Mísia - Senhora da noite (2011)


Senhora da noite (2011)

01. Fado das Violetas / 02. Ulissipo / 03. O Manto da Rainha / 04. Senhora da Noite / 05. Lua Mãe das Noites / 06. Que o Meu Coração se Cansou / 07. Garras dos Sentidos II / 08. Tarde Longa / 09. Simplesmente / 10. Que silêncio é esta voz / 11. Fogo Posto / 12. Sombra / 13. Rapsódia Amália

Fado das violetas

Perguntei às violetas / Se não tinham coração / Se o tinham, porque escondidas / Na folhagem sempre estão? / Ai as almas dos poetas / Não as entende ninguém / São almas de violetas / Que são poetas também / Andam perdidas na vida / Como as estrelas no ar / Sentem o vento sofrer / Ouvem as rosas chorar / E eu que arrasto amarguras / Que nunca arrastou ninguém / Tenho alma para sentir / A dos poetas também / Bendita seja a desgraça / Bendita a fatalidade / Benditos sejam teus olhos / Onde anda a minha saudade

Fado de las violetas

Pregunté a las violetas / Si no tenían corazón / Si lo tenían, ¿por qué escondidas / Entre las hojas siempre están? / Ay, las almas de los poetas / No las entiende nadie / Son almas de violetas / Que son poetas también / Van perdidas por la vida / Como las estrellas en el aire / Sienten el viento sufrir / Oyen a las rosas llorar / Y yo que arrastro amarguras / Que nunca arrastró nadie / Tengo alma pera sentir / La de los poetas también / Bendita sea la desgracia / Bendita la fatalidad / Benditos sean tus ojos / Donde está mi saudade

Ulissipo

Lisboa, já te vi da outra margem / Penélope deitada à beira-Tejo / Esperando que ele regresse de viagem / Tecendo, ponte a ponte, o teu desejo / Ele é o teu eterno marinheiro / A alma aventureira em movimento / O que pensando em ti partiu primeiro / E navegou por ti além do vento / Sonhaste essa paixão desde menina / Cumpriste o teu bordado de mulher / Arredondaste o seio de colina / Molhaste os pés num mar a acontecer / Ele vai olhar-te assim, entrando a barra / Tu já ergues a barra da camisa / E vendo a tua anca de guitarra / Ulisses te possui e te bautiza

Ulissipo

Lisboa, ya te vi desde la otra orilla / Penélope acostada a orillad del Tajo / Esperando que él regrese del viaje / Tejiendo puente a puente tu deseo / Él es tu eterno marinero / El alma aventurera en movimiento / El que pensando en ti partió primero / Y navegó por ti más allá del viento / Soñaste esa pasión desde niña / Terminaste tu bordado ya mujer / Redondeaste tu seno de colina / Mojaste tus pies en un mar inesperado / Él va a mirarte así, entrando a remo / Tú levantas ya el remo de la camisa / Y viendo tu cadera de guitarra / Ulises te posee y te bautiza

O manto da rainha

Trago na linha da vida / Tão escura solidão / Correm ruas de saudade / Na palma da minha mão / Sou uma estátua esquecida / Nas praias do fim do mundo / As cruzes de mil caminhos / Trago na linha da vida / Mal amado coração / Rosa negra no meu peito / Doce sacrário onde guardo / Tão escura solidão / Nem mentira nem verdade / «Amor são passos perdidos» / Nos fados que canto à lua / Correm ruas de saudade / E em sinal de compaixão / A caveira do destino / Pousou o Manto da Rainha / Na palma da minha mão

El manto de la reina

Traigo en línea de la vida / Tan oscura soledad / Corren calles de saudade / Por las palmas de mi mano / Soy una estatua olvidada / En las playas del fin del mundo / Las cruces de mil caminos / Traigo en las líneas de la vida / Mal amado corazón / Rosa negra en mi pecho / Dulce sagrario donde guardo / Tan oscura soledad / Ni mentira ni verdad / «El amor son pasos perdidos» / En los fados que canto a la luna / Corren calles de saudade / Y en señal de compasión / La calavera del destino / Posó el Manto de la Reina / En la palma de mi mano

