Dulce Pontes - O coração tem três portas (2006)

O coração tem três portas (2006)
CD1: 1. Ovelha negra / 2. Maldição / 3. Cigano / 4. Não e desgraça ser pobre / 5.
Velha tendinha / 6. Ou passa ou não passa / 7. Resineiro / 8. Palhaços
encapuçados / 9. O meu menino é d'oiro / 10. Folclore / 11. Os lobos e ninguém
/ 12. A verdade do poeta
CD2: 1. A charola (Instrumental) / 2. O meu Porto do Graal (dueto
con Uxía) / 3. Há festa na mouraria / 4. As mãos que trago / 5. Senhora / 6.
Ave Maria Sagrada / 7. Tenho uma casa no sul (dueto con Uxía) / 8. Os amantes
"Les amants de Teruel" / 9. Uma caixa de pó / 10. É da torre mais
alta / 11. Folclore Remix
Ovelha negra
Chamaram-me ovelha negra / Por não aceitar a regra / De ser
coisa em vez de ser / Rasguei o manto de mito / E pedi mais infinito / Na
urgência de viver / Caminhei vales e rios / Passei fomes passei frios / Bebi
água dos meus olhos / Comi raízes de dor / Doeu-me o corpo de amor / Em leitos
feitos escolhos / Cansei as mãos e os braços / Em negativos abraços / De que a
alma esteve ausente / Do sangue das minhas veias / Ofreci taças bem cheias / Á
sede de toda a gente / Arranquei com os meus dedos / Migalhas de grão, segredos
/ Da terra escassa de pão / Mas foi por mim que viveu / A alma que Deus me deu
/ Num corpo feito razão
Oveja negra
Me llamaban oveja negra / Por no aceptar la regla / De ser cosa en vez de ser / Rasgué el manto del mito / Y pedí más infinito / En la urgencia de vivir / Caminé valles y ríos / Pasé hambres, pasé fríos / Bebí agua de mis ojos / Comí raíces de dolor / Me dolió el cuerpo de amor / En lechos hechos de escollos / Cansé mis manos y brazos / En negativos abrazos / De los que el alma estaba ausente / De la sangre de mis venas / Ofrecí copas bien llenas / A la sed de toda la gente / Arranqué con mis dedos / Migajas de grano, secretos / De la tierra escasa del pan / Pero fue por mí por quien vivió / El alma que Dios me dio / En un cuerpo hecho razón
Maldição
Que destino, ou maldição / Manda em nós, meu coração? / Um
do outro assim perdido / Somos dois gritos calados / Dois fados desencontrados
/ Dois amantes desunidos / Por ti sofro e vou morrendo / Não te encontro, nem
te entendo / Amo e odeio sem razão / Coração... quando te cansas / Das nossas mortas
esperanças / Quando paras, coração? / Nesta luta, esta agonia / Canto e choro
de alegria / Sou feliz e desgraçada / Que sina a tua, meu peito / Que nunca
estás satisfeito / Que dás tudo... e não tens nada / Na gelada solidão / Que tu
me dás coração / Não há vida nem há morte / É lucidez, desatino / De ler no
próprio destino / Sem poder mudar-lhe a sorte
Maldición
¿Qué destino, o maldición, / Manda en nosotros, mi corazón? / Uno de otro así perdidos / Somos dos gritos callados / Dos fados desencontrados / Dos amantes desunidos / Por ti sufro y voy muriendo / No te encuentro ni me entiendo / Amo y odio sin razón / Corazón, nunca te cansas / De nuestras muertas esperanzas / ¿Cuándo paras, corazón? / En esta lucha, esta agonía / Canto y lloro de alegría / Soy feliz y desgraciada / Que sino el tuyo, mi pecho / Que nunca estás satisfecho / Que das todo y no tienes nada / En la helada soledad / Que tú me das corazón / No hay vida ni hay muerte / Es lucidez y desatino / De leer el propio destino / Sin poder cambiar su suerte
Cigano
Cigano esgui e trigueiro / Não sei porque me fascinas / Se
bater do teu pandeiro / Se as tuas mãos peregrinas / Que me dara ser cigana /
Viver da vida os escolhos / Dentro duma caravana / E na prisão dos teus olhos /
Passar a fome que tens passado / Cantar e viver sempre a teu lado / Mentir nas
feiras, roubá-lo / Ser como tu ardilosa / Pedir por um velho cavalo / Uma conta
fabulosa / Entender os dialectos / Das sensuais malaguenhas / Beijar-te os
