Raquel Tavares (2006)
Raquel Tavares (2006)
1 Quando Acordas / 2 Olhos Garotos / 3 A Tarde Já Morreu Nesta Varanda / 4 Fado Lisboeta / 5 Fado Raquel / 6 Noite / 7 Por Momentos (Inquietou-Se O Meu Olhar No Teu) / 8 Maré Alta, Sol Profundo / 9 Querer Cantar / 10 Um Caso De Amor / 11 Trazes Pedaços De Mim / 12 Senhor Nao Sei O Meu Nome /
Quando Acordas
Dá-me um cravo sem idade / Que ao ver caír no regaço / Solte
o aroma de um beijo / Ou a estranha claridade / Que espreita as noites que
passo / Perdida em nós de desejo / Como vês, no meu lugar / Há qaulquer coisa
de vento / Que se enleia aos meus ouvidos / Há dois versos por cantar / Nas
linhas do pensamento / A rendilhar-me os sentidos / É verdade não saber / O
porquê da primavera / Na frescura duma flor / Só interessa o florescer / Quando
acorda á tua espera / O amor do meu amor
Cuando despiertas
Dame un clavel sin edad / Que al verlo caer en mi regazo / Suelte el aroma de un beso / O la extraña claridad / Que observa las noches que paso / Perdida en nudos de deseo / Como ves, en mi lugar / Hay un poquito de viento / Que se enreda a mis oídos / Hay dos versos por cantar / En las líneas del pensamiento / Que hace encajes en mis sentidos / Es verdad el no saber / E porqué de la primavera / En la frescura de una flor / Sólo interesa el florecer / Cuando se despierta a tu espera / El amor de mi amor
Olhos Garotos
Diz aos teus olhos garotos / Vivos marotos, pretos rasgados
/ Que não andem pelas esquinas / Feitos traquinas e malcriados / Que não sigam
as meninas / Simples ladinas dos olhos meus / De tudo acho capazes / Os maus
rapazes dos olhos teus / Teus olhos amendoados / São comparados a dois cachopos
/ Que quando topam meninas / Pelas esquinas, dizem piropos / É preciso que lhes
digas / Que as raparigas, nem todas são / Como as pedras que há nas ruas /
Gastas e nuas, sem coração / Diz-lhe tudo sem ralhar / Sem te zangar, tem mil
cuidados / Sim, que para entristecê-los / Prefiro vê-los nos seus pecados / Não
quero os teus lindos olhos / Correndo abrolhos, livre-nos Deus / Que causassem
tais ruínas / Estas meninas dos olhos meus...
Ojos traviesos
Dile a tus ojos traviesos / Vivos juguetones, negros y rasgados / Que no anden por las esquinas / Tan bulliciosos y malcriados / Que no sigan a las niñas / Sencillas e ingenuas de ms ojos / De todo encuentro capaces / A los malos niños de los ojos tuyos / Tus ojos almendrados / Son comparados a dos peligros / Que cuando encuentran niñas / Por las esquinas, les dicen piropos / Es necesario que les digas / Que las muchachas, no todas son / Como las piedras que hay en las calles / Gastadas y desnudas, sin corazón / Diles todo sin regañarlas / Sin enfadarte, ten mil cuidados / Sí, que para entristecerlos / Prefiero verlos con sus pecados / No quiero tus ojos lindos / Al borde de las lágrimas, líbreme Dios / Que causasen tales ruinas / Estas niñas de mis ojos...