Senhora da noite

Quem passar à minha beira / Não vê de mim nem sinal / Que eu apenas sou real / Sob a noite azul e inteira / Que eu nasci à sexta-feira / Sem conhecer nem pai nem mãe nem mal / Tive a loba por parteira / E da aranha tecedeira / Recebi meu enxoval / Nasci sobre o chão divino / Tenho as grutas por morada / Eu sou da terra salgada / Não tenho medo de nada / Nem mesmo até do destino / Há um mistério felino / Na minha saia rodada / Só de a vestir imagino / Que sou feiticeira e fada / Que as próprias trevas fascino / E esconjuro a madrugada / Quando a lua se levanta / É que eu sinto na garganta / A vontade de cantar / Ela põe na minha mesa / Licores de prata e beleza / Que me levam pelo ar / E assim que o dia ameaça / É como se uma mordaça / Me emudecesse outra vez / E o meu grito de bacante / Arde como eu num instante / No fogo que a manhã fez

Señora de la noche

Quien pasa a mi lado / De mí no ve ni señal / Que yo apenas soy real / Bajo la noche completamente azul / Que nací en sábado / Sin conocer ni padre, ni madre ni mal / Tuve una loba por partera / Y de la araña tejedora / Recibí mi ajuar / Nací sobre el suelo divino / Tengo las grutas por morada / Yo soy de la tierra salada / No tengo miedo de nada / Ni siquiera del destino / Hay un misterio felino / En mi falda de vuelo / Con sólo vestirla imagino / Que soy hechicera y hada / Que embrujo hasta las tinieblas / Y conjuro a la madrugada / Cuando la luna se levanta / Es cuando siento en la garganta / El deseo de cantar / Ella pone en mi mesa / Licores de plata y belleza / Que me llevan por el aire / Y en cuanto el día amenaza / Es como si una mordaza / Me enmudeciese otra vez / Y mi grito de bacante / Arde como en un instante / En el fuego que hace la mañana

Lua, mãe das noites

Ao mar deitei as cinzas do teu nome / Pedi-lhe uma razão p'ra te lembrar / Em tudo o que não sei e me consome / De teu o que encontrei não quis guardar / Recordo a nuvem branca sobre os montes / E a lua mãe das noites que perdeste / Senhora que alimenta as minhas fontes / Quem sabe se por mim entristeceste / Aquí no meu lugar na minha casa / Bendigo o meu destino ao perder-te / Paixão que foste sempre maré vaza / Que nada foi preciso p'ra esquecer-te

Luna, madre de las noches

Al mar eché las cenizas de tu nombre / Le pedí una razón para recordarte / En todo lo que no sé y me consume / De lo tuyo lo que encontré y no quise guardar / Recuerdo la nube blanca sobre los montes / Y la luna madre de las noches que perdiste / Señora que alimenta mis fuetes / Quién sabe si por mi te entristeciste / Aquí, en mi lugar, en mi casa / Bendigo mi destino al perderte / Pasión que siempre fuiste mar vacío / Que nada fue necesario para olvidarte

Que o meu coração se cansou

Tu que não falas comigo / Portas-te como inimigo / Porque tens medo do amor / Ofendes os Deuses no Olimpo / Quando te amas sozinho / Tendo-me ao teu dispor / O tempo não se apieda / Nem de quem muito lhe preza / Nem de quem se quer superior / P'ra que será que tu pensas / Que nos serve a existência / Senão para amar e ter dor / Cuida só que não retardes / Demais a felicidade / Que a tua vida é uma só / Cuida p'ra que nunca ouças / A sair da minha boca / Que o meu coração se cansou

Que mi corazón se cansó

Tú que no hablas conmigo / Te portas como enemigo / Porque tienes miedo del amor / Ofendes a los dioses del Olimpo / Cuando te amas tú solo / Teniéndome a tu disposición / El tiempo no se apiada / Ni de quien mucho le respeta / Ni de quien se cree superior / Para qué será que piensas / Que nos sirve la existencia / Si no es para amar y sentir dolor / Sólo cuida de no retardar / Demasiado la felicidad / Que tu vida es sólo una / Procura no escuchar nunca / Salir de mi boca / Que mi corazón se cansó

Garras dos sentidos II: en el CD «Garras dos sentidos» (1989)

Tarde longa

Se eu for à casa do amor / Hei-de encontrar-te sentado / À espera que eu me dispa / Conforme foi combinado / E se a tarde for inteira / Essa pátria a que pertenço / Ficaremos abraçados / Estendidos como num lenço / Ah! quem me dera que os céus / Fossem mais largos, mais fundos / Despidos, somos de deus / Vestidos, somos do mundo / Mas de nós mesmos seremos / Se a tarde for tão comprida / Que o mesmo lenço se estenda / Ao longo de toda a vida

