cuartucho el negrito malvivía / Madre negra, otra lágrima se secaba / Madre negra, madre negra / Mientras la vara golpeaba sobre su amor / La madre negra acunaba al hijo blanco del señor

Fado português

O fado nasceu um dia / Quando o vento mal bulia / E o céu, o mar prolongava. / Na amurada dum veleiro / No peito dum marinheiro / Que estando triste cantava / Ai que lindeza tamanha / Meu chão, meu monte, meu vale / De folhas, flores, frutas de oiro... / Vê se vês terras de Espanha / Areias de Portugal / Olhar ceguinho de choro / Na boca dum marinheiro / Do frágil barco veleiro / Morrendo a canção magoada / Diz o pungir dos desejos / Do lábio a queimar de beijos / Que beija o ar e mais nada / Mãe adeus, adeus Maria / Guarda bem no teu sentido / Que aqui te faço uma jura... / Que, ou te levo à sacristia / Ou foi Deus que foi servido / Dar-me no mar, sepultura / Ora eis que embora outro dia / Quando o vento nem bulia / E o céu o mar prolongava / À proa doutro veleiro / Velava outro marinheiro / Que estando triste cantava

Fado portugués 

El fado nació un día / Cuando el viento apenas se movía / Y el cielo prolongaba el mar / En la quilla de un velero / En el pecho de un marinero / Que estando triste cantaba / Ay, que belleza tan grande / Mi suelo, mi monte, mi valle / De hojas, flores, frutas de oro... / Mira si ves tierras de España / Arenas de Portugal / Mirada ciega de llanto / En la boca de un marinero / Del frágil barco velero / Muriendo la canción dolorida / Dice al desgarrar los deseos / Del labio que arde de besos / Que besa el aire y nada más / Madre, adiós; adiós, María / Guárdame bien en tu pensamiento / Que aquí te hago un juramento... / Que, o te llevo a la sacristía / O es que Dios tuvo la voluntad / De darme en el mar sepultura / Y de repente otro día / Cuando el viento apenas se movía / Y el cielo prolongaba el mar / Velaba otro marinero / Que estando triste cantaba

Gaivota

Se uma gaivota viesse / Trazer-me o céu de Lisboa / No desenho que fizesse / Nesse céu onde o olhar / É uma asa que não voa / Esmorece e cai no mar. / Que perfeito coração / No meu peito bateria / Meu amor na tua mão / Nessa mão onde cabia / Perfeito o meu coração. / Se um português marinheiro / Dos sete mares andarilho / Fosse quem sabe o primeiro / A contar-me o que inventasse / Se um olhar de novo brilho / No meu olhar se enlaçasse. / Que perfeito coração / No meu peito bateria / Meu amor na tua mão / Nessa mão onde cabia / Perfeito o meu coração. / Se ao dizer adeus à vida / As aves todas do céu / Me dessem na despedida / O teu olhar derradeiro / Esse olhar que era só teu / Amor que foste o primeiro. / Que perfeito coração / Morreria no meu peito / Meu amor na tua mão / Nessa mão onde perfeito / Bateu o meu coração.

Gaviota

Si viniese una gaviota / A traerme el cielo de Lisboa / Y en el dibujo que hiciese / En ese cielo donde la mirada / Es un ala que no vuela / Se desmaya y cae al mar. / Qué perfecto corazón / En mi pecho latiría / Mi amor, en tu mano/ En esa mano donde cabía / Perfecto mi corazón. / Si un marinero portugués / Navegante de los siete mares / Fuese quien sabe el primero / Quien me contase lo que inventara / Si una mirada de nuevo brillo / A mi mirada se enlazase. / Qué perfecto corazón / En mi pecho latiría / Mi amor, en tu mano/ En esa mano donde cabía / Perfecto mi corazón. / Si al decir adiós a la vida / Todas las aves del cielo / Me diesen en la despedida / Tu última mirada / esa mirada que era sólo tuya / Amor que fuiste el primero. / Qué perfecto corazón / Moriría en mi pecho / Mi amor, en tu mano / En esa mano donde perfecto / Latía mi corazón.

Catedral de Lisboa

Na Catedral de Lisboa / Sinto os sinos repicar / Serão anos de princesa / De algum santo festejar / É a rainha que parte / Até às terras de Tomar / Na Catedral de Lisboa / Sinto os sinos repicar / Em formoso palafrém / Bem a vejo cavalgar / Um mui brilhante cortejo / Atrás dela a caminhar / Segue a estrada que vai ter / Até às terras de Tomar / Em formoso palafrém / Bem a vejo cavalgar / Dizem que a nossa rainha / O vem hoje visitar / Mal haja quem a conduz / A um tal coito se abrigar / Segue a estrada que vai ter / Até às terras de Tomar / Em formoso palafrém / Bem a vejo cavalgar

