Mafalda Arnauth - Encantamento (2003)
Encantamento (2003)
1. Pode lá ser / 2. As
fontes / 3. Porque não oiço no ar / 4. Fado Arnauth / 5. Ó voz da minh'alma / 6. Cavalo à solta / 7. Eu venho / 8. Trova escondida / 9. Canção / 10. Da palma da minha mão / 11. Sem limite / 12. No teu poema / 13. É sempre cedo / 14. Bendito Fado, bendita
gente /
Pode lá ser
Troca esse fado, dá a volta à alma / E faz um canto menos só / Troca essa dor por algo melhor / Mesmo que seja em tom menor / Sacode o medo / Que trazes preso à alma / E atrasa o teu andar / Tens onde ir que esse teu canto / Ainda tem tanto para dar / Pode até ser / Um dia sem sol e a noite sem lua / Mas Lisboa sem o Tejo fica nua / Podem dizer / Que o fado perdeu a cor dos seus pais / Mas o fado, meu país, não morre mais / Será defeito / Não ter o jeito ou por feitio / Fugir da tradição / Será tão diferente? Quando se sente / Só tem voz o coração / Canto outra história / Faço a memória à minha medida / Mas tudo é tão igual / Que importa o tempo, se é sentimento / Senhores, é tudo Portugal
Puede ser
Cambia ese fado, da la vuelta al alma / Y haz un canto menos solo / Cambia ese dolor por algo mejor / Aunque sea en tono menor / Sacude el miedo / Que traes prendido al alma / Y demora tu caminar / Tienes donde ir porque ese canto tuyo / Aún tiene mucho para dar / Puede hasta existir / Un día sin sol y la noche sin luna / Pero Lisboa sin el Tajo se queda desnuda / Pueden decir / Que el fado perdió el color de sus padres / Pero el fado, mi país, no muere nunca / Será un defecto / No tener el encanto o por naturaleza / Huir de la tradición / ¿Será tan diferente? Cuando se siente / Sólo tiene voz el corazón / Canto otra historia / Hago la memoria a mi medida / Pero todo es tan igual / Qué importa el tiempo, si es sentimiento / Señores, todo es Portugal
As fontes
Um dia quebrarei todas as pontes / Que ligam o meu ser, vivo e total / À agitação do mundo irreal / E calma subirei até às fontes / Irei até às fontes onde mora / A plenitude, o límpido esplendor / Que me foi prometido em cada hora / E na face incompleta do amor / Irei beber a luz e o amanhecer / Irei beber a voz dessa promessa / Que às vezes como um voo me atravessa / E nela cumprirei todo o meu ser
Las fuentes
Un día quebraré todos los puentes / Que unen mi ser, vivo y total / A la agitación del mundo irreal / Y tranquila subiré hasta las fuentes / Iré hasta las fuentes donde mora / La plenitud, el limpio esplendor / Que me fue prometido en cada hora / Y en el rostro incompleto del amor / Iré a beber la luz y el amanecer / Iré a beber la voz de esa promesa / Que a veces como un vuelo me atraviesa / Y en ella cumpliré todo mi ser
Porque não oiço no ar
Porque não oiço no ar a tua voz / Entre brumas e
segredos escondidos / E descubro que o silêncio entre nós / São mil versos de
mil cantos escondidos e sós / Porque não vejo no azul escuro da noite / Nas
estrelas esse brilho que é o teu / E procuro a madrugada que me acoite / Num
poema que não escrevo mas é meu / Olha o vento que se estende no caminho / E
ensaia a tua dança de voar / És gaivota que só chega a fazer ninho / Quando o
tempo te dá tempo para amar / Mas também se perde o tempo que se tem / P'ra
gastar só quando chega a Primavera / Veste um fato de saudade amor e vem / Que
é Inverno, mas eu estou à tua espera
Porque no oigo en el aire
Porque no oigo en el aire tu voz / Entre brumas y secretos escondidos / Y descubro que el silencio entre nosotros / Son mil versos de mil cantos escondidos y solos / Porque no veo en el azul oscuro de la noche / En las estrellas ese brillo que es el tuyo / Y busco la madrugada que me refugie / En un poema que no escribo pero es mío / Mira el viento que se extiende en el camino / Y ensaya tu danza de vuelo / Eres gaviota que sólo llega a hacer nido / Cuando el tiempo te da tiempo para amar / Pero también se pierde el tiempo que se tiene / Para gastarlo sólo cuando llega la primavera / Viste un traje de saudade, amor, y ven / Que es invierno, pero yo estoy a tu espera
