Mariza -Fado tradicional (2010)


Fado tradicional (2010)

1. Fado vianinha / 2. Promete, jura / 3. As meninas dos meus olhos / 4. Mais uma lua / 5. Dona Rosa / 6. Ai, esta pena de mim / 7. Na rua do silêncio / 8. Rosa da Madragoa / 9. Boa noite solidão / 10. Desalma / 11. Meus olhos que por alguém / 12. Promete, jura / 13. Olhos da cor do mar / 14. Lavava no rio, lavava 

Fado Vianinha

Devagar se vai ao longe / E eu bem vou devagarinho / Vamos ver se me não perco / Nos atalhos do caminho / Meu amor não tenhas pressa / Porque não hás-de esperar / Tudo aquilo que começa / Tarde ou cedo há-de acabar / Tudo mudou entretanto / Vê lá que pouco juízo / Rio a pensar no teu pranto / Choro a pensar no teu riso / Dá-me os teus olhos profundos / E o mundo pode acabar / Que importa o mundo se há mundos / Lá dentro do teu olhar

Fado Vianinha 

Despacio se marcha lejos / Y yo bien voy despacito / Vamos a ver si no me pierdo / En los atajos del camino / Mi amor, no tengas prisa / Porque no debes esperar / Todo aquello que comienza / Tarde o pronto ha de acabar / Todo cambió mientras tanto / Mira qué poco juicio / Río al pensar en tu llanto / Lloro al pensar en tu risa / Dame tus ojos profundos / Y el mundo puede acabar / Qué importa el mundo si hay mundos / Allá, dentro de tu mirar

Promete, jura

Estás a pensar em mim, promete, jura / Se sentes como eu o vento a soluçar / As verdades mais certas mais impuras / Que as nossas bocas têm p'ra contar / Se sentes lá fora a chuva estremecida / Como o desenlaçar duma aventura / Que pode ou não ficar por toda a vida / Diz que sentes como eu, promete, jura / Se sentes este fogo que te queima / Se sentes o meu corpo em tempestade / Luta por mim amor, arrisca, teima / Abraça este desejo que me invade / Se sentes meu amor, o que eu não disse / Além de todo o mais do que disseste / É que não houve verso que eu sentisse / Aquilo que eu te dei e tu me deste

Promete, jura 

Estás pensando en mí, promete, jura / Si sientes como yo el viento susurrar / Las verdades más ciertas, más impuras / Que nuestras bocas tienen para contar / Si sientes ahí fuera la lluvia estremecida / Como el desenlace de una aventura / Que puede o no quedarse de por vida / Di que sientes como yo, promete, jura / Si sientes este fuego que me quema / Si sientes mi cuerpo en tempestad / Lucha por mí, amor, arriesga, insiste / Abraza este deseo que me invade / Si sientes, mi amor, lo que no dije / Más allá de todo lo que dijiste / Es porque no hay verso que yo sintiera / En aquello que te di y tú me diste

As meninas dos meus olhos

As meninas dos meus olhos / Nunca mais tive mão nelas / Fugiram para os teus olhos / Por favor deixa-me vê-las / As meninas dos meus olhos / Se vão perder-se não sei /Deixa-me ver se os teus olhos / As tratam e guardam bem / As meninas dos meus olhos / Para poder encontrá-las / Foram pedir aos teus olhos / Que falem quando te calas/ As meninas dos meus olhos / Já não sei aonde estão / Deixa-me ver nos teus olhos / Se as guardas no coração

Las niñas de mis ojos  

Las niñas de mis ojos / Nunca más tuve poder sobre ellas / Huyeron hacia tus ojos / Por favor, déjame verlas / Las niñas de mis ojos / No sé si van a perderse / Déjame ver si tus ojos / Las tratan y guardan bien / Las niñas de mis ojos / Para poder encontrarlas / Fueron a pedir a tus ojos / Que hablen cuando te callas / Las niñas de mis ojos / Ya no sé por dónde están / Déjame ver en tus ojos / Si las guardas en el corazón

