Dulce Pontes - Lágrimas (1993)

Lágrimas (1993)
1. Canção do mar / 2. Se voaras mais ao perto / 3. Povo que lavas no rio / 4. Lágrima / 5. Que amor não me engana / 6. Laurindinha / 7. As sete mulheres do Minho / 8. Novo fado da Severa / 9. Estranha forma de vida / 10. Zanguei-me com meu amor / 11. Achegate a mim maruxa / 12. Os índios da meia praia
Canção do mar
Fui bailar no meu batel / Além do mar cruel / E
o mar bramindo / Diz que eu fui roubar / A luz sem par / Do teu olhar tão lindo
/ Vem saber se o mar terá razão / Vem cá ver bailar meu coração / Se eu bailar
no meu batel / Não vou ao mar cruel / E nem lhe digo aonde eu fui cantar /
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo / Vem saber se o mar terá razão / Vem cá
ver bailar meu coração / Se eu bailar no meu batel / Não vou ao mar cruel / E
nem lhe digo aonde eu fui cantar / Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo
Canción del mar
Fui a bailar en mi canoa / Más allá del mar cruel / Y el mar bramando / Dice que fui a robar / La luz sin par / De tu mirar tan lindo / Ve a saber si el mar tendrá razón / Ven a ver bailar a mi corazón / Si yo bailase en mi canoa / No voy al mar cruel / Y no le digo ni donde fui a cantar / Sonreír, bailar, vivir, soñar contigo / Ve a saber si el mar tendrá razón / Ven a ver bailar a mi corazón / Si yo bailase en mi canoa / No voy al mar cruel / Y no le digo ni donde fui a cantar / Sonreír, bailar, vivir, soñar contigo
Se voaras mais ao perto
Se voaras mais ao perto poisavas noutra vidraça
/ Com o teu bico dentado trazias mais um na asa / Vem longe o dia da monda não
é tempo de mondar / Ò cigana ó ciganinha que nome te hei-de eu dar / Andorinha
de asa preta vai gritando em altos brados / Chega-te á minha janela livra-me
destes cuidados / Se voaras mais ao perto a tua sorte era a minha / Diz-me lá ó
ciganita o que nos quer a andorinha / O que nos quer a andorinha bem gostara de
saber / O mundo é bola de fogo nem todos ficam a arder
Si volases más cerca
Si volases más cerca te posarías en otro ventanal / Y con tu pico dentado traerías un ala más / Llega el tiempo de la poda y no es tiempo de podar / Oh, gitana, gitanita qué nombre te voy a dar / Golondrina de ala negra va gritando en alto tono / Llega hasta mi ventana y líbrame de estos cuidados / Si volaras más cerca tu suerte sería mía / Dime ya, gitanita / para qué nos quiere la golondrina / Para qué nos quiere la golondrina me gustaría saber / El mundo es bola de fuego y no todos se quedan a arder
Povo que lavas no rio
Povo que lavas no rio / E talhas com o teu
machado / As tábuas do meu caixão / Pode haver quem te defenda / Quem compre o
teu chão sagrado / Mas a tua vida não / Fui ter à mesa redonda / Bebi em malga
que me esconde / O beijo de mão em mão / Era o vinho que me deste / A água
pura, fruto agreste / Mas a tua vida não / Aromas de luz e de lama / Dormi com
eles na cama / Tive a mesma condição / Povo, povo, eu te pertenço / Deste-me
alturas de incenso / Mas a tua vida não / Povo que lavas no rio / E talhas com
o teu machado / As tábuas do meu caixão / Pode haver quem te defenda / Quem
compre o teu chão sagrado / Mas a tua vida não
Pueblo que lavas en el río
Pueblo que lavas en el río / Y tallas con tu cuchillo / Las tablas de mi ataúd / Puede haber quien te defienda / Quien compre tu suelo sagrado / Pero tu vida no / Gocé de mesas redondas / Bebí en tazón que ocultaba / El beso de mano en mano / Era el vino que me diste / Agua pura, fruto agreste / Pero tu vida no / Aromas de brezo y barro / Dormí con ellos en la cama / Tuve su misma naturaleza / Pueblo, pueblo te pertenezco / Me diste alturas de incienso / Pero tu vida no / Pueblo que lavas en el río / Y tallas con tu cuchillo / Las tablas de mi ataúd / Puede haber quien te defienda / Quien compre tu suelo sagrado / Pero tu vida no
Lágrima
Cheia de penas / Cheia de penas me deito / E com mais penas / Com mais penas me levanto / No meu peito / Já me ficou no meu peito / Este jeito / O jeito de querer tanto / Desespero / Tenho por meu desespero / Dentro de mim / Dentro de mim o castigo / Eu não te quero / Eu digo que não te quero / E de noite / De noite sonho contigo / Se considero / Que um dia hei de morrer / No desespero / Que tenho de te não ver / Estendo o meu chalé / Estendo o meu chalé no chão / Estendo o meu chalé / E deixo-me adormecer / Se eu soubesse / Se eu soubesse que morrendo / Tu me havias / Tu me havias de chorar / Por uma lágrima / Por uma lágrima tua / Que alegria / Me deixaria matar