Ó voz da minh'alma
Ó voz da minh'alma / Da verdade que eu nem sei / Tu és fogo, tu és calma / Tudo o que eu ainda não cantei / Ó voz que eu não sei calar / Porque tu não queres assim / Cumpre a sina de ao cantar / Mostrares tudo o que há em mim / Com carinho, dá-me a mão / Mostra que és parte de mim / Põe na voz o coração / Só faz sentido assim
Ay, voz de mi alma
Ay, voz de mi alma / De verdad que yo no sé / Tú eres fuego, tú eres calma / Todo lo que aún no canté / Ay voz que no sé callar / Porque tú no lo quieres así / Cumple el destino de que al cantar / Muestres todo lo que hay en mí / Con cariño, dame la mano / Muestra que eres parte de mí / Pon en la voz el corazón / Sólo tiene sentido así
Cavalo à solta
Minha laranja amarga e doce / Meu poema feito de gomos de saudade / Minha pena pesada e leve secreta e pura / Minha passagem para o breve breve instante da loucura / Minha ousadia / Meu galope / Minha rédea / Meu potro doido / Minha chama / Minha réstia de luz intensa, de voz aberta / Minha denúncia do que pensa / Do que sente a gente certa / Em ti respiro / Em ti eu provo / Por ti consigo esta força que de novo / Em ti persigo / Em ti percorro / Cavalo à solta pela margem do teu corpo / Minha alegria / Minha amargura / Minha coragem de correr contra a ternura / Minha laranja amarga e doce / Minha espada / Poema feito de dois gomos / Tudo ou nada / Por ti renego / Por ti aceito / Este corcel que não sossega / A desfilada no meu peito / Por isso digo / Canção castigo / Amêndoa travo corpo alma amante amigo / Por isso canto / Por isso digo / Alpendre casa cama arca do meu trigo / Minha alegria / Minha amargura / Minha coragem de correr contra a ternura
Caballo libre
Mi naranja amarga y dulce / Mi poema hecho de gajos de saudade / Mi pena pesada y leve, secreta y pura / Mi billete para el breve, breve instante de locura / Mi osadía / Mi galope / Mi rienda / Mi potro dolorido / Mi llama / Mi haz de luz intensa, de voz abierta / Mi denuncia de lo que piensa / De lo que siente la gente cierta / En ti respiro / En ti pruebo / Por ti consigo esta fuerza que de nuevo / En ti persigo / En ti recorro / Caballo libre por el margen de tu cuerpo / Mi alegría / Mi amargura / Mi coraje de correr contra la ternura / Mi naranja amarga y dulce / Mi espada / Mi poema hecho de dos gajos / Todo o nada / Por ti reniego / Por ti acepto / Este corcel que no sosiega / La marcha sobre mi pecho / Por eso digo / Canción castigo / Almendra amargor cuerpo alma amante amigo / Por eso canto / Por eso digo / Porche casa cama arca de mi trigo / Mi alegría / Mi amargura / Mi coraje de correr contra la ternura
Eu venho
Eu venho da força da maré / Eu venho do todo da
canção / E como eu não sei o todo que é / E há em mim, eu só vim / Eu nome do
coração / Eu venho do sal de quem chorou / Tempero da alma que se dá / Ah vida
vivida, sou quem sou, só por ti / Só eu sei tudo o que eu já sofri / E se eu
não quiser mais viver / Rouba-me o chão mais uma vez / Que eu hei-de aprender /
Que não pode escolher / Quem nasceu da força da maré / Eu venho do riso
incontrolado / Dos loucos que amam sem porquê / Que eu ando com a sorte lado a
lado / E onde eu for / Há-de ir sempre o meu fado / Eu venho do fogo e do
feitiço / Que agita este mar que me dá vida / Desfaço a razão e o compromisso /
Em pedaços / Ai de mim / Porque hei-de eu ser assim?