A Tarde Já Morreu Nesta Varanda
A tarde já morreu nesta varanda / As sombras que se alongam,
vão morrer / Depois da tarde, surge a noite branda / Ao certo, tudo surge sem
se ver / Tal como a madrugada me surgia / Surgiste como um beijo arrematado /
Por alguém que chegou e que partiu / De mim p'ra mim, e em mim ficou parado /
Alguém que certamente me adivinha / No ante dos dizeres que nunca digo / Que
trás o mar nos braços á noitinha / E tem-me o corpo inteiro como abrigo / Por
ver em cada noite uma viagem / Como água que a saudade me alivia / Eu quero
estar contigo nesta margem / E fico na varanda até ser dia
La tarde ya murió en este balcón
La tarde ya murió en este balcón / Las sombras que se alargan van a morir / Después d ela tarde, surge la noche blanda / Ciertamente todo surge sin ser visto / Tal como la madrugada me surgía / Surgiste como un beso terminado / Por alguien que llegó y que partió / De mí para mí y en mí se quedó parado / Alguien que sin duda me adivina / Antes de los dichos que nunca digo / Que detrás del mar en los brazos por la noche / Me tiene el cuerpo entre como abrigo / Por ver en cada noche un viaje / Como agua que la salud me alivia / Yo quiero estar contigo en esta orilla / Y me quedo en el balcón hasta hacerse día
Fado Lisboeta
Não queiram mal a quem canta / Quando uma garganta se enche
e desgarra / Que a mágoa já não é tanta / Se a confessar à guitarra / Quem
canta sempre se ausenta / Da hora cinzenta da sua amargura / Não sente a cruz
tão pesada / Na longa estrada da desventura / Eu só entendo o fado plangente
amargurado / À noite a soluçar baixinho / Que chega ao coração num tom magoado
/ Tão frio como as neves do caminho / Que chore uma saudade, ou cante ansiedade
/ De quem tem por amor chorado / Dirão que isto é fatal, é natural / Mas é
lisboeta... isto é que é o fado / Oiço guitarras vibrando / E vozes cantando na
rua sombria / As luzes vão se apagando / A anunciar que é já dia / Fecho em
silêncio a janela / Já se ouvem na viela rumores de ternura / Surge a manhã
fresca e calma / Só em minha alma é noite escura
Fado Lisboeta
No quieran mal a quien canta / Cuando una garganta se llena y desgarra / Que la amargura ya no es tanta / Si al confesar a la guitarra / Quien canta siempre se ausenta / De la hora cenicienta de su amargura / No siente la cruz tan pesada / En el largo camino de la desventura / Yo sólo entiendo el fado gimiente dolorido / Susurrado de noche bajito / Que llega al corazón en un tono herido / Tan frío como las nieves del camino / Que llore una saudade o cante ansiedad / De quien ha llorado por amor / Dirán que esto es fatal, es natural / Pero es lisboeta... esto es lo que es el fado / Oigo guitarras vibrando / Y voces cantando en la calle sombría / Las luces se van apagando / Anunciando que ya es de día / Cierro en silencio la ventana / Ya se oyen en el callejón rumores de ternura / Surge la mañana fresca y calmada / Sólo en mi alma hay noche oscura
Fado Raquel
Quem me vê debruçada na janela / Não venha debruçar-se sobre
mim / Mas passe tristemente junto dela / E tristemente passe junto a mim / Que
juntas estão as mãos com que apertei / As rosas e os beijos, pela tarde / Que
deu lugar á noite a que me dei / E sem querer me arde, ainda arde / Quem passar
devagar, não se demore / Acaso o choro a alma me encontrar / No fundo, não é
tanto o quanto chore / É mais a dor calada de chorar / Que a espera que me
prende no vazio / Deserta-me da vida, junto dela / E outra vida surge como um
rio / Ao ver-me debruçada na janela
Fado Raquel
Quien me vea apoyada en la ventana / No venga a apoyarse sobre mí / Que pase tristemente junto a ella / Y tristemente pase junto a mí / Que juntas están las manos con que ceñí / las rosas y los besos, por la tarde / Que dio paso a la noche en que me entregué / Y sin querer me quema, aún me quema / Quien pase despacio, no se demore / Acaso el llanto el alma me encuentre / En el fondo, no es tanto cuanto llore / Es más el dolor callado de llorar / Que la espera que me ata al vacío / Me aleja de la vida, junto a ella / Y otra vida surge como un río / Al verme apoyada en la ventana
Noite
Noite... fosse eu um brilho teu / Que brilhando brilhasse,
p'ra iluminar teu céu / Noite... sou só um triste olhar / Que se perde nos
olhos de quem me quer olhar / Leves vultos sorrateiros / Nas esquinas, nos
umbrais / Seguem-me uns olhos matreiros / Agudos como punhais / Troco um olhar
pesaroso / Cruzado entre os demais / Com olhos presos a um corpo / Que se
aquece entre jornais / Na viela ainda ecoa / Um timbre rouco, magoado / Só á
noite é que Lisboa / Enrouquece a voz, num fado / Uma porta que se abre / Outra