Catedral de Lisboa

En la catedral de Lisboa / Escucho las campanas tocar / Será por los años de la princesa / O que festejan algún santo / Es la reina que parte / Hasta tierras de Tomar / En la catedral de Lisboa /Escucho las campanas tocar / En hermoso plafrén / Bien la veo cabalgar / Un cortejo muy brillante / Camina detrás de ella / Sigue el camino que hará / Hasta las tierras de Tomar / En hermoso plafrén / Bien la veo cabalgar / Dicen que nuestra reina / Lo viene hoy a visitar / Maldito quien la conduzca / A tal refugio a recogerse / Sigue el camino que tendrá / Hasta las tierras de Tomar / En hermosos palafrén / Bien la veo cabalgar

Lela

Están as nubes chorando / Por un amor que morreu / Están as ruas molladas / De tanto como chovéu / Están as nubes chorando / Por un amor que morreu / Están as ruas molladas / De tanto como chovéu / Lela, Lela / Lelina por quen eu morro / Quero mirarme / Nas meninas dos teus ollos / Non me deixes / E ten compasión de min / Sem ti non podo / Sen ti non podo vivir / Dame alento das tuas palabras / Dame celme do teu corazón / Dame lume das tuas miradas / Dame vida co teu dulce amor / Dame alento das tuas palabras / Dame celme do teu corazón / Dame lume das tuas miradas / Dame vida co teu dulce amor / Dame lume das tuas miradas / Dame vida co teu dulce amor / Lela, Lela / Lelina por quen eu morro / Quero mirarme / Nas meninas dos teus ollos / Non me deixes / E ten compasión de min / Sen ti non podo / Sem ti non podo vivir / Sem ti non podo / Sem ti non podo vivir

Lela

Están las nubes llorando / Por un amor que murió / Están las calles mojadas / De tanto como llovió / Están las nubes llorando / Por un amor que murió / Están las calles mojadas / De tanto como llovió / Lela, Lela / Lelina por quien yo muero / Quiero mirarme / En las niñas de tus ojos / No me dejes / Y ten compasión de mí / Sin ti no puedo / Sin ti no puedo vivir / Dame aliento de tus miradas / Dame vida con tu dulce amor / Dame aliento de tus palabras / Dame gracia de tu corazón / Dame lumbre de tus miradas / Dame vida con tu dulce amor / Dame lumbre de tus miradas / Dame vida con tu dulce amor / Lela, Lela / Lelina por quien yo muero / Quiero mirarme / En las niñas de tus ojos / No me dejes / Y ten compasión de mí / Sin ti no puedo / Sin ti no puedo vivir / Sin ti no puedo / Sin ti no puedo vivir

Meu Alentejo

Eu não sei que tenho em Évora / Que de Évora me estou lembrando / Quando chego ao rio Tejo / As ondas me vão levando / Abalei do Alentejo / Olhei para trás chorando / Alentejo da minh'alma / Tão longe me vais ficando / Ceifeira que andas à calma / Ai, e à calma ceifando o trigo / Ceifa as penas da minh'alma / Ceifa-as leva-as contigo

Meu Alentejo

Yo no sé qué tengo en Évora / Que de Évora me estoy acordando / Cuando llego al río Tajo / Las ondas me van llevando / Me alejé del Alentejo / Miré hacia atrás llorando / Alentejo de mi alma / Tan lejos me vas quedando / Cosechadora que estás en calma / Ay, y calmada segando el trigo / Siega las penas de mi alma / Siégalas y llévalas contigo

Senhora do Almortão

Senhora, senhora do Almortão / Senhora do Almortão / Ó minha linda raiana / Virai costas a Castela / Não queirais ser castelhana / Senhora, Senhora do Almortão / Senhora do Almortão / A vossa capela cheira / Cheira a cravos cheira a rosas / Cheira a flôr de laranjeira / Senhora, senhora do Almortão / Senhora do Almortão / Eu p'ró ano não prometo / Que me morreu o amor / Ando vestida de preto

Señora do Almortão

Señora, Señora de Almortão / Señora de Almortão / Ay, mi linda reina de la frontera / Dadle la espalda a Castilla / No queráis ser castellana / Señora, Señora de Almortão / Señora de Almortão / Vuestra capilla huele / Huele a claveles, huele a rosas / Huele a flor de naranjo / Señora, Señora de Almortão / Señora de Almortão / Yo para este año prometo / Que al haber muerto mi amor / Iré vestida de negro

Verdes anos

Era o amor / Que chegava e partia / Estarmos os dois / Era um calor, que arrefecia / Sem antes nem depois / Era um segredo / Sem ninguém para ouvir / Eram enganos e era um medo / A morte a rir / Dos nossos verdes anos / Foi o tempo que secou / A flor que ainda não era / Como o outono chegou / No lugar da primavera / No nosso sangue corria / Um vento de sermos sós / Nascia a noite e era dia / E o dia acabava em nós

Verdes años 

Era el amor / Que llegaba y se iba / En que estábamos los dos / Era un calor, que se enfriaba / Sin antes ni después / Era un secreto / Sin que nadie lo oyera / Eran engaños o era un miedo / La muerte se reía / De nuestros verdes años / Fue el tiempo que secó / La flor que aún no existía / Pues el otoño llegó / En vez de la primavera / En nuestra sangre corría / Un viento de estar solos / Nacía la noche y era de día / Y el día acababa en nosotros