Yo vengo
Yo vengo de la fuerza de la marea / Yo vengo del todo de la canción / Y como yo no sé qué es el todo / Y qué hay en mí, yo sólo vine / Yo, nombre del corazón / Yo vengo de la sal de quien lloró / Remedio del alma que se entrega / Ay, vida vivida, soy quien soy, sólo por ti / Sólo yo sé todo lo que ya sufrí / Y si yo no quisiese vivir más / Róbame el suelo una vez más / Que yo aprenderé / Que no puede escoger / Quien nació de la fuerza de la marea / Yo vengo de la risa incontrolada / de los locos que aman sin porqué / Que yo ando con la suerte de lado a lado / Y donde yo fuera / Habrá de ir siempre mi fado / Yo vengo del fuego y del hechizo / Que agita este mar que me da vida / Deshago la razón y el compromiso / En pedazos / Ay de mí / ¿Por qué he de ser así?
Trova escondida
Trago nos dedos / O meu destino / De um mundo
por tocar / Dos meus segredos, ao meu caminho / Um tempo por contar / Nota por
corda / Corda por dedo / Assim se faz magia / Ai, meu amor, acorda cedo / Vê o
nascer do dia / Trova esquecida / No pensamento / Volta de novo à vida / Põe na
palavra teu movimento / Deixa-te ir à deriva / Quando te abraço / Fujo do
espaço / Que prende a alma ao chão / Mato a tristeza, nego o cansaço / Tudo na
minha mão
Trova escondida
Traigo en los dedos / Mi destino / De un mundo por tocar / De mis secretos, a mi camino / Un tiempo por contar / Nota por cuerda / Cuerda por dedo / Así se hace magia / Ay, mi amor, despierta pronto / mira el nacer del día / Trova olvidada / En el pensamiento / Vuelve de nuevo a la vida / Pon en la palabra tu movimiento / Déjate ir a la deriva / Cuando te abrazo / huyo del espacio / Que prende el alma al suelo / Mato la tristeza, niego el cansancio / Todo en mi mano
Canção
Pelos que andaram no amor / Amarrados ao desejo / De conquistar a verdade / Nos movimentos de um beijo / Pelos que arderam na chama / Da ilusão de vencer / E ficaram nas ruinas / Do seu falhado heroísmo / Tentando ainda viver! / Pela ambição que perturba / E arrasta os homens à Guerra / De resultados fatais! / Pelas lágrimas serenas / Dos que não sabem sorrir / E resignados, suicidam / Seus humaníssimos ais! / Pelo mistério subtil / Imponderável, divino / De um silêncio, de uma flor! / Pela beleza que eu amo / E o meu olhar adivinha / Por tudo o que a vida encerra / E a morte sabe guardar / Bendito seja o destino / Que Deus tem para nos dar!