fecha-se num estrondo / Uma ameaça velada / Num olhar frio e medonho / As
montras escurecidas / Por trás das grades cerradas / As vidas prendem-se às
vidas / Com grades insuspeitadas / Um pombo levanta e voa / Com meus passos,
assustado / Só á noite é que Lisboa / Enrouquece a voz, num fado
Noche
Noche... si yo fuese un brillo tuyo / Que brillando brillase para iluminar tu cielo / Noche... Soy sólo una triste mirada / Que se pierde en los ojos de quien me quiere mirar / Ligeros rostros ladinos / En las esquinas, los umbrales / Me siguen unos ojos sagaces / Agudos como puñales / Cambio una mirada pesarosa / Cruzadas entre los demás / Con ojos presos a un cuerpo / que se calienta entre periódicos / En el callejón aún resuena / Un timbre ronco, herido / Es de noche sólo cuando Lisboa / Enronquece la voz en un fado / Una puerta que se abre / Otra se cierra en un estruendo / Una amenaza velada / En una mirada fría y pavorosa / Escaparates oscurecidos / Detrás de las rejas cerradas / Las vidas se enlazan a las vidas / Con rejas insospechadas / Una levanta alza el vuelo / Asustada con mis pasos / Es de noche sólo cuando Lisboa / Enronquece la voz en un fado
Por Momentos (Inquietou-Se O Meu Olhar No Teu)
Por momentos... / Inquetou-se o meu olhar no teu / Perdida
nos pensamentos onde me escondo / Por momentos... / Descuidou-se o teu olhar no
meu / E à mercê desses tormentos tu me vais pondo / Tu nasceste por mim e por
mim esperas / No azul escuro da nossa fria solidão / Como em Roma um cristão
lançado às feras / Assim se sente no peito o meu coração / Como a gaivota que
rompe a irmandade / Incapaz de voar firme com o seu bando / Assim eu ando p'las
ruas da velha cidade / Sem que a cidade velha perceba onde eu ando / Então
diz-me meu amor, quem mais se importa / Com este escuro azulado da solidão / És
a mão que pode abrir toda a minha porta / Mas no momento esperado, retiras a
mão
Por momentos... (Mi mirada se inquietó en la tuya)
Por momentos... / Mi mirada se inquietó en la tuya / Perdida en los pensamientos donde me escondo / Se distrajo tu mirada en la mía / Y a merced de esos tormentos me vas dejando / Tú naciste por mí y por mí esperas / En el azul oscuro de nuestra fría soledad / Como un Roma un cristiano lanzado a las fieras / Así se siente en el pecho mi corazón / Como la gaviota que rompe su alianza / Incapaz de volar firme con su bandada / Así camino por las calles de la vieja ciudad / Sin que la ciudad vieja se dé cuenta de por dónde camino / Entonces, dime, mi amor, a quien más le importa / Con este oscuro azulado de la soledad / Eres la mano que puede abrir todas mis puertas / Pero en el momento esperado retiras la mano
Maré Alta, Sol Profundo
Tu és a maré cheia no meu peito / E no meu sonho, a imensa
tempestade / Tens a côr do luar quando me deito / E p'la manhã, és quente
claridade / Teus lábios sabem sempre a liberdade / E há gaivotas bailando em
teu olhar / Ao som da tua voz, nasce a saudade / Que embala a minha voz p'ra te
cantar / P'ra te cantar os versos do meu fado / Que mais não é que amar-te
cegamente / E assim vamos seguindo lado a lado / O fado, tu e eu, eternamente /
Tu és a maré alta, o sol profundo / O grito amargo e doce, a paixão / És tudo o
que mais quero neste mundo / Por ti morre de amor, meu coração
Marea alta, sol profundo
Tú eres la marea plena en mi pecho / Y en mi sueño, la inmensa tempestad / Tienes el color de la luna cuando me acuesto / Y por la mañana eres cálida claridad / Tus labios saben siempre a libertad / Y hay gaviotas bailando en tu mirada / Al son de tu voz nace la saudade / Que envuelve mi voz para que te cante / Para que te cante los versos de mi fado / Que no es más que amarte ciegamente / Y vamos continuando así codo con codo / El fado, tú y yo, eternamente / Tú eres la marea alta, el sol profundo / El grito amargo y dulce, la pasión / Eres todo lo que más quiero en este mundo / Por ti muere de amor mi corazón
Querer Cantar
No canto em que sentado escreves p'ra mim / Cartas de amor,
cartas sem fim / As palavras entrançadas nas linhas desse papel / Enleiam-me o
coração num fio de mel / E adoçam a guitarra dos sentidos / Que embala a minha
voz em tons gemidos / Querer cantar / Rodar o tempo, o pensamento e querer
cantar / Beber o brilho desses olhos, laços de luar / Amar o vento, a liberdade
e os teus lábios por beijar / Querer cantar / Sentir a espuma, rasgo d'água do
teu mar / A areia ardente de saudades a chamar por ti / E peço á noite que me
acoite / Na vontade de te ter aqui / Se perco o meu olhar numa canoa / Presa no
cais desta Lisboa / E roubo ao fim de tarde, a doce nostalgia / Do amor feito
na tarde do nosso dia / Gaivotas vão deixar o rio parado / Levando mais um
beijo por recado