cabelos pretos / Quando a dançar te desgrenhas / Cantar ao som das velhas
violas / Dançar no bater das castanholas / Ensina-me a tua fé / Ensina-me tudo
isto / Que a tua raça calé / Também possui fé em Cristo / Oh meu cigano adorado
/ Em troca ensino-te o fado
Gitano
Gitano esbelto y trigueño / No sé por qué me fascinas / Si el golpear de tu pandero / Si tus manos peregrinas / Ojalá fuese gitana / Vivir los riesgos de la vida / Dentro de una caravana / Y en la prisión de tus ojos / Pasar el hambre que hayas pasado / Cantar y vivir siempre a tu lado / Mentir en las ferias, robar / Ser astuta como tú / Pedir por un viejo caballo / Una cuenta fabulosa / Entender los dialectos / de las sensuales malagueñas / Besarte los cabellos negros / Cuando al bailar te desgreñas / Cantar al son de viejas guitarras / Bailar al repiqueteo de las castañuelas / Enséñame tu fe / Enséñame todo eso / Que tu raza calé / Tiene también fe en Cristo / Ay, mi gitano adorado / A cambio te enseño fado
Não é desgraça ser pobre
Não é desgraça ser pobre / Não é desgraça ser louca /
Desgraça é trazer o fado / No coração e na boca / A moedinha de prata / Vale
menos que a de cobre / Se a pobreza não nos mata / Não é desgraça ser pobre /
Ao nascer trouxe uma estrela / Nela, o destino traçado / Não foi desgraça
trazê-la / Desgraça é trazer o fado / Desgraça é andar a gente / De tanto
cantar já rouca / E o fado, teimosamente / No coração e na boca
No es desgracia ser pobre
No es desgracia ser pobre / No es desgracia estar loca / Desgracia es traer el fado / En el corazón y la boca / La monedita de plata / Vale menos que la de cobre / Si la pobreza no nos mata / No es desgracia ser pobre / Al nacer traje una estrella / En ella el destino marcado / No fue desgracia traerla / Desgracia es traer el fado / Desgracia es que la gente esté / De tanto cantar ya ronca / Y el fado, insistentemente / En el corazón y la boca
Velha tendinha
Junto ao arco de Bandeira / Há uma loja tendinha / De
aspecto rasca e banal / Na história da bebedeira / Ai, aquela casa velhinha / É
um padrão imortal / Velha taberna / Nesta Lisboa moderna / É da tasca humilde
eterna / Que mantém a tradição / Velha tendinha / És o templo da pinguinha /
Dois dois brancos, da ginginha / Da boêmia e do pimpão / Noutros tempos, os
fadistas / Vinham, já grossos das hortas / Pra o teu balcão returrar / E
inspirados, os artistas / Iam pra aí, horas mortas / Ouvir o fado e cantar
Vieja tiendecita
Junto al arco de Bandeira / Hay una tiendecita / De aspecto
corriente y banal / En la historia del beber / Ay, aquella casa viejita / Es un
patrón inmortal / Vieja taberna / En esta Lisboa moderna / Es la tasca humilde
y eterna / Que mantiene la tradición / Vieja tiendita / Es el templo de los
vinitos / Algunos blancos, y de la ginginha / De la bohemia y de loa
fanfarronería / En otros tiempos, los fadistas / Iban, ya borrachos de las
huertas / Para en tu barra apoyarse / E inspirados, los artistas / Estaban allí
horas muertas / A oír cantar fado
Ou passa ou não passa
Se passa ou não passa / Só come o que tem / Eu hei-de ir a
praça / Passear com meu bem / Passear com meu bem / Ai de braço dado / Pôr
atrás da orelha / Um cravo encarnado / Um cravo encarnado / Da cor do carmin /
Oh meu bem amado / Não esperes por mim / Se passa ou não passa / Só come o que
tem / Levedar a massa / Do nome de alguém / Levedar a massa / Do teu lindo nome
/ Mas já não tem graça / Passar tanta fome / Passar tanta fome / Já tanta
passei / Esqueci-me do nome / E o pão amassei... / Se a roupa tem traça /
Deixai-a comer / Estar nua tem graça / Desgraça é sofrer / Desgraça é sofrer /
De roupa esburaçada / Coser a mantilha / Em retalhos de nada / Meti-me em
atalhos / Soltou-se a fagulha / Nunca hás-de passar / P'lo buraco d'águlha!