Mais uma lua

Aqui, perto de nós, de mim ausente / A força do que fomos e de ser tua / Aqui adormeci, pesadamente / Caiu dentro de mim mais uma lua / E foram, como sempre, as minhas penas / Ou foi a solidão de quem se prende / A querer saber de nós, horas amenas / E tudo o que a minh'alma não entende / E aqui o que foi nosso vai morrendo / De amor falam as dores da beira fim / Desculpa, meu amor, se te não prendo / Mas vivo muito bem dentro de mim

Una luna más

Aquí, cerca de nosotros, ausente de mí / A fuerza de lo que fuimos y de ser tuya / Aquí adormecí, pesadamente / Cayó dentro de mí una luna más / Y fueron, como siempre, mis penas / O fue la soledad de quien se prende / Al querer saber de nosotros, en horas dulces / Y todo lo que mi alma no comprende / Y aquí lo que fue nuestro va muriendo / De amor hablan los dolores de principio a fin / Disculpa, mi amor, si no te prendo / Pero vivo muy bien dentro de mí

Dona Rosa

Dona Rosa, Dona Rosa / Quando eras ainda botão / Disseram-te alguma coisa / De a flor não ter coração / A rosa que não se colhe / Nem por isso tem mais vida / Ninguém há que te não olhe / Que te não queira colhida / Quem te fez assim tão linda / Não o fez para mostrar / Que se é mais linda ainda / Quando se sabe negar / Dona Rosa, Dona Rosa / De que roseira é que vem? / Que não tem senão espinhos / Para quem só lhe quer bem / Dona Rosa, Dona Rosa / De que roseira é que vem?

Doña Rosa 

Doña Rosa, doña Rosa / Cuando aún eras capullo / Te dijeron una cosa / Que la flor no tiene corazón / La rosa que no se coge / No por eso tiene más vida / No hay nadie que no te mire / Que no te quiera cogida / Quien te hace así tan linda / No lo hace para mostrar / Que se es aún más linda / Cuando se sabe negar / Doña Rosa, doña Rosa / ¿De qué rosal vienes? / Que no tiene más que espinas / Para quien sólo le quiere bien / Doña Rosa, doña Rosa / ¿De qué rosal vienes?

Ai esta pena de mim

Ai esta angústia sem fim / Ai este meu coração / Ai esta pena de mim / Ai a minha solidão / Ai minha infância dorida / Ai o meu bem que não foi / Ai minha vida perdida / Ai lucidez que me dói / Ai esta grande ansiedade / Ai este não ter sossego / Ai passado sem saudade / Ai minha falta de apego / Ai de mim que vou vivendo / Em meu grande desespero / Ai tudo o que não entendo / Ai o que entendo e não quero

Ay esta pena de mí

Ay esta angustia sin fin / Ay este corazón mío / Ay esta pena de mí / Ay de mi soledad / Ay mi infancia dolorida / Ay mi bien que nunca fue / Ay de mi vida perdida / Ay lucidez que me duele / Ay esta gran ansiedad / Ay este no tener sosiego / Ay pasado sin saudade / Ay mi falta de apego / Ay de mí que voy viviendo / En mi gran desesperación / Ay todo lo que no entiendo / Ay lo que entiendo y no quiero

Na rua do silêncio

Na rua do silêncio é tudo mais ausente / Até foge o luar e até a vida é pranto / Não há juras de amor não há quem nos lamente / E o sol quando lá vai é p'ra deitar quebranto / Na rua do silêncio o fado é mais sombrio / E as sombras duma flor não cabem lá também / A rua tem destino, e o seu destino frio / Não tem sentido algum, não passa lá ninguém / Na rua do silêncio as portas estão fechadas / E até o sonho cai, sem fé e sem ternura / Na rua do silêncio há lágrimas cansadas / Na rua do silêncio é sempre noite escura