Lágrima
Que amor não me engana
Que amor não me engana / Com a sua brandura / Se
da antiga chama / Mal vive a amargura / Numa mancha negra / Numa pedra fria /
Que amor não te engana / Na noite vazia / E as vozes embargam / Num silêncio
aflito / Quanto mais se apartam / Mais se ouve o seu grito / Muito à flor das
águas / Noite marinheira / Vem devagarinho / Para a minha beira / Em novas
coutadas / Junto de uma hera / Nascem flores vermelhas / Pela primavera / Assim
tu souberas / Irmã cotovia / Dizer-me se esperas / O nascer do dia
Que amor el no me engaña
Que el amor no me engaña / Con su ternura / Si de la antigua llama / Malvive la amargura / En una mancha negra / En una piedra fría Que el amor no te engaña / En la noche vacía / Y las voces embargan / En un silencio afligido / Cuanto más se apartan / Más se oye su grito / Mucho para la flor de las aguas / Noche marinera / Ven despacito / A mi lado / En nuevos cotos / Junto a una era / Nacen flores rojas / Para la primavera / Si así supieras / Hermana alondra / Decirme si esperas / El nacer del día
Laurindinha
Ó Laurindinha / Vem à
janela / Ver o teu amor / Ai ai ai que vai para a guerra / Se ele vai para a
guerra / Deixai-o ir / Ele é rapaz novo / Ai ai ai ele torna a vir / Ele torna
a vir / Se Deus quiser / Ainda vem a tempo / Ai ai ai de arranjar mulher
Laurindinha
Ay Laurindinha / Ven a la ventana / A ver a tu amor / Ay ay ay, que se va a la guerra / Si él se va a la guerra / Déjalo ir / Él es un muchacho joven / Ay ay ay, él volverá a venir / Él volverá a venir / Si Dios lo quiere / Vendrá incluso a tiempo / Ay ay ay, de encontrar mujer
As sete mulheres do Minho
As sete mulheres do Minho / Mulheres de grande
valor / Armadas de fuso e roca / Correram com o regador / Essa mulher là do
Minho / Que da foice fez espada / Hà-de ter na lusa història / Uma pàgina
doirada / Viva a Maria da Fonte / Com as pistolas na mão / Para matar os
cabrais / Que são falsos à nação
Las siete mujeres del Miño
Las siete mujeres del Miño / Mujeres de gran valor / Armadas con cincel y piedra / Corren con la regadera / Esa mujer de allá, del Miño / Que de una hoz hizo una espada / Debe tener en la historia lusa / Una página dorada / Viva Maria da Fonte / Con las pistolas en la mano / Para matar a los cabritos / Traidores a la nación
Novo fado da Severa
Ó rua do capelão / Juncada de rosmaninho / Se o meu amor vier cedinho / Eu beijo as pedras do chão / Que ele pisar no caminho / Tenho o destino marcado / Desde a hora que te vi / Ó, meu cigano adorado / Viver abraçada ao fado / Morrer abraçada a ti
Nuevo fado de la Severa
Oh, Rua do Capelão / Alfombrada de romero / Si mi amor viniera prontito / Yo besaría las piedras del suelo / Que el pisara en su camino / Tengo el destino marcado / Desde la hora en que te vi / Oh, mi gitano adorado / Vivir abrazado al fado / Morir abrazada a ti
Estranha forma de vida
Foi por vontade de Deus / Que eu vivo nesta ansiedade /
Que todos os ais são meus / Que é toda minha a saudade / Foi for vontade de
Deus / Que estranha forma de vida / Tem este meu coração / Vive de vida perdida
/ Quem lhe daria o condão / Que estranha forma de vida / Coração independente /
Coração que não comando / Vives perdido entre a gente / Teimosamente sangrando
/ Coração independente / Eu não te acompanho mais / Pára deixa de bater / Se
não sabes onde vais / Porque teimas em correr / Eu não te acompanho mais / Se
não sabes onde vais / Pára deixa de bater / Eu não te acompanho mais
Extraña forma de vida
Fue por voluntad de Dios / Que viva en esta ansiedad / Que todos los ayes son míos / Que es toda mía la saudade / Fue por voluntad de Dios / Qué extraña forma de vida / Tiene este corazón mío / Vive una vida perdida / Quién le daría ese don / Qué extraña forma de vida / Corazón independiente / Corazón que no domino / Vives perdido entre la gente / Obstinadamente sangrando / Corazón independiente / Yo no te acompaño más / Para, deja de latir / Si no sabes dónde vas / Por qué te empeñas en correr / Yo no te acompaño más / Si no sabes dónde vas / Para y deja de latir / Yo no te acompaño más