O pasa o no pasa
Si pasa o no pasa / Sólo come quien tiene / Yo he de ir a la plaza / A pasear con mi bien / Pasear con mi bien / Cogida del brazo / Poner detrás de la oreja / Un clavel encarnado / Un clavel encarnado / Del color del carmín / Ay, mi bien amado / No esperes por mí / Si pasa o no pasa / Sólo come quien tiene / Que fermentar la masa / Del nombre de alguien / Fermentar la masa / De tu lindo nombre / Pues ya no tiene gracia / Pasar tanta hambre / Pasar tanta hambre / Ya tanta pasé / Me olvidé del nombre / Y el pan amasé... / Si la ropa tiene hambre / Déjala comer / Estar desnuda tiene gracia / Desgracia es sufrir / Desgracia es sufrir / Con la ropa agujereada / Coser la mantilla / En retales de nada / Me metí en atajos / Saltó la chispa / Nunca pasarás / Por el ojo de la aguja
Resineiro
Resineiro engraçado, engraçado no falar / Resineiro
engraçado, engraçado no falar / Ó i ó ai, eu hei-de ir à terra dele / Ó i ó ai,
se ele lá me quiser levar / Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão / Já
tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão / Ó i ó ai, pr'a escrever ao
resineiro / Ó i ó ai, que trago no coração / Resineiro é casado, é casado e tem
mulher / Resineiro é casado, é casado e tem mulher / Ó i ó ai, vou escrever ao
resineiro / Ó i ó ai, quantas vezes eu quiser
Resinero
Resinero gracioso, gracioso al hablar / Resinero gracioso, gracioso al hablar / Ó i ó ai, yo tengo que ir a su tierra / Ó i ó ai, si él allí me quiere llevar / Ya tengo papel y tinta, tintero y papel secante / Ya tengo papel y tinta, tintero y papel secante / Ó i ó ai, para escribir al resinero / / Ó i ó ai, que traigo en el corazón / El resinero está casado, está casado y tiene mujer / El resinero está casado, está casado y tiene mujer / Ó i ó ai, voy a escribir al resinero / Ó i ó ai, cuantas veces quiera yo
Palhaços encapuçados
Mais uma vez cá estou junto às profundezas / Meu lado negro
quando teima aqui ficar / Mexe e remexe / Do figado às miudezas / Todas as
minhas certezas já mudaram de lugar / Mais uma vez cá estou junto ao precipicio
/ Na teimosia de em tudo encontrar sentido / Mas afinal se o final não teve
inicio / Entre a virtude e o vício / Onde é que vamos parar? / Larilolela, se
eu soubesse o que ser hoje / Mas não aprendo / Já estou em outro lugar / Os
meus ponteiros andam tão desorientados / Relógios galvanizados / Num eterno
despertar! / Ai Deus, ai Deus, chega de falar de mim / Os meus amores lá em
cima do telhado / São tantas dores quantas dos partos que fordes / Quantas
sortes tendes hoje, quantas vidas, quantos fados? / Co's diabos, nada é o que
parece / E o que padece mais tarde se recupera / E quam estes palhaços
encapuçados / Morcegos desorientados que não param de sugar? / Que maravilha, o
primeiro já caiu / E muitos mais hão-de cair a seguir / Porque o poder mata e
esfola sem cessar / E não pertenece a ninguém / É do bombo popular!
Payasos encapuchados
Una vez más estoy aquí junto a las profundidades / Mi lado negro cuando se empeña en quedarse aquí / Se mueve y se remueve / Desde el hígado a las vísceras / Todas mis seguridades / Ya mudaron de lugar / Pero una vez que estoy aquí, junto al precipicio / En la obstinación de encontrar sentido a todo / Pero al final, si el final no tuvo inicio / Entre la virtud y el vicio / ¿Dónde iremos a parar? / Larilolela, si yo supiese qué ser hoy / Pero no aprendo / Ya estoy en otro lugar / Mis agujas andan desorientadas / Relojes galvanizados / En un eterno despertar / ¡Ay Dios, ay Dios!, llega de hablar de mí / Mis amores allá encima del tejado / Tantos son los dolores como los partos que hubieres / ¿Cuántas suertes son tuyas hoy, cuántas vidas, cuántos fados? / Qué diablos, nada es lo que parece / Y lo que padece después se recupera / ¿Y cuánto estos payasos encapuchados / Murciélagos desorientados que no paran de chupar? / Qué maravilla, el primero ya cayó / Y muchos más han de caer enseguida / Porque el poder mata y despelleja sin parar / Y no pertenece a nadie / ¡Es del bombo popular!