Canción
Por los que anduvieron en el amor / Amarrados al deseo / De conquistar la verdad / En los movimientos de un beso / Por los que ardieron en la llama / De la ilusión de vencer / Y se quedaron en las ruinas / De su fallado heroísmo / ¡Intentando aún vivir! / Por la ambición que perturba / Y arrastra a los hombres a la guerra / ¡De resultados fatales! / Por las lágrimas serenas / De los que no saben sonreír / Y resignados suicidan / ¡Sus humanísimos ays! / Por el misterio sutil / Imponderable, divino / De un silencio, de una flor / Por la belleza que amo / Y mi mirada adivino / Por todo lo que la vida encierra / Y la muerte sabe guardar / Bendito sea el destino / Que Dios tiene para darnos
De la palma de mi mano
Desfiz num rasto de chuva / Que me invadiu por
inteiro / E deslizou p'lo meu rosto / Um quase sumo de uva / Um ébrio som,
feiticeiro / Que me embalava o desgosto / Então amei sem medida / Este condão
de chorar / A morte de uma ilusão / Abri meus olhos à vida / Joguei as penas ao
mar / Lavei o meu coração / Desfiz as grades dos medos / De amar além da razão
/ De ser virtude ou pecado / Irei cumprir meus segredos / Que a palma da minha
mão / Tem muito sonho guardado
Da palma da minha mão
Deshice en un rastro de lluvia / Que me invadió por entero / Y deslizó por mi rostro / Un casi zumo de uva / Un ebrio son, hechicero / Que me acunaba el disgusto / Entonces amé sin medida / Este don de llorar / La muerte de una ilusión / Abrí mis ojos a la vida / Balanceé mis penas al mar / Lavé mi corazón / Deshice las rejas del miedo / De amar más allá de la razón / De ser virtud o pecado / Iré a cumplir mis secretos / Que la palma de mi mano / Tiene mucho sueño guardado
Sem limite
Soltei a voz ao vento / Deixei o rio correr / E fiz tudo o que eu bem quis / A meu contento / E a voz correu, que o rio sou eu / E o que eu quiser, e ao que me der / "Que a vida só se dá p'ra quem se deu" / No espelho em que me vejo / Não vejo mais nem sombras, medos / Eu só vejo o que eu desejo / E habito assim, o mais de mim / Na claridade, da realidade / Que o medo, de ter medos, tem seu fim / E abri as asas / E fui voar / E fui ser tudo o que eu sempre quis / Que o meu limite / Sou eu quem traço / E eu que desfaço / Sempre que eu assim quiser
Sin límite
Solté la voz al viento / Dejé el río correr / E hice todo lo que yo bien quise / Según mis deseos / Y la voz corrió, que el río soy yo / Y lo que yo quisiese, y lo que me diese / "Que la vida sólo se da para quien se dio" / En el espejo en que me veo / No veo ni siquiera sombras, miedos / Y sólo veo lo que yo deseo / Y habito así, lo máximo de mí / En la claridad, de la realidad / Que el miedo de tener miedo tiene su fin / Y abrí las alas / Y fui a volar / Y fui a ser todo lo que siempre quise ser / Que mi límite / Soy yo quien lo trazo / Y yo quien lo deshago / Siempre que lo quiera así
No teu poema
No teu poema... existe um verso em branco e sem medida / Um corpo que respira, um céu aberto / Janela debruçada para a vida / No teu poema... existe a dor calada lá no fundo / O passo da coragem em casa escura / E aberta, uma varanda para o mundo / Existe a noite, o riso e a voz refeita à luz do dia / A festa da Senhora da Agonia e o cansaço / Do corpo que adormece em cama fria / Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte / O risco, a raiva e a luta de quem cai, ou que resiste / Que vence ou adormece antes da morte / No teu poema... existe o grito e o eco da metralha / A dor que sei de cor mas não recito / E os sonos inquietos de quem falha / No teu poema... existe um cantochão alentejano / A rua e o pregão de uma varina / E um barco assoprado a todo o pano / Existe um rio... o canto em vozes juntas, vozes certas / Canção de uma só letra e um só destino a embarcar / No cais da nova nau das descobertas / Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte / O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste / Que vence ou adormece antes da morte / No teu poema / Existe a esperança acesa atrás do muro / Existe tudo o mais que ainda me escapa / E um verso em branco à espera de futuro
En tu poema