Cantiga da terra

Quero ver o que Terra me dá / Ao romper desta manhá / O peojo, o milho e o araçá / A videira e a maçã / Ó mãe de água, ó mãe de chuvas mil / Já não quero o teu aguaceiro / Quero ver a luz do mês de Abril / A folia no terreiro / E vou colher inhames e limoes / Hortelã e alecrim / E vou cantar charambas e cançoes / P'ra te ao pé de mim / E nos requebros desse teu balhar / Quero ser o cantador / E vou saudar a várzea desse olhar / Ao compasso do tambor

Cantiga de la terra 

Quiero ver lo que la tierra me da / Al romper de esta mañana / La menta, el maíz y el granado / La vid y la manzana / Oh, madre de agua, oh, madre de lluvias mil / Ya no quiero tu aguacero / Quiero ver la luz del mes de abril / La fiesta en el patio / Y voy a coger ñames y limones / Hierbabuena y romero / Y voy a cantar charambas y canciones / Para tenerte junto a mí / Y en los requiebros de tu baile / Quiero ser cantador / Y voy a saludar el arrozal de tu mirada / Al compás del tambor

Filho azul

Viver vida sem ter esperança / Viver morte sem morrer / Ver nos olhos de criança / A vontade de crescer / Mas quem espera sempre alcança / E eu não posso entardecer / Sem ter visto uma criança / Não só de parto nascer / Há-de ser um filho azul / Das altas marés do mar / Filho tempo, vento sul / Temporal do verbo amar

Hijo azul 

Vivir la vida sin tener esperanza / Vivir la muerte sin morir / Ver en los ojos de un niño / El deseo de crecer / Pero quien espera siempre alcanza / Y yo no puedo atardecer / Sin haber visto un niño / No sólo nacido de parto / Será un hijo azul / De las altas mareas del mar / Hijo tiempo, viento sur / Temporal del verbo amar

Hora de fechar

A máquina dos discos / Engasgou-se emudeceu / A velha ventoínha / Desistiu por fim / O tampo do balcão / Bebeu demais e adormeceu / A mobília resiste assim assim / O palco sujo boceja / O escarrador demitiu-se / Do seu cargo infeliz / O strip-tease acabou há hora e meia / Mas ainda há um tanso a pedir bis / Um marinheiro bêbado ressona em dó menor / Cansado de dançar um tango arrasador / A tatuagem dedicada à mãe com muito amor / Não se percebe bem perdeu a côr / E a loira platinada ainda espera agastada / Que ele se decida / Deita-lhe o olho à carteira / Há mais do que uma maneira de fazer pela vida / O gerente desperta do seu plácido topor / Sem vencer por completo a névoa cerebral / Avança en zigue-zague mira as mesas em redor / E faz a depedida habitual / Ó malta toca a andar / Ponham-se a cavar / Que já passa da hora de fechar

Hora de cerrar 

La máquina de los discos / Se atascó y enmudeció / El viejo ventilador / Desistió por fin / El borracho de la barra / Bebió de más y se adormeció / El mobiliario resiste así así / El suelo sucio se quiebra / La escupidera renunció / A su cargo infeliz / El strip-tease acabó hace hora y media / Pero aún hay un primo pidiendo un bis / Un marinero bebido resuena en do menor / Cansado de bailar un tango arrasador / El tatuaje dedicado a la madre con tanto amor / Ya no se ve bien, perdió su color / Y la rubia plateada aún espera irritada / Que él se decida / Le echa un ojo a su cartera / Hay más de una forma de ganarse la vida / El gerente despierta de su plácido sopor / Sin vencer por completo la neblina cerebral / Avanza en zigzag y mira a las mesas alrededor / Y hace la despedida habitual / La chusma se pone en marcha / Que se pongan a trabajar / Que ya pasa de la hora de cerrar

A ilha do meu fado

Esta ilha que há em mim / E que em ilha me transforma / Perdida num mar sem fim / Perdida dentro de mim / Tem da minha ilha a forma / Esta lava incandescente / Derramada no meu peito / Faz de mim um ser diferente / Tenho do mar a semente / Da saudade tenho o jeito / Trago no corpo a mornaça / Das brumas e nevoeiros / Há uma nuvem que ameaça / Desfazer-se em aguaceiros / Nestes meus olhos de garça / Neste bêco sem saída / Onde o meu coração mora / Oiço sons da despedida / Vejo sinais de partida / Mas teimo em vão ir embora

La isla de mi fado

Esta isla que hay en mí / Y que en isla me transforma / Perdida en un mar sin fin / Perdida dentro de mí / Tiene la forma de mi isla / Esta lava incandescente / Derramada en mi pecho / Hace de mí un ser diferente / Tengo del mar la simiente / De la saudade tengo el gesto / Traigo en el cuerpo la morada / De brumas y de neblinas / Hay una nube que amenaza / Deshacerse en aguaceros / En estos ojos míos de gracia / En este callejón sin salida / Donde mi corazón mora / Oigo el sonido de la despedida / Veo señales de partida / Y en vano me empeño en irme

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