Tarde larga

Si fuera a la casa del amor / He de encontrarte sentado / A espera de que me desnude / Tal como fue acordado / Y si la tarde fuese entera / Esa patria a que pertenezco / Nos quedaremos abrazados / Extendidos como en un lienzo / ¡Ay, ojalá los cielos! / Fuesen más largos, más hondos / Desnudos somos de Dios / Vestidos somos del mundo / Pero seremos más de nosotros / Si la tarde fuese tan larga / Que el mismo lienzo se extienda / A lo largo de toda la vida

Simplesmente

Será contradição o que procura / O pobre coração no peito meu / Agora diz que é mau o que bom foi / Agora diz que a dor até nem dói / E eu, nesta alegria que é um lamento / Lá vou, dando ao meu fado o seu sustento / Ai que vontade de ficar / Tão simplesmente a namorar / Não haver mais, não haver menos / Do que sentimos / Viver de assim estar, estar a teu lado / Por muito que isto baralhe o próprio fado / Opôr a uma coisa, igual contrário / E ser de ambos os lados, adversário / Quando uma e outra coisa se transporta / Difícil é dizer o que é que importa / Difícil de prever o resultado / É mais do que impressão / É o meu fado

Simplemente

Será contradicción lo que busca / El pobre corazón en mi pecho / Ahora dice que es malo lo que fue bueno / Ahora dice que el dolor ni siquiera duele / Y yo, en esta alegría que es un lamento / Voy allá, dando a mi fado sus sustento / ¡Ay!, qué deseo de quedarme / Simplemente para enamorarse / Que no haya más, que no haya menos / De lo que sentimos / Vivir así, estar a tu lado / Por mucho que esto enrede el propio fado / Oponer a una cosa al igual al contrario / Y ser de ambos lados adversario / Cuando una y otra cosa se transportan / Difícil es decir qué es lo que importa / Difícil es prever el resultado / Es más que una impresión / Es mi fado

Que silêncio é esta voz

Que palavra é o silêncio / Que silêncio é esta voz / Que num soluço suspenso / Chora flores dentro de nós / Só sei que neste destino / Vou atrás do que não sei / Já me sinto cansada / Dos passos que nunca dei / Ah! Se um astro / Agora me arrebatasse / Na sua luz e, de repente / Minha sombra se iluminasse / Cheguei / Cheguei depois das estrelas / Mas emendei o engano / Esticando as minhas velas / Como a virgem dos destroços / Que é o luar das ruínas / Plantarei florestas de ossos / Onde eram sete colinas / Quando me derem por morta / Lágrimas nem uma pinga / Um trevo de quatro folhas / Tenho debaixo da língua / Vou pelos campos de linho / Do poeta D. Dinis / Atirar a flor de pinho / Que onde cai é um país

Qué silencio es esta voz

Qué palabra es el silencio / Qué silencio es esta voz / Que en un susurro suspenso / Llora flores dentro de nosotros / Sólo sé que en este destino / Voy detrás de lo que no sé / Ya me siento cansada / De los pasos que nunca di / ¡Ah!, si un astro / Ahora me arrebatase / En su luz y, de repente / Mi sombra se iluminase / Llegué / Llegué detrás de las estrellas / Pero enmendé el engaño / Extendiendo mis velas / Como la virgen de los destrozos / Que es la luz de la luna de las ruinas / Plantaré florestas de huesos / Donde había siete colinas / Cuando me den por muerta / Ni una gota de lágrimas / Un trébol de cuatro hojas / Tengo debajo de la lengua / Voy por los campos de lino / Del poeta don Dinís / Tirando la flor del pino / Que donde cae se hace país

Fogo posto

Sei que foste ter com ela / Tantos foram os recados / Para se encontrarem os dois / Vi-vos da minha janela / Trocarem beijos e fados / E o mais que veio depois / Dizem que ela tem a arte / De manter acesa a chama / Até vir a madrugada / E eu nem quero imaginar-te / Deitado na sua cama / E eu toda a noite acordada / Se voltares, não digas nada / Sobretudo o que não foi / Que eu conheço o seu perfume / Hás-de encontrar-me calada / P'ra não gritar como dói / A ferida do meu ciúme / Conta as lágrimas que correm / Como um rio pelo meu rosto / Pousa nele a tua mão / Os velhos amores não morrem / E a traição é fogo posto / A arder no meu coração