O meu menino é d'oiro
O meu menino é d'oiro / É d'oiro fino / Não façam caso que é
pequenino / O meu menino é d'oiro / D'oiro fagueiro / Hei-de levá-lo no meu
veleiro / Venham aves do céu / Pousar de mansinho / Por sobre os ombros do meu
menino / Do meu menino, do meu menino / Venham comigo, venham / Que eu não vou
só / Levo o meu menino no meu trenó / Quantos sonhos ligeiros / P'ra teu
sossego / Menino avaro não tenhas medo / Onde fores no teu sonho / Quero ir
contigo / Menino d'oiro sou teu amigo / Venham altas montanhas / Ventos do mar
/ Que o meu menino / Nasceu para amar / Venham comigo venham / Que eu não vou
só / Levo o menino no meu trenó
Mi niño de oro
Mi niño de oro / Es de oro fino / No hagan caso que es pequeñito / Mi niño es de oro / De oro suave / He de lavarlo en mi velero / Vengan aves del cielo / A posarse de puntillas / Sobre los hombros de mi niño / De mi niño, de mi niño / Vengan conmigo, vengan / Que yo no voy solo / Llevo a mi niño en mi trineo / Cuántos sueños ligeros / Para tu sosiego / Mi niño avaro, no tengas miedo / Donde vayas en tu sueño / Quiero ir contigo / Mi niño de oro, soy tu amigo / vengan altas montañas / Vientos del mar / Que mi niño / Nació para amar / Vengan conmigo, vengan / Que yo no voy solo / Llevo a mi niño en mi trineo
Os lobos e ninguem
Cresceu nas pedras / Falou sozinho com a voz de relento /
Soube do sabor da morte, da sorte e do vento / Cresceu calado / Dormiu sozinho
na terra batida / Marchou descalço no pó dos caminhos da vida / Guardou os
rebanhos dos lobos à chuva e ao frio / Suou tardes de terra dura na ponta do
estio / Comeu do pão magro / Da magra soldada / Largou a enxada / Largou o noivado
/ Largou p'ra cidade mais perto / Para um pão mais certo / Malhou no ferro /
Abriu trincheiras, estradas / Sonhou / Andou no mato perdeu a infância / Matou
/ Marchou calado / Dormiu sozinho na terra batida / Caiu descalço no pó dos
caminhos da vida / E os lobos lá longe / E as asas de abutre sem cara / E o
medo na tarde, na farda, no corpo, na arma / Soldado da morte / No mato de
norte / Na sorte do vento / No fogo da terra / Nascido descalço / Crescido nas
pedras / Dormido sozinho / Enxada / Pão magro / Relento / Soldado / Na ponta do
estio / E o medo da tarde / E os lobos lá longe / E as asas de abutres sem cara
Los lobos y nadie
Creció en las piedras / Habló solo con la voz de rocío / Supo del sabor de la muerte, de la suerte y del viento / Creció callado / Durmió solo en la tierra batida / Caminó descalzo por el polvo de los caminos de la vida / Guardó los rebaños de los lobos a la lluvia y al frío / Sudó tardes de tierra dura en el final del estío / Comió del pan escaso / De la escasa soldada / Dejó la azada / Dejó los esponsales / Se fue a la ciudad más cercana / A por un pan más seguro / Golpeó en el hierro / Abrió trincheras, caminos / Soñó / Anduvo entre matos y perdió la infancia / Mató / Caminó callado / Durmió solo en la tierra batida / Cayó descalzo por el polvo de los caminos de la vida / Y los lobos allá a lo lejos / Y las alas del buitre sin cara / Y el miedo en la tarde, el uniforme, el cuerpo, el arma / Soldado de la muerte / En el matorral del norte / En la suerte del viento / En el fuego de la tierra / Nacido descalzo / Crecido en las piedras / Dormido solito / Azada / Pan escaso / Rocío / Soldado / En el final del verano / Y el miedo de la tarde / Y los lobos allá lejos / Y las alas de los buitres sin cara
A verdade do poeta
É de sonho que se tece / A verdade do poeta / E a poesia
acontece / Quando o poeta se esquece / De acordar na hora certa / Com o corpo
adormecido / E a alma bem desperta / A vida faz mais sentido / E murmura ao
ouvido / Do sonho a palavra certa / E depois é só trocar / Por palavras sentimentos
/ E as emoções, enganar / E fazê-las confessar / Os verdadeiros intentos /
Sonhar é fazer sorrir / A lágrima mais dolorosa / E os pesadelos, despir / Para