En la calle del silencio 

En la calle del silencio está todo más ausente / Hasta huye la luz de la luna y hasta la vida es llanto / No hay juramentos de amor ni hay quien nos lamente / Y el sol cuando allí va es para dejar quebranto / En la calle del silencio el fado es más sombrío / Y las sombras de una flor no caben allí tampoco / La calle tiene destino, y su destino frío / No tiene sentido alguno, por allí nadie pasa / En la calle del silencio las puertas están cerradas / Y hasta el sueño cae, sin fe y sin ternura / En la calle del silencio hay lágrimas cansadas / En la calle del silencio es siempre noche oscura

A Rosa de Madragoa

A Rosa da Madragoa / Enche a canastra na praça / Vem para a rua, apregoa / E acorda meia Lisboa / Que sorri quando ela passa / Sobe as escadas divertida / Numa alegria que alastra / Baila-lhe a saia garrida / Náo lhe pesa a crus da vida / Pesa-lhe mais a canastra / Se pela sombra das esquinas / A sua voz atordoa / Sabem as outras varinas / Quando passa pelas trinas / A Rosa da Madragoa

Rosa de Madragoa 

Rosa de Madragoa / Llena la canasta en la plaza / Viene a la calle, pregona / Y se despierta media Lisboa / Que sonríe cuando ella pasa / Sube las escaleras divertida / En una alegría que propaga / Le baila la falda colorida / No le pesa la cruz de la vida / Le pesa más la canasta / Si por la sombra de las esquinas / Resuena su voz / Saben las otras pescaderas / Cuando pasa con los cantos / Rosa de Madragoa

Boa noite solidão

Boa noite solidão / Vi entrar pela janela / O teu corpo de negrura / Quero dar-me á tua mão / Como a chama duma vela / Dá a mão á noite escura / Só tu sabes, solidão / A angústia que traz a dôr / Quando o amor a gente nega / Como quem perde a razão / Afogamos nosso amor / No orgulho que nos cega / Os teus dedos, solidão / Despenteiam a saudade / Que ficou no lugar dela / Espalhas saudades p'lo chão / E contra a minha vontade / Lembras-me a vida com ela / Com o coração na mão / Vou pedir-te, sem fingir / Que não me fales mais dela / Boa noite solidão / Agora quero dormir / Porque vou sonhar com ela

Buenas noches, soledad 

Buenas noches, soledad / Vi entrar por la ventana / Tu cuerpo de negrura / Quiero darme a tu mano / Como la llama de una vela / Da la mano a la noche oscura / Sólo tú sabes, soledad / La angustia que trae el dolor / Cuando el amor la gente niega / Como quien pierde la razón / Ahogamos nuestro amor / En un orgullo que nos ciega / Tus dedos, soledad / Despeinan la saudade / Que quedó en su lugar / Esparces saudades por el suelo / Y contra mi voluntad / Me recuerdas la vida con ella / Con el corazón en la mano / Voy a pedirte, sin fingir / Que no me hables más de ella / Buenas noches, soledad / Ahora quiero dormir / Porque voy a soñar con ella

Desalma

Perdi hoje a minha alma às tuas mãos / Soubesse eu dar-lhe amor / Como te dera / Pudesse eu dar-lhe os beijos / Lábios sãos / De quem beijou de amor e o soubera / Talvez não me fugisse de entre os dedos / A alma, como um barco que se afasta / Se à frágil condição de tantos medos / Pudesse eu ter de ti o que me basta / E dado o barco ao mar que o soube ter / Por medos e cansaços / Me perdera / Eu espero a vida inteira por te ver / E a vida que é só minha ainda me espera

