Gisela João - Nua (2016)


GISELA JOÃO - NUA (2016)

1.- Fado para esta noite / 2.- Há palavras que nos beijam / 3.- O senhor extraterrestre / 4.- As rosas não falam / 5.- Sombras do passado / 6.- Naufrágio / 7.- Lá na minha aldeia / 8.- O mundo é um moinho / 9.- Labirinto ou não foi nada / 10.- Quando os outros te batem, beijo-te eu / 11.- Noite de São João / 12.- Naquela noite em Janeiro / 13.- Llorona

FADO PARA ESTA NOITE

Volta esta noite p'ra mim / Volta esta noite p'ra mim / Canto-te um fado no silêncio, se quiseres / Mando um recado ao luar / Que se costuma deitar, ao nosso lado / P'ra não vir hoje, se tu vieres / Anda deitar-te, fiz a cama de lavado / Cheira a alfazema o meu lençol alinhado / Pus almofadas com fitas de côr / Colcha de chita com barra de flor / E à cabeceira tenho um Santo alumiado / Volta esta noite p'ra mim / Volta esta noite p'ra mim / Canto-te um fado no silêncio, se quiseres / Mando um recado ao luar / Que se costuma deitar, ao nosso lado / P'ra não vir hoje, se tu vieres / Uso o meu xaile p'ra nos servir de coberta / E um solitário, ao pé da janela aberta / Pus duas rosas, que estão a atirar / Beijos vermelhos, sem boca p'ros dar / Sem o teu corpo, minha noite está deserta / Volta esta noite p'ra mim / Pois só é noite p'ra mim / Ser abraçada por teus braços, atrevidos / Quero o teu cheiro sadio / Neste meu quarto vazio / De madrugada, beijo os teus lábios, adormecidos

FADO PARA ESTA NOITE

Vuelve esta noche hacia mí / Vuelve esta noche hacia mí / Te canto un fado en el silencio, si quieres / Mando un recado a la luz de la luna / Que acostumbra a acostarse a nuestro lado / Para que no venga esta noche, si tu vienes / Ven a acostarte, la cama está recién hecha / Huele a espliego mi sábana estirada / Puse almohadas con cintas de color / Colcha estampada con franja de flores / Y en el cabecero hay un santo iluminado / Vuelve esta noche hacia mí / Vuelve esta noche hacia mí / Te canto un fado en el silencio, si quieres / Mando un recado a la luz de la luna / Que acostumbra a acostarse a nuestro lado / Para que no venga esta noche, si tu vienes / Uso mi chal para que nos cubra / Y un jarrón, junto a la ventana abierta / Puse dos rosas que están acercándose / Besos rojos sin boca para darlos / Sin tu cuerpo, mi noche está desierta / Vuelve esta noche hacia mí / Pues sólo es noche para mí / Al ser abrazada por tus brazos atrevidos / Quiero tu aroma limpio / En este cuarto vacío / De madrugada beso tus labios adormecido

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam / Como se tivessem boca / Palavras de amor, de esperança / De imenso amor, de esperança louca / Palavras nuas que beijas / Quando a noite perde o rosto / Palavras que se recusam / Aos muros do teu desgosto / De repente coloridas / Entre palavras sem cor / Esperadas, inesperadas / Como a poesia ou o amor / (O nome de quem se ama / Letra a letra revelado / No mármore distraído / No papel abandonado) / Palavras que nos transportam / Aonde a noite é mais forte / Ao silêncio dos amantes / Abraçados contra a morte

Hay palabras que nos besan

Hay palabras que nos besan / Como si tuviesen boca / Palabras de amor, de esperanza / De inmenso amor, de esperanza loca / Palabras denudas que besas / Cuando la noche pierde el rostro / Palabras que se pegan / A los muros de tu disgusto / De repente coloreadas / Entre palabras sin color / Esperadas, inesperadas / Como la poesía o el amor / (El nombre de quien se ama / Letra a letra revelado / En el mármol distraído / En el papel abandonado) / Palabras que nos transportan / Donde la noche es más fuerte / Al silencio de los amantes / Abrazados contra la muerte