Zanguei-me com meu amor
Zanguei-me com o meu amor / Não o vi em todo dia
/ Á noite cantei melhor / O fado da Mouraria / O sopro de uma saudade / Vinha
beijar-me hora a hora / Para ficar mais a vontade / Mandei a saudade embora /
Quando regressou ao ninho / Ele que nem assobia / Vinha a assobiar baixinho / O
fado da Mouraria
Me enfadé con mi amor
Me enfadé con mi amor / No lo vi en todo el día / De noche canté mejor / El fado de Mouraria / El soplo de una saudade / Vino a besarme hora a hora / Para estar más a gusto / Mandé a la saudade lejos / Cuando regresó al nido / Él que nunca silbaba / Se puso a silbar bajito / El fado de Mouraria
Achegate a mim Maruxa
Achégatea mim, maruxa / Chégate ben, moreniña / Quérome casar contigo / Serás mina mulleriña / Adeus, estrela brilante / Compañeiriña da lua / Moitas claras teño visto / Mais com a tua ningunha / Adeus lubeiriña triste / De espaldas te vou mirando / Non sei que me queda dentro / Que me despido chorando
Arrímate a mí, Maruja
Arrímate a mí, maruja /
Acércate bien, morenita / Me quiero casar contigo / Serás mi mujercita / Adiós,
estrella brillante / Compañerita de la luna / He visto muchas luces / Pero como
la tuya ninguna / Adiós, lubeiriña triste / De espaldas te voy mirando / No sé
qué me queda dentro / Que me despido llorando
Os índios da Meia Praia
Aldeia da Meia Praia / Ali mesmo ao pé de Lagos
/ Vou fazer-te uma cantiga / Da melhor que sei e faço / De Montegordo vieram /
Alguns por seu próprio pé / Um chegou de bicicleta / Outro foi de marcha à ré /
Quando os teus olhos tropeçam / No voo de uma gaivota / Em vez de peixe vê
peças de oiro / Caindo na lota / Quem aqui vier morar / Não traga mesa nem cama
/ Com sete palmos de terra / Se constrói uma cabana / Tu trabalhas todo o ano /
Na lota deixam-te nudo / Chupam-te até ao tutano / Levam-te o couro cabeludo /
Quem dera que a gente tenha / De Agostinho a valentia / Para alimentar a sanha
/ De enganar a burguesia / Adeus disse a Montegordo / Nada o prende ao mal
passado / Mas nada o prende ao presente / Se só ele é o enganado / Oito mil
horas contadas / Laboraram a preceito / Até que veio o primeiro / Documento
autenticado / Eram mulheres e crianças / Cada um com o seu tijolo / Isto aqui
era uma orquestra / Quem diz o contrário é tolo / E se a má língua não cessa /
Eu daqui vivo não saia / Pois nada apaga a nobreza / Dos índios da Meia Praia /
Foi sempre tua figura / Tubarão de mil aparas / Deixas tudo à dependura /
Quando na presa reparas / E toca de papelada / No vaivém dos ministérios / Mas
hão-de fugir aos berros / Inda a banda vai na estrada
Los indios de Meia Praia
Aldea de Meia Praia / Allí mismo, al pie de Lagos / Voy a hacerte una cantiga / De lo mejor que sé y hago / De Montegordo vinieron / Algunos por su propio pie / Uno llegó en bicicleta / Otro fue marcha atrás / Cuando tus ojos tropiezan / En el vuelo de una gaviota / En vez de pez ve piezas de oro / Cayendo en la lonja / Quien viniese aquí a vivir / No traiga mesa ni cama / Con siete palmos de tierra / Se construye una cabaña / Tú trabajas todo el año / En la lonja te dejan desnudo / Te chupan hasta el tuétano / Te quitan el cuero cabelludo / Ojalá la gente tuviera / De Agostinho la valentía / Para alimentar la rabia / De engañar a la burguesía / Dijo adiós a Montegordo / Nada lo une al mal pasado / Pero nada lo une al presente / Si sólo él es el engañado / Ocho mil horas contadas / Trabajaron rigurosamente / Hasta que vino el primer / Documento autentificado / Eran mujeres y niños / Cada uno con su teja / Aquello era una orquesta / Quien diga lo contrario es necio / Y si la mala lengua no cesa / Yo de aquí no saldré vivo / Pues nada apaga la nobleza / De los indios de Meia Praia / Fue siempre tu figura / Tiburón de mil escamas / Dejas todo en suspenso / Cuando en la presa reparas / Y toca ir de papeleos / En el vaivén de los ministerios / Pero han de irse a gritos / Y aún inclinado va por el camino