depois os vestir / De mil sonhos cor-de-rosa / É fazer o sol brilhar / Na noite
mais tenebrosa / Pôr a tristeza a cantar / E devolver ao olhar / Aquela luz
preciosa / É roubar ao pôr-do-sol / Um raio de luz derradeiro / E fazer dele um
farol / Que ilumine o mundo inteiro
La verdad del poeta
Es desde el sueño que se teje / La verdad del poeta / Y la poesía sucede / Cuando el poeta se olvida / De despertar en hora precisa / Con el cuerpo adormecido / Y el alma bien despierta / La vida tiene más sentido / Y murmura al oído / Del sueño la palabra cierta / Y después sólo es cambiar / Palabras por sentimientos / Y engañar a las emociones / Y hacerlas confesar / Los verdaderos intentos / Soñar es hacer sonreír / A la lágrima más dolorosa / Desnudar las pesadillas / Para vestirlas después / De mil sueños color rosa / Y hacer el sol brillar / En la noche más tenebrosa / Poner la tristeza a cantar / Y devolver a la mirada / Aquella luz preciosa / Y robar al sol poniente / Un último rayo de luz / Y hacer de él un farol / Que ilumine el mundo entero
O meu Porto do Graal
São negros os meus queixumes / São tão longos e tão breves /
Os longos olhos distantes / Dos amigos dos amantes / E outros tantos nunca
antes vistos / São discursos, são ministros sinistros são / Quem são, afinal? /
Quanto tempo / Quanto tempo a esperar a hora / Quanto tempo mais, meu amor /
Meu povo à beira mar e cal / Basta de lamento / Viva Portugal, viva Portugal /
Esta noite vou cobrir-me / Com o xaile de minha mãe / Que já morreu, a mesma
hora acender o braseiro / E rezar e cantar com a voz / Que Deus me deu: /
"Ai Mouraria da velha rua da Palma / Onde eu um dia deixei presa a minha
alma" / Quando a hora tardía chegar
/ Todas as coisas vão mudar de lugar / Para sempre a teu lado / Meu amor, meu
amor / Meu país / Minha mãe, minha avó / Minha raíz / Minha mãe, minha avó /
Minha matriz / Meu só-li-dó / Meu filho que quis / Sonhos de alvoroços / Na
madrugada em espuma / Desfaço-me teus pés, meu Graal / Viva Portugal / O meu
Porto do Graal
O meu Porto do Graal
Son negras mi quejas / Son tan largos y tan breves / Los largos ojos distantes / De los amigos de los amantes / Y otros tantos nunca antes vistos / Son ministros, son discursos siniestros son / ¿Quién son al final? / Cuánto tiempo / Cuánto tiempo esperando la hora / Cuánto tiempo más, mi amor / Mi pueblo a orilla de mar y cal / Basta de lamento / Viva Portugal, viva Portugal / Esta noche voy a cubrirme / Con el chal de mi madre / Que ya murió, a la misma hora de encender el brasero / Y rezar y cantar con la voz / Que Dios me dio: / "Ay Mouraría, de la vieja calle de la Palma / Donde un día dejé presa mi alma" / Cuando llegue la hora tardía / Todas las cosas van a cambiar de lugar / Para siempre a tu lado / Mi amor, mi amor / Mi país / Mi madre, mi abuela / Mi raíz / Mi madre, mi abuela / Mi matriz / MI sí-li-dó / El hijo que quise / Sueños de alborozo / En la madrugada en espuma / Me deshago a tus pies, mi Graal / Viva Portugal / Mi puerto de Graal
Há festa na Mouraria
Há festa na Mouraria / É dia da procissão / Da Senhora da
Saúde / Até a Rosa Maria / Da Rua do Capelão / Parece que tem virtude / Colchas
ricas nas janelas / Pétalas soltas no chão / Almas crentes, povo rude / Anda a
fé pelas vielas / É dia da procissão / Da Senhora da Saúde / Após um curto
rumor / Profundo silêncio pesa / Por sobre o Largo da Guia / Passa a Virgem no
andor / Tudo se ajoelha e reza / Até a Rosa Maria / Como que petrificada / Em
fervorosa oração / É tal a sua atitude / Que a rosa já desfolhada / Da Rua do
Capelão / Parece que tem virtude
Hay fiesta en Mouraria