Desalma 

Hoy perdí mi alma en tus manos / Si yo supiese darle amor / Como te di / Si pudiese yo darles esos / Labios puros / De quien besó de amor y lo sabía / Tal vez no huyese de entre mis dedos / El alma como un barco que se aleja / Si a la frágil condición de tantos miedos / Pudiese tener de ti lo que me basta / Y dado el barco al mar que supe tener / Por miedos y cansancios / Me perdiera / Espero la vida entera por verte / Y la vida que es sólo mía aún me espera

Meus olhos que por alguem

Meus olhos que por alguém / Deram lágrimas sem fim / Já não choram por ninguém / Basta que chorem por mim / Arrependidos e olhando / A vida como ela é / Meus olhos vão conquistando / Mais fadiga e menos fé / Sempre cheios de amargura / Mas se a vida é mesmo assim / Chorar alguém - que loucura / Basta que eu chore por mim

Mis ojos que por alguien

Mis ojos que por alguien / Dieron lágrimas sin fin / Ya no lloran por nadie / Basta que lloren por mí / Arrepentidos y mirando / La vida tal como es / Mis ojos van conquistando / Más fatiga y menos fe / Siempre llenos de amargura / Pero si la vida es así / Llorarle a alguien, ¡qué locura! / Basta que llore por mí

Olhos da cor do mar

Teus olhos verdes são mares / Que a lua vem namorando / São saudades, são cantares / São olhos tristes chorando / São as ondas pensamentos / Que o teu olhar me deixou / São estrelas mortas lamentos / Que o teu mar despedaçou / Meu barco quero levar / Ao final do horizonte / Ver teus olhos ao luar / E neles morar de fronte / Passa o vento nos escolhos / Como o teu triste cantar / No verde mar dos teus olhos / Ando sempre a naufragar

Ojos del color del mar

Tus ojos verdes son mares / Que la luna va enamorando / Son saudades, son cantares / Son ojos tristes llorando / Son las olas pensamientos / Que tu mirada me dejó / Son estrellas muertas, lamentos / Que tu mar despedazó / Mi barco quiero llevar / Al final del horizonte / Ver tus ojos a la luz de la luna / Y en ellos vivir de frente / Pasa el viento por los escollos / Como tu triste cantar / En el verde mar de tus ojos / Estoy siempre naufragando

Lavava no rio, lavava

Lavava no rio, lavava / Gelava-me o frio, gelava / Quando ia ao rio lavar / Passava fome, passava / Chorava também, chorava / Ao ver minha mãe chorar / Cantava também, cantava / Sonhava também, sonhava / E na minha fantasia / Tais coisas fantasiava / Que esquecia que chorava / Que esquecia que sofria / Já não vou ao rio lavar / Mas continuo a chorar / Já não sonho o que sonhava / Se já não lavo no rio / Por que me gela este frio / Mais do que então gelava / Ai minha mãe, minha mãe / Que saudades desse bem, / Do mal que então conhecia / Dessa fome que eu passava / Do frio que nos gelava / E da minha fantasia / Já não temos fome mãe / Mas já não temos também / O desejo de a não ter / Já não sabemos sonhar / Já andamos a enganar / O desejo de morrer

Lavaba en el río, lavaba 

Lavaba en el río, lavaba / Me helaba el frío, me helaba / Cuando iba al río a lavar / Pasaba hambre, pasaba / Lloraba también, lloraba / Al ver a mi madre llorar / Cantaba también, cantaba / Soñaba también, soñaba / Y en mi fantasía / Tales cosas fantaseaba / Que olvidaba que lloraba / Que olvidaba que sufría / Ya no voy al río a lavar / Pero aún sigo llorando / Ya no sueño lo que soñaba / Si ya no lavo en el río / Por qué me hiela este frío / Más de lo que entonces me helaba / Ay, madre mía, madre mía / Qué saudades de ese bien / Del mal que entonces conocía / De aquel hambre que pasaba / Del frío que nos helaba / Y de mi fantasía / Ya no tenemos hambre, madre / Pero tampoco tenemos / El deseo de no tenerlo / Ya no sabemos soñar / Ahora estamos engañando / El deseo de morir

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