O SENHOR EXTRATERRESTRE

Vou contar-vos um história que não me sai da memória / Foi pra mim uma vitória nesta era espacial / Noutro dia estremeci quando abri a porta e vi / Um grandessíssimo OVNI pousado no meu quintal / Fui logo bater à porta, veio uma figura torta / Eu disse: se não se importa poderia ir-se embora / Tenho esta roupa a secar e ainda se vai sujar / Se essa coisa aí ficar a deitar fumo para fora / E o senhor extraterrestre / Viu-se um pouco atrapalhado / Quis falar mas disse "pi" / Estava mal sintonizado / Mexeu lá no botãozinho / E pôde contar-me, então / Que tinha sido multado / Por o terem apanhado / Sem carta de condução / O senhor desculpe lá, não quero passar por má / Pois você aonde está não me adianta nem me atrasa / O pior é a vizinha que parece que adivinha / Quando vir que eu estou sozinha com um estranho em minha casa / Mas já que está aí de pé venha tomar um café / Faz-me pena, pois você nem tem cara de ser mau / E eu queria saber também se na terra donde vem / Não conhece lá ninguém que me arranje bacalhau / E o senhor extraterrestre / Viu-se um pouco atrapalhado / Quis falar mas disse "pi" / Estava mal sintonizado / Mexeu lá no botãozinho / Disse para me pôr a pau / Pois na terra donde vinha / Nem há cheiro de sardinha / Quanto mais de bacalhau / Conte agora novidades: é casado? tem saudades? / Já tem filhos? de que idades? só um? a quem é que sai? / Tem retratos, com certeza, mostre lá, ai que riqueza! / Não é mesmo uma beleza? tão verdinho, sai ao pai / Já está de chaves na mão? vai voltar p'ro avião? / Espere, que já ali estão umas sandes pra viagem / E vista também aquela camisinha de flanela / P'ra quando abrir a janela não se constipar co'a aragem / E o senhor extraterrestre / Viu-se um pouco atrapalhado / Quis falar mas disse "pi" / Estava mal sintonizado / Mexeu lá no botãozinho / E pôde-me então dizer / Que quer que eu vá visitá-lo / Que acha graça quando eu falo / Ou ao menos, p'ra escrever / E o senhor extraterrestre / Viu-se um pouco atrapalhado / Quis falar mas disse "pi" / Estava mal sintonizado / Mexeu lá no botãozinho / Só pra dizer: "Deus lhe pague" / Eu dei-lhe um copo de vinho / E lá foi no seu caminho / Que era um pouco em ziguezague

El señor extraterrestre

Voy a contaros una historia que no se me va de la cabeza / Fue para mí una victoria en esta era espacial / Un día me estremecí cuando abrí la puerta y vi / Un "grandisísimo" OVNI posado en mi jardín / Fui a llamar a su puerta y vino una figura torcida / Yo dije: Si no le importa, podría marcharse / Tengo esta ropa secándose y todavía me la ensucia / Si esa cosa se queda ahí echando humo para fuera / El señor extraterrestre / Se vio un poco confundido / Quiso hablar, pero dijo "pi" / Estaba mal sintonizado / Dio vueltas al botoncito / Y entonces pudo contarme / Que había sido multado / Porque lo habían cogido / Sin carnet de conducir / Señor, discúlpeme, no quiero que me tome a mal / Pues donde está usted ni me adelanta ni atrasa / Lo peor es la vecina que parece que adivina / Cuando ve que estoy sola con un extraño en la casa / Pero ya que está ahí de pie venga a tomar un café / Me da pena, pues usted no tiene cara de malo / Y yo quería saber también si en la tierra de donde viene / No conocería a alguien que me consiga bacalao / El señor extraterrestre / Se vio un poco confundido / Quiso hablar, pero dijo "pi" / Estaba mal sintonizado / Dio vueltas al botoncito / Dijo poniéndome alerta / Que en la tierra de dónde él venía / No hay rastro de sardinas / Cuanto menos de bacalao / Cuénteme sus cosas: ¿está casado? ¿siente saudades? / ¿Tiene hijos? ¿De qué edades? ¿Sólo uno? ¿A quién ha salido? / Tiene fotos, seguro, enséñeme una, ¡ay, que ricura! / ¿No es una preciosidad? Tan verdecito, ha salido al padre / ¿Ya está con la llave en la mano? ¿Va a volverse al avión? /Espere, que le he preparado unos bocadillos para el viaje / Y póngase también esa camiseta de franela / Para que cuando abra la ventana no se constipe con la corriente / El señor extraterrestre / Se vio un poco confundido / Quiso hablar, pero dijo "pi" / Estaba mal sintonizado / Dio vueltas al botoncito / Y entonces pudo decirme / Que quería que fuese a visitarlo / Que le hace gracia cómo hablo / O al menos que le escriba / El señor extraterrestre / Se vio un poco confundido / Quiso hablar, pero dijo "pi" / Estaba mal sintonizado / Dio vueltas al botoncito / Sólo para decir: / Dios se lo pague / Yo le di un vaso de vino / Y él siguió su camino / Aunque un poco haciendo eses