Hay fiesta en Mouraria / Es día de procesión / De la Señora de la Salud / Y hasta Rosa María / De la Calle Capelão / Parece tener virtud / Colchas ricas en las ventanas / Pétalos sueltos en el suelo / Almas creyentes, pueblo rudo / Va la fe por las callejuelas / Es día de procesión / De la Señora de la Salud / Después de un breve rumor / Profundo silencio pesa / Por el Largo da Guia / Pasa la Virgen en sus andas / Todo se arrodilla y reza / Hasta Rosa María / Como si estuviese petrificada / En fervorosa oración / Es tal su actitud / Que la rosa ya deshojada / De la Calle del Capelão / Parece tener virtud
As mãos que trago
Foram montanhas, foram mares / Foram os números, não sei /
Por muitas coisas singulares / Não te encontrei, não te encontrei / E te
esperava, te chamava / Entre os caminhos me perdi / Foi nuvem negra, maré brava
/ E era por ti, era por ti / As mãos que trago, as mãos são estas / Elas
sozinhas te dirão / Se vêm de mortes ou de festas / Meu coração, meu coração /
Tal como sou, não te convido / A ires para onde eu for / Tudo o que eu tenho é
haver sofrido / Pelo meu sonho alto e perdido / E o encantamento arrependido /
Do meu amor, do meu amor
Las manos que traigo
Fueron montañas, fueron mares / Fueron los números, no sé / Por muchas cosas singulares / No te encontré, no te encontré / Y te esperaba, te llamaba / Entre los caminos me perdí / Fui nube negra, marea brava / Y era por ti, era por ti / Las manos que traigo, las manos son estas / Ellas solitas te dirán / Si viene de muertes o de fiestas / Mi corazón, mi corazón / Tal como soy, no te invito / A que fueras para donde voy yo / Todo lo que tengo es haber sufrido / Por mi sueño alto y perdido / Y el encantamiento arrepentido / De mi amor, de mi amor
Senhora
Que dor, ai Senhora do tempo / Que fizeste de mim, que
fizeste de nós / Quebraste o feitiço das horas / E sem mais demoras ficámos a
sós / Que dor, ai Senhora dos partos / Meus seios estão fartos de água a correr
/ Senhora, porque morro agora / De mágoa no ventre quando vou nascer / Quisera
eu voltar atrás / Envolver meus pedaços na bruma / Loucamente / Quisera eu
sentir a paz / Arrancar das entranhas o céu / Que dor, ai Sehora dos loucos /
Meus passos são poucos, pouca a minha fé / Senhora, arrancai esta dor / Estes
traços de amor e os laços até / Que dor, Senhora dos aflitos / Cessai estes
gritos, quebrai este nó / Senhora, por fim nasço agora / E aprendo a ser só,
aprendo a ser só... / Quisera eu voltar atrás / Resgatar meus pedaços da bruma
mansamente / Quisera eu sentir a paz / Arrancar das entranhas o céu / Que dor,
ai Senhora serena / Levai minha pena / Sarai minha tez / Senhora, Senhora dos
passos / Vou abrir os braços e amar outra vez
Señora
Qué dolor, ay, Señora del tiempo / Qué hiciste de mí, qué hiciste de nosotros / Quebraste el hechizo de las horas / Y sin tardar más nos encontramos a solas / Qué dolor, Ay, Señora de los partos / Mis senos están hartos del agua que corre / Señora, porque ahora muero / De dolor en el vientre cuando voy a nacer / Quisiera volver atrás / Envolver mis pedazos en la bruma / Locamente / Quisiera sentir la paz / Arrancar de las entrañas el cielo / Qué dolor, ay, Señora de los locos / Mis pasos son pocos, poca mi fe / Señora, arranca este dolor / Estos trazos de amor e incluso los lazos / Qué dolor, Señora de los afligidos / Cesa este grito, quiebra este nudo / Señora, por fin nazco ahora / Y aprendo a estar sola, aprendo a estar sola... / Quisiera volver atrás / Rescatar mansamente mis pedazos de la bruma / Quisiera sentir la paz / Arrancar de las entrañas el cielo / Qué dolor, ay, Señora serena / Llévate mi pena / Sana mi tez / Señora, Señora de los pasos / Voy a abrir los brazos y a amar otra vez
Ave Maria sagrada
Avé Maria sagrada / Cheia de graça divina / Oração tão
pequenina / De uma beleza elevada / Nosso Senhor é convosco / Bendita sois vós,
Maria / Nasceu vosso filho, um dia / Num palheiro humilde e tosco / Entre as
mulheres bendita / Bendito é o fruto, a luz / Do vosso ventre, Jesus / Louvor e
graça infinita / Santa Maria das dores / Mãe de Deus, se for pecado / Tocar e
cantar o fado / Rogai por nós pecadores / Nenhum fadista tem sorte / Rogai por