Querer Cantar
En la esquina en que sentado escribes para mí / Cartas de amor, cartas sin fin / Las palabras trenzadas en las líneas de ese papel / Se enredan a mi corazón con un hilo de miel / Y endulzan la guitarra de los sentidos / Que envuelve mi voz en tonos suspirados / Querer cantar / Rodar el tiempo, el pensamiento y querer cantar / Beber el brillo de esos ojos, lazos de luz de luna / Amar el viento, la libertad y tus labios por besar / Querer cantar / Sentir la espuma, rasgo del agua de tu mar / La arena ardiente de saudades que te llama / Y pido a la noche que me refugie / En mi deseo de tenerte aquí / Si pierdo mi mirada en una barca / Presa en el muelle de esta Lisboa / Y robo al fin de la tarde la dulce nostalgia / Del amor hecho en la tarde de nuestro día / Van las gaviotas dejando nuestro río detenido / Llevando un beso más como recado
Um Caso De Amor
Quem sabe se acaso / Noutra rua, outro lugar / Estás com a
saudade, como eu, a recordar / Lembrando que um dia / Noutro tempo, noutra
idade / Trocamos amor num quarto pobre da cidade / Quem sabe se acaso / Noutra
rua, outro lugar / A gente se volte a encontrar / Beijo após beijo / Deixaste
nos meus lábios a condição de ser mulher / Deixei no teu ombro o jeito do meu
rosto / Sorrindo para adormecer / Deixaste em meus olhos / A força que dos teus
faz hoje entristecer os meus / Ano após ano / Tentei em outros beijos sentir a
mesma emoção / E nesse desejo tão breve, me afundei / No rio desta frustração /
Resta-me a saudade, amiga que me dói / Por saber que o amor se foi
Un caso de amor
Quién sabe si tal vez / En otra calle, en otro lugar / Estás con la saudade, como yo, acordándote / Recordando que un día / En otro tiempo, en otra edad / Intercambiamos amor en un cuarto pobre de la ciudad / Quién sabe si tal vez / En otra calle, en otro lugar / La gente se vuelva a encontrar / Beso tras beso / Dejaste en mis labios la condición de ser mujer / Dejé en tu hombro la huella de mi rostro / Sonriendo al adormecer / Dejaste en mis ojos / La fuerza que de los tuyos hace hoy entristecer los míos / Año tras año / Intenté en otros besos sentir la misma emoción / Y en ese deseo tan breve me hundí / En el río de esta frustración / Me queda la saudade, amiga que me duele / Al saber que el amor se fue
Trazes Pedazos De Mim
Trazes pedaços de mim que levaste um dia, amor / Nos lábios
de Agosto / Corpo de mar e cetim que por fantasia, amor / São como gosto / E na
vontade trocamos um beijo e a vida acontece / Mas a saudade acende o desejo que
o peito padece / É nos recantos dum tempo pequeno / Que o tempo é saudade que
se sente / E nas lembranças dum tempo sereno / O tempo, amor, aquece o corpo da
gente / Trago na boca o sabor deste querer amar, amor / E vejo-te louco /
Sei-te de cor e melhor, sei que ao teu olhar, amor / Um beijo é pouco / E como
andores corremos o mundo num só coração / Amores, amores, acordo e no fundo, é
tudo ilusão
Traes pedazos de mí
Traes pedazos de mí que te llevaste un día, amor / En los labios de agosto / Cuerpo de mar y satén que por fantasía, amor / Es como me gusta / Y en la voluntad de cambiar un beso la vida sucede / Pero la saudade enciende el deseo que el pecho padece / Es en los rincones de un tiempo pequeño / Donde se sienten el tiempo y la saudade / Y en los recuerdos de un tiempo sereno / El tiempo, amor, calienta el cuerpo de la gente / Traigo en la boca el sabor de este querer amar, amor / Y te veo loco / Te sé de memoria y mejor, sé que a tu mirada, amor / Un beso es poco / Y como pasos de procesión corremos el mundo en un solo corazón / Amores, amores, me despierto y en el fondo, es todo ilusión
Senhor, Não Sei O Meu Nome
Senhor, não sei o meu nome / Não tenho mão na memória / Que
me escapa entre os dedos / Senhor, não sei o meu nome / Perdi toda a minha
história / No mar dos sete segredos / Só sei de mim, que esta mágoa / Esfria as
noites desesperadas / Por de mim nada saber / Carta molhada p'la água / Onde as
palavras molhadas / Não mais se pudessem ler / Senhor, não sei o meu nome / Sou
como um dia cinzento / Ou uma noite apagada / Um amor que me consome / Tomou-me
a vida por dentro / E depois, não sei mais nada
Señor, no sé mi nombre
Señor, no sé mi nombre / No domino la memoria / Que se me escapa entre los dedos / Señor, no sé mi nombre / Perdí toda mi historia / En el mar de los siete secretos / Sólo sé de mí, que esta herida / Enfría las noches desesperadas / Por no saber nada de mí / Carta mojada por el agua / Donde las cartas mojadas / Nunca más se pueden leer / Señor, no sé mi nombre / Soy como un día ceniciento / O una noche apagada / Un amor que me consume / La vida me tomó por dentro / Y después ya no soy nada