As rosas não falam

Bate outra vez / Com esperanças o meu coração / Pois já vai terminando o verão / Enfim / Volto ao jardim / Com a certeza que devo chorar / Pois bem sei que não queres voltar / Para mim / Queixo-me às rosas / Mas que bobagem / As rosas não falam / Simplesmente as rosas exalam / O perfume que roubam de ti, ai / Devias vir / Para ver os meus olhos tristonhos / E, quem sabe, sonhavas meus sonhos / Por fim

Las rosas no hablan

Llama otra vez / Con esperanzas a mi corazón / Pues ya va terminando el verano / En fin / Vuelvo al jardín / Con la seguridad de que debo llorar / Pues bien sé que no quieres volver / Para mí / Me quejo a las rosas / Pero, qué disparate / Las rosas no hablan / Simplemente las rosas exhalan / El perfume que roban de ti, ay / Deberías venir / Para ver mis ojos entristecidos / Y, quién sabe, si soñarías mis sueños / Por fin

Sombras do passado

Venham sombras do passado / Venha tudo o que eu te dei / Venha a seiva do pecado / Venha o mal que eu rejeitei / Venham sombras do passado / Venham crimes de saudade / Pesadelos de amargura / Venham sismos à cidade / Desatar esta loucura / Venham sonhos e promessas / Ocupar o que foi teu / Venha o dia em que tropeças / Neste amor que já morreu / Venham sonhos e promessas / Venha vento, venha frio / A mais negra solidão / Venha a dor do teu vazio / Implorar o meu perdão / Venham sombras do passado / Venha tudo o que eu te dei...

Sombras del pasado

Vengan sombras del pasado / Venga todo lo que te di / Venga la savia del pecado / Venga el mal que no acepté / Vengan sombras del pasado / Vengan los crímenes de la saudade / Pesadillas de amargura / Vengan seísmos a la ciudad / A desatar esta locura / Vengan sueños y promesas / A ocupar lo que fue tuyo / Venga el día en que tropiezas / En este amor que ya murió / Vengan sueños y promesas / Venga el viento, venga el frío / La más negra soledad / Venga el dolor de tu vacío / A implorar mi perdón / Vengan sombras del pasado / Venga todo lo que te di...

Naufrágio

Pus o meu sonho no navio / E o navio em cima do mar / Depois abri o mar com as mãos / Com as mãos para o meu sonho naufragar / Minhas mãos ainda estão molhadas / Do azul, do azul das ondas entreabertas / E a côr que escorre dos meus dedos / Colore as areias desertas / O vento vem vindo de longe / A noite se curva de frio / Debaixo da água vai morrendo / Vai morrendo o meu sonho dentro do navio / Chorarei quando fôr preciso para fazer / Para fazer com que o mar cresça / E o meu navio chegue ao fundo / E o meu sonho desapareça

Naufragio

Puse mi sueño en el navío / Y el navío encima del mar / Después abrí el mar con las manos / Con las manos para que mi sueño naufragara / Mis manos aún están mojadas / Del azul, el azul de las olas entreabiertas / Y el color que escurre desde mis dedos / Tiñe las arenas desiertas / El viento ha venido de lejos / La noche se curva de frío / Debajo del agua va muriendo / Va muriendo mi sueño dentro del navío / Lloraré cuanto sea preciso para hacer / Para hacer que el mar crezca / Y mi navío llegue al fondo / Y mi sueño desaparezca

Lá na minha aldeia

Lá na minha aldeia, não se vira o vira / Bater o pé! / Não se vira o vira, / Bater o pé! / Repara, Maria / Que assim como eu faço é que é! / Repara, Maria, / Que assim como eu faço é que é! / Se o vira avançou de jeito / É porque o vira é dançado / De maneira que o sujeito / Não leva o par agarrado. / E hoje, nas danças modernas, / Apertados à tabela, / Não se sabe se as pernas / São dele ou são dela! / São dele ou são dela! / Nas festas da minha aldeia, / Tudo vem dançar pra rua. / Em noites de lua cheia, / Tudo vira, até a lua! / E nos teus olhos, amor, / Quando o luar se altera, / Os meus se encandeiam / E eu não sou quem era! / Repara, Maria, / Que assim como eu faço é que é! / Que assim é que é.