Fuego provocado

Sé qué tuviste algo con ella / Fueron tantos los mensajes / Para encontraros los dos / Os vi desde mi ventana / Cambiando besos y fados / Y lo que vino después / Dicen que ella tiene el arte / De mantener encendida la llama / Hasta que llega la madrugada / Yo no quiero ni imaginarte / Acostado en su cama / Y yo toda la noche despierta / Si vuelves, no digas nada / Sobre todo que no sucedió / Que yo conozco su perfume / Me encontrarás callada / Para no gritar cómo duele / La herida de mis celos / Cuenta las lágrimas que corren / Como un río por mi rostro / Posa tu mano en él / Los viejos amores no duelen / Y la traición es fuego provocado / Para que arda en mi corazón

Sombra

Mais parece que estás nua / No desamparo da rua / Em que te encontro perdida / Como sombra numa porta / Mais parece que estás morta / E dizem que andas na vida / Vieste para a cidade / Perdeste o nome, a idade / Não és velha nem menina / Sem abrigo nem morada / És uma sombra cansada / Na solidão de uma esquina / Eu vejo-te assim sózinha / E há qualquer coisa tão minha / Que me faz sentir culpada / Quem me dera acreditar / Que és uma sombra a passar / Apenas sombra e mais nada

Sombra

Parece más que estás desnuda / En el desamparo de la calle / En que te encuentro perdida / Como sombra en una puerta / Pareces más que estás muerta / Y dicen que sigues en la vida / Viniste a la ciudad / Perdiste el nombre, la edad / No eres vieja ni una niña / Sin abrigo ni morada / Eres una sombra cansada / En la soledad de una esquina / Yo te veo así de sola / Y hay alguna cosa tan mía / Que me hace sentir culpable / Ojalá pudiera creer / Que eres una sombra que pasa / Apenas sombra y nada más

Rapsódia Amália

Adeus meu amor adeus / Vou-me embora, estou cansada / Os sonhos que foram meus / Não te serviram de nada / Trago fados nos sentidos / Tristezas no coração / Trago os meus sonhos perdidos / Em noites de solidão / Tive um coração perdi-o / Ainda o vou encontrar / Preso no fundo do rio / Ou afogado no mar / Ai esta angustia sem fim / Ai este meu coração / Ai esta pena de mim / Ai a minha solidão / A primavera chegou / Mas as flores que trazia / Houve alguém que mas levou / À minha campa vazia / O mundo fez em bocados / O meu pobre coração / Que eu trazia sem cuidados / Na palma da minha mão / Foi por vontade de Deus / Que eu vivo nesta ansiedade / Que todos os ais são meus / Que é toda minha a saudade / Tinha uma louca esperança / Tinha fé no meu destino / Tinha sonhos de criança / Tinha um mundo pequenino / Ai a minha infância dorida / Ai o meu bem que não foi / Ai minha vida perdida / Ai lucidez que me dói / A vida que não se vive / Chamo eu à vida que tenho / Adeus amigos que tive / Vou embora já não venho

Rapsodia Amália

Adiós, mi amor, adiós / Me voy lejos, estoy cansada / Los sueños que fueron míos / No te servirán de nada / Traigo fados en los sentidos / Tristeza en el corazón / Traigo mis sueños perdidos / En noches de soledad / Tuve un corazón, lo perdí / Quizás lo vaya a encontrar / Preso en el fondo del río / O ahogado en el mar / Ay, esta angustia sin fin / Ay, este corazón mío / Ay, esta pena de mí / Ay, mi soledad / La primavera llegó / Pero las flores que traía / Hubo alguien que me las quitó / A mi sepulcro vacío / El mundo le da bocados / A mi pobre corazón / Que yo traía sin cuidados / En la palma de mi mano / Fue por voluntad de Dios / Que viva en esta ansiedad / Que todos los ayes son míos / Que es toda mía la saudade / Tenía una loca esperanza / Tenía fe en mi destino / Tenía sueños de niña / Tenía un mundo pequeñito / Ay, mi infancia dolorida / Ay de mi bien que no existió / Ay de mi vida perdida / Ay, lucidez que me duele / La vida que no se vive / Llamo yo a la vida que tengo / Adiós, amigos que tuve / Me voy lejos y no vuelvo

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