En tu poema... existe un verso en blanco y si medida / Un cuerpo que respira, un cielo abierto / Ventana que se asoma hacia la vida / En tu poema... existe un dolor callado allá en el fondo / El paso del coraje en casa oscura / Y abierta una terraza para el mundo / Existe la noche, la risa y la voz rehecha a la luz del día / La fiesta de la Señora de la Agonía y el cansancio / Del cuerpo que se adormece en cama fría / Existe un río, el sino de quien nace débil o fuerte / El riesgo, la rabia y la lucha de quien cae o que resiste / Que vence o se adormece antes de la muerte / En tu poema... existe el grito y el eco de la metralla / El dolor que sé de memoria y no recito / Y los sueños inquietos de quien falla / En tu poema... existe un canto gregoriano del Alentejo / La calle y el pregón de una pescadera / Y un barco avanzando a toda vela / Existe un río... el canto en voces juntas, voces ciertas / Canción de una sola letra y un solo destino que embarca / En el puerto de una nueva nave de descubrimientos / Existe un río, el sino de quien nace débil o fuerte / El riesgo, la rabia y la lucha de quien cae o que resiste / Que vence o se adormece antes de la muerte / En tu poema / Existe la esperanza encendida tras un muro / Existe todo lo demás que aún me espera / Y un verso en blanco a la espera del futuro
É sempre cedo
Que lenta esta manhã que hoje descubro / Tão lenta que nem mesmo a vi chegar / Beijou este lençol com que me cubro / P'ra lenta, de mansinho me acordar / Ao vê-la, nem a lua quis ficar / Que a noite já tardava em ver o fim / Partiu, numa certeza de voltar / Sem nunca se afastar muito de mim / Então rasguei o dia sem ter medo / E nem pedi licença para amar / Acorda coração, ainda é cedo / O amor bate-te à porta e quer entrar
Es siempre temprano
Qué lenta esta mañana que hoy descubro / Tan lenta que ni la vi llegar / Besó esta sábana con la que me cubro / Para, lenta, silenciosa, despertarme / Al verla, ni la luna quiso quedarse / Que la noche ya tardaba en ver el fin / Partió con la certeza de volver / Sin alejarse nunca mucho de mí / Entonces rasgué el día sin tener miedo / Y ni pedí permiso para amar / Despierta, corazón, aún es temprano / El amor llama a la puerta y quiere entrar
Bendito fado, bendita gente
Bendita esta forma de vida / Por mais estranha que seja / Não há outra maior... / Bendita Travessa da Palha / A de uns olhos garotos / Onde o fado é loucura / Bendita essa rosa enjeitada / Rosa branca delicada / Ou Rosinha dos limões / Bendito miúdo da Bica / Bendigo a história que fica / Do pulsar dos corações / Bendito fado / Corridinho ou compassado / Choradinho ou bem gingado / Em desgarrada singular / Bendito fado / Bendita gente / No seu estilo tão diferente / Numa fé que não desmente / A sua sina de cantar / Bendito fado, bendita gente / Bendita a saudade que trago / Que de tanto andar comigo / Atravessa a minha voz / Bendito o amor que anda em fama / Numa teia de enganos / Ou feliz, qual água que corre / Bendita rua dos meus ciúmes / Do silêncio ao desencanto / Não há rua mais bizarra / Benditas vozes que cantam / Até que a alma lhes doa / Pois foi Deus que os fez assim / Bendita velha tendinha / De uma velha Lisboa / Sempre nova e com gajê / Bendita traça calé / Carmencita linda graça / Tão bonita a tua fé / Bendito presente e passado / De mãos dadas num verso em branco / À espera de um futuro / Bendigo essas almas que andam / Uma vida à procura / De um luar que vem do céu
Bendito fado, bendita gente
Bendita esta forma de vida / Por más extraña que sea / No hay otra mayor... Bendita Travessa da Palha / La de unos ojos pícaros / Donde el fado es locura / Bendita esa rosa abandonada / Rosa blanca delicada / O Rosinha de los limones / Bendito niño de la Bica / Bendigo la historia que queda / Del pulsar de los corazones / Bendito fado / Corridito o acompasado / Lloradito o bien mecido / En desgarrada singular / Bendito fado / Bendita gente / En su estilo tan diferente / Em su estilo tan diferente / En una fe que no desmiente / Su destino de cantar / Bendito, bendita gente / Bendita saudade que traigo / Que de tanto andar conmigo / Atraviesa mi voz / Bendito el amor del que se habla / En una red de engaños / O feliz como agua que corre / Benditas calles de mis celos / Del silencio al desencanto / No hay calle más extraña / Benditas voces que cantan / Hasta que el alma les duela / Pues fue Dios quien las hizo así / Bendita la vieja tasquita / De una vieja Lisboa / Siempre nueva y con gracia / Bendita trama calada / Carmencita, linda gracia / Tan bonita en tu fe / Bendito presente y pasado / Con las manos entregadas a un verso en blanco / A la espera de un futuro / Bendigo esas almas que andan / Una vida a la búsqueda / De una luz de luna que viene del cielo