Allá en mi aldea

Allá en mi aldea, no se baila el vira / ¡Golpear con el pie! / No se baila el vira / ¡Golpear con el pie! / Corrige, María / Que así como yo lo hago es como es / Corrige, María / Que así como yo lo hago es como es / Si el vira avanzó en su forma / Es porque el vira es bailado / De manera que el sujeto / No lleva a su pareja agarrada / Y hoy, en las danzas modernas / Juntos en la pista / No se sabe si las piernas / Son de él o son de ella / En las fiestas de mi aldea / Todo va a bailar a la calle / En noches de luna llena / Todo baila, hasta la luna / Y en tus ojos, amor / Cuando la luz de la luna se altera / Los míos se encandilan / Y yo no soy quien era / Corrige, María / Que así como yo lo hago es como es / Así es como es

O mundo é um moinho

Ainda é cedo, amor / Mal começaste a conhecer a vida / Já anuncias a hora de partida / Sem saber mesmo o rumo que irás tomar / Preste atenção, querida / Embora eu saiba que estás resolvida / Em cada esquina cai um pouco a tua vida / Em pouco tempo não serás mais o que és / Ouça-me bem, amor / Preste atenção, o mundo é um moinho / Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho / Vai reduzir as ilusões a pó / Preste atenção, querida / De cada amor tu herdarás só o cinismo / Quando notares estás à beira do abismo / Abismo que cavaste com os teus pés

El mundo es un molino

Aún es temprano, amor / Apenas comenzaste a comenzar la vida / Ya anuncias la hora de la partida / Sin saber siquiera qué rumbo vas a tomar / Presta atención, querida / Aunque yo sepa que estás dispuesta / En cada esquina cae un poco tu vida / En poco tiempo no serás más de lo que eres / Escúchame bien, amor / Presta atención, el mundo es un molino / Va a triturar tus sueños, tan mezquino / Va a reducir las ilusiones a polvo / Presta atención, querida / De cada amor tú heredarás sólo el cinismo / Cuando notes que estás a orillas del abismo / Abismo que cavaste con tus pies

Labirinto ou não foi nada

Talvez houvesse uma flor / Aberta na tua mão / Podia ter sido amor / E foi apenas traição / É tão negro o labirinto / Que vai dar à tua rua... / Ai de mim, que nem pressinto / A cor dos ombros da Lua! / Talvez houvesse a passagem / De uma estrela no teu rosto / Era quase uma viagem: / Foi apenas um desgosto / É tão negro o labirinto / Que vai dar à tua rua... / Só o fantasma do instinto / Na cinza do céu flutua / Tens agora a mão fechada / No rosto, nenhum fulgor / Não foi nada, não foi nada / Podia ter sido amor

Laberinto o no fue nada

Tal vez hubiese una flor / Abierta en tu mano / Podría haber sido amor / Y fue apenas traición / Es tan negro el laberinto / Que va a dar a tu calle... / Ay de mí, que ni presiento / El color de los hombros de la luna / Tal vez hubiese un pasaje / De una estrella en tu rostro / Era casi un viaje: / Fue apenas un disgusto / Es tan negro el laberinto / Que va a dar a tu calle... / Sólo el fantasma del instinto / En la ceniza del cielo ondea / Tienes ahora cerrada la mano / En el rostro, ningún fulgor / No fue nada, no fue nada / Podría haber sido amor

Quando os outros te batem, beijo-te eu

Se bem que não me ouviste, e foste embora / E tudo em ti, decerto, me esqueceu / Como ontem, o meu grito, diz-te agora / Quando os outros te batem, beijo-te eu! / Se bem que às minhas maldições fugiste / Por te haver dado tudo o que era meu / Como ontem, o meu grito, agora diz-te / Quando os outros te batem, beijo-te eu! / Mas há de vir o dia em que a saudade / Te lembre quem por ti já se perdeu / O fado, quando é triste, é que é verdade / Quando os outros te batem, beijo-te eu!