nós Virgem Mãe / Agora, sempre e também / Na hora da nossa morte
Ave María sagrada
Ave María sagrada / Llena de gracia divina / Oración tan pequeñita / De una belleza elevada / Nuestro Señor está con vos / Bendita sois vos, María / Nació vuestro hijo un día / En un pajar humilde y tosco / Entre las mujeres bendita / Bendito es el fruto, la luz / De vuestro vientre, Jesús / Elogio y grata infinita / Santa María de los dolores / Madre de Dios, si fuese pecado / Tocar y cantar el fado / Rogad por nosotros, pecadores / Ningún fadista tiene suerte / Rogad por nosotros, Virgen Madre / Ahora, siempre y también / En la hora de nuestra muerte
Tenho uma casa no sul
Sabor a sal / Choro de mar / Sabor a sal / Deste lugar /
Lobos de mar / Pernas de pau / Olhares de mau / A navegar / Tenho uma casa no
sul / Onde poisam as gaivotas / E o mar é mais azul / Confundido de teus olhos
/ Tenho uma casa no sul / Sem janelas e sem portas / Onde as transparências do
sol / Na tua saia de folhos / Sabor a sal / Choro de mar / Sabor a mel / Deste
lugar / Lobos de mar / Pernas de pau / Olhares de mau / A navegar / Tenho uma
casa no sol / Feita escombros de uma proa / Dum barco que naufragou / Pelas
ruas de Lisboa / Avenida marginal / Em noite de lua cheia / Com margens de
temporal / E caranguejos na areia / Sabor a sal / Choros de mar / Sabor a mel /
Deste lugar / Lobos de mar / Pernas de pau / Olhares de mau / A navegar
Tengo una casa en el sur
Sabor a sal / Llanto de mar / Sabor a sal / De este lugar / Lobos de mar / Patas de palo / Miradas de malo / Que navegan / Tengo una casa en el sur / Donde se posan las gaviotas / Y el mar es más azul / Confundido de tus ojos / Tengo una casa en el sur / Sin ventanas y sin puertas / Donde las transparencias del sol / En tu falda de volantes / Sabor a sal / Llanto del mar / Sabor a miel / De este lugar / Lobos de mar / Patas de palo / Miradas de malo / Que navegan / Tengo una casa en el sur / Hecha escombros de una proa / De un barco que naufragó / Por las calles de Lisboa / Avenida marginal / En noche de luna llena / Con márgenes de temporal / Y cangrejos en la arena / Sabor a sal / Llantos de mar / De este lugar / Lobos de mar / Patas de palo / Miradas de malo / Que navegan
Os amantes (Les amants de Teruel)
Por dentro um do outro / Caminham os amantes / Desenham com
seus pés / Novas rotas navegantes / Por baixo o imenso mar / Que nos naufrague
o amor / Num fado-povo / Renasce em liberdade / No canto do poeta / Que morreu
/ As folhas / As folhas voam / Num leito de bruma / Mas se a terra não fosse
tão doce / Onde moram os amantes / Por fim / Ombro em ombro nús / Por dentro um
do outro / Caminham os amantes / Desenham com seus pés / novas rotas navegantes
/ Por baixo o imenso mar / Que nos naufrague o amor / Num fado-povo / Renasço
em liberdade / E em pleno voo / Navego feita em espuma
Los amantes (Les amants de Teruel)
Por dentro uno de otro / Caminan los amantes / Dibujan con sus pies / Nuevas rutas navegantes / Por debajo el inmenso mar / Que nos naufrague el amor / En un fado-pueblo / Renace en libertad / En el canto del poeta / Que murió / Las hojas / Las hojas vuelan / En un lecho de bruma / Pero si la tierra no fuese tan dulce / Donde viven los amantes / Por fin / Desnudos hombro a hombro / Por dentro uno de otro / Caminan los amantes / Dibujan con sus pies / Nuevas rutas navegantes / Por debajo el inmenso mar / Que nos naufrague el amor / En un fado-pueblo / Renazco en libertad / Y en pleno vuelo / Navego hecha en espuma
Uma caixa de pó
Já vai nascer / A madrugada / Enche-se lenta / Já tão
desmamada / E é um poema / Que eu sinto em mim / Na tua presença / O principio
do fim / Vai de mansinho aconchegada / Sem pão meu linho / Na casa tão só / Ai
na casa-ninho / Já ao pé do rio / Em desvario vai / Buscar seu nome / Fui de
mansinho, de madrugada / Fiz meu ninho de ave quebrada / Teci um vestido, do
mais puro linho / Não me viram tão só / E ainda me espero / Longe já vai, o
tempo que fomos / Nos conchecemos palhaços e bobos / Mas são notas soltas, sem
mais solidão / Meu ser se debruça ao sentir pulsar / Seu própio coração / São
voltas loucas, endiabradas / As voltas da vida, ausentes de estradas / Tão
somente vamos a caminhar / E num suave compasso, podemos sonhar / De barro e
pão se faz o caminho / E o coração já refaz o seu ninho / Ai por Deus já me
viste / Ai por Deus e o é / Por dentro de peito uma caixa de pó
Una caja de polvo
Y vi nacer / La madrugada / Se llena lenta / Ya tan destetada / Y es un poema / Que yo siento en mí / En tu presencia / El principio del fin/ Va despacito apoyándose / Sin pan mi lino / En la casa tan solo / Ay, en la casa-nido / Ya pegada al río / En desvarío va / A buscar su nombre / Fui de puntillas, de madrugada / Hice mi nido de ave quebrada / Tejí un vestido, del más puro lino / No me vieron tan solo / Y aún me espero / Ya va lejos, el tiempo en que fuimos / Nos conocemos payasos y bobos / Pero son notas sueltas, sin más soledad / Mi ser se inclina al sentir pulsar / Su propio corazón / Son vueltas locas, endiabladas / Las vueltas de la vida / Sin calles / Vamos tan sólo a caminar / Y en un suave compás, podemos soñar / De barro y pan se hace el camino / Y el corazón ya rehace su nido / Ay, por Dios, ya me viste / Ay, por Dios / Por dentro del pecho una caja de polvo
É da torre mais alta
É da torre mais alta / Que eu canto este meu pranto / Que eu
canto este meu sangue / Este meu povo / Dessa torre maior / Em que apenas sou grande
/ Por me cantar de novo / Por me cantar de novo / Cantar como quem despe / A
ganga da tristeza / Como quem bebe a água / Da saudade / Chama que nasce e
cresce / E vive e morre acesa / Chama que nasce e cresce / Em plena liberdade /
Mas nunca se dói só / Quem a cantar magoa / Dói-me o Tejo vencido / Dói-me a
secura / Dói-me o tempo perdido / Dói-me ele de lonjura / Dói-me o povo
esquecido / E morro de ternura / Dói-me o tempo perdido / E morro de ternura
Es de la torre más alta
Es de la torre más alta / Desde donde canto mi llanto / Que yo canto esta sangre mía / Este pueblo mío / Desde esa torre mayor / En que apenas soy grande / Para cantar de nuevo / Para cantar de nuevo / Cantar como quien se desnuda / El tejido de la tristeza / Como quien bebe el agua / De la saudade / Llama que nace y crece / Y vive y muere apagada / Llama que nace y crece / En plena libertad / Pero nunca se duele en soledad / Quien al cantar hiere / Me duele el Tajo vencido / Me duele la sequedad / Me duele el tiempo perdido / Me duele él en la distancia / Me duele el pueblo olvidado / Y muero de ternura / Me duele el tiempo perdido / Y muero de ternura
Folklore
Santo António dos Olivais / Ai guardai-me a minha azeitona /
Que m'a comem os pardais / Ai que m'am comem os pardais / Comem uma, comem duas
comem três / Na comem mais! / Ai S. João à minha porta / Nã tenho nada pa lhe
dare / Ai quero dare cadeirinha / Ai pr'ó S. João se assentare / Ai donde
vindes S. João / Ai pela calma sem chapéu / Ai venho de apagar as fogueiras /
Ai que se acenderam no céu / Ó rego ó monte / Vela, vala, vala, vala, / Vala,
vala, vala, vala / Sto António leva o gado / Sto António me levar / Ninguém
tenha dó de mim
Folklore
San Antonio de Olivares / Ay, guarda mi aceituna / Que me las comen los gorriones / Ay, que me las comen los gorriones / Comen una, comen dos, comen tres / ¡Y comen más! / Ay, san Juan a mi puerta / No tengo nada para darle / Ay, quiero darle una sillita / Ay, para que san Juan se siente / Ay, de dónde vienes, san Juan / Con tu calma y sin sombrero / vengo de apagar las hogueras / Ay, que se encendieron en el cielo / Oh, surco, oh, monte / Vela, zanja, zanja, zanja / Zanja, zanja, zanja, zanja / San Antonio lleva el ganado / San Antonio me lleva / Que nadie sienta pena por mi