Cuando los otros te golpean, yo te beso

Aunque no me escuchaste y te fuiste lejos / Y todo en ti, ciertamente me olvidó / Como ayer mi grito te dice ahora / Cuando los otros te golpean, yo te beso / Aunque huiste de mis maldiciones / Por haberte dado todo lo que era mío / Como ayer, mi grito ahora lo has visto / Cuando los otros te golpean, yo te beso / Pero ha de llegar el día en que la saudade / Te recuerde a quien por ti ya se perdió / El Fado cuando es triste es que es verdad / Cuando los otros te golpean, yo te beso

Noite de São João

Era Noite de Verão / E em véspera de São João / Toda a gente vai para a rua / Saí de camisa rosa / Saia curta perna airosa / Batom e verniz nas unhas / Numa mão tinha o martelo / Que era verde e amarelo / E na outra o alho-porro / Desci até à Ribeira / Com a Ponte mesmo à beira / Que é de onde se vê o Fogo / E ao chegar a Miragaia / Quando fui rodar a saia / Senti calor no decote / Quando avisto a dada altura / A comer uma fartura / O moço dos carros de choque / Ele era moreno e alto / E eu que até sou contralto / Piava fino com ele / Ficava toda nervosa / Só de ouvir aquela prosa / Que me arrepiava a pele / Fomos juntos para a Foz / E ali estávamos nós / A ver os balões no céu / Quando apareceu a Rute / Que chegou como um Abutre / A dizer que ele era seu / Como quem salta à fogueira / Fui para a bulha, disse asneiras / E esfreguei-lhe o Alho-porro / E fresca como um manjerico / Engatei um mais bonito / Que apareceu em meu socorro

Noche de San Juan

Era noche de verano / Y en vísperas de San Juan / Toda la gente va a la calle / Salí con camisa rosa / Falda corta y pierna airosa / Carmín y laca de uñas / En una mano tenía el martillo / Que era verde y amarillo / Y en la otra un puerro / Bajé hasta la Ribera / Con el puente justo al lado / Que es desde donde se ve el fuego / Y al llegar a Miragaia / Cuando fui a mover la falda / Sentí calor en el escote / Cuando veo a cierta altura / Comiendo un churro / Al chico de los coches de choque / Él era moreno y alto / Y yo que hasta soy contralto / Piaba tan fino como él / Me encontraba toda nerviosa / Sólo por oír aquella prosa / Que me erizaba la piel / Fuimos juntos hasta Foz / Y allí estábamos nosotros / Viendo los globos en el cielo / Cuando apareció Ruth / Que llegó como un buitre / Diciendo que él era suyo / Como quien salta la hoguera / Fui al lío, dije burradas / La restregué con el puerro / Y fresca como la albahaca / Engatusé a uno más guapo / Que vino en mi ayuda

Naquela noite em Janeiro

Naquela noite em Janeiro / Subimos a minha escada / Quando desceste era dia / Bem sabes, foste o primeiro / E aquela porta fechada / Abriu a minha alegria / Passaram meses, depois / Com medo que te prendesses / Quiseste sair para a rua / Mas nós subimos os dois / E eu roguei que não descesses / A escada que era só tua / Passei um tempo sem lume / Com sede dos teus abraços / E fome do teu carinho / Entrava em casa o ciúme / Quando na escada os teus passos / Subiam devagarinho / Numa noite à tua espera / Não dormi acompanhada / E o tempo cruel passou / Se te lembrares quem eu era / Não subas à minha escada / Que a porta já se fechou

En aquella noche de enero

En aquella noche de enero / Subimos por mi escalera / Cuando bajaste era de día / Bien lo sabes, fuiste el primero / Y aquella puerta cerrada / Abrió mi alegría / Pasaron meses después / Con miedo de apresarte / Quisiste salir a la calle / Pero subimos los dos / Y yo supliqué que no bajases / La escalera que era sólo tuya / Pasé un tiempo sin fuego / Con sed de tus abrazos / Y hambre de tu cariño / Entraban en casa los celos / Cuando en la escalera tu pasos / Subían despacito / En una noche a tu espera / No dormí acompañada / Y el tiempo cruel pasó / Si te acordases de mí / No subas mi escalera / Que la puerta ya se cerró

Llorona

Todos me dicen el negro, llorona / Negro, pero cariñoso / Yo soy como el chile verde llorona / Picante, pero sabroso / Ay de mí, llorona, llorona / Llorona, llévame al río / Tápame con tu rebozo, llorona / Porque me muero de frío / No sé que tienen las flores, llorona / Las flores del camposanto / Que cuando las mueve el viento, llorona / Parecen que están llorando / Ay de mí, llorona, llorona / Llorona de un campo lirio / Él que no sabe de amores / No sabe lo que es martirio / Si porque te quiero, quieres, llorona / Quieres que te quieras más / Si ya te he dado la vida, llorona / ¿Qué más quieres? / ¿Quieres más? / ¿Que te